• Mundo

    Friday, 03-May-2024 02:37:22 -03

    Após deixar o poder, Cristina Kirchner vê força política e base diminuírem

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    24/04/2016 02h00

    Enquanto milhares de pessoas a apoiam nas ruas, a ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner começa a perder sua base política nos diretórios partidários.

    Neste mês, seus aliados mais próximos ficaram de fora da única chapa formada para as eleições internas do PJ (Partido Justicialista), fundado por Juan Domingo Perón e do qual a ex-mandatária faz parte.

    Marcos Brindicci - 13.abr.2016/Reuters
    A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner discursa na saída de um tribunal de Buenos Aires
    A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner discursa na saída de um tribunal de Buenos Aires

    "Eles [membros do partido] preferiram se afastar porque ela levou o peronismo à derrota [nas eleições presidenciais de 2015]", afirma Sergio Berensztein, da consultoria que leva seu nome.

    Ainda poderá haver mudanças na eleição da diretoria do partido —a Justiça postergou o prazo para a inscrição de chapas para quinta (28). Por enquanto, contudo, não há indícios de que Cristina conseguirá colocar um representante do La Cámpora (movimento político kirchnerista liderado por seu filho, Máximo) na chapa única.

    Há analistas políticos, como o professor Germán Lodola, do departamento de ciência política da Universidade Torcuato di Tella, porém, que dizem que se afastar do peronismo pode ser parte da estratégia de Cristina de formar um movimento independente.

    "Ela não é como Néstor [Kirchner], que tentou se apoderar do peronismo. Ela nunca quis participar dessa disputa interna. Sua ideia era construir algo diferente."

    Na última semana, a ex-dirigente esteve em Buenos Aires, convocada para depor na Justiça sobre a venda de dólares no mercado futuro a um preço inferior ao de mercado.

    Na capital, convocou os prefeitos da região que fazem parte de sua coligação, o FPV (Frente Para a Vitória), e mostrou que ainda tem força entre eles, reunindo 52 de 55.

    Na ocasião, um grupo formado por oito prefeitos pediu para que ela fizesse uma autocrítica pela derrota nas eleições. Os comentários após o encontro foram de que Cristina os ouviu atentamente.

    Essa postura, de abertura ao diálogo, bastante diferente da que exibia enquanto estava na Presidência, surpreendeu os presentes. "Agora ela precisa seduzir para que alguém vá com ela", afirma Sergio Berensztein.

    A ex-mandatária também chamou os senadores da coalizão, mas não conseguiu repetir o êxito: de um total de 42, 22 foram à reunião.

    DIVISÃO

    Antes de voltar a Buenos Aires, Cristina havia permanecido por quatro meses no sul do país, na província de Santa Cruz, tida como o berço do kirchnerismo. Enquanto esteve distante, o FPV ficou sem um líder de peso e acabou se partindo.

    Em fevereiro, 14 deputados nacionais deixaram o bloco e formaram um novo, de "oposição responsável", no qual os políticos dizem estar abertos ao diálogo com o governo de Mauricio Macri.

    O presidente saiu vitorioso e, com o racha, conseguiu votos suficientes para aprovar no Congresso o projeto que permite o pagamento dos fundos abutres, ao qual os kirchneristas se opunham.

    Entre os desertores está Diego Bossio, um deputado que fora muito próximo de Cristina, tendo sido nomeado por ela diretor do órgão que administra a previdência social no país. Os kirchneristas o chamaram de traidor.

    A ex-dirigente, porém, tentou, na semana passada, reduzir as críticas contra os dissidentes, com um discurso pela unificação do partido.

    Alguns políticos, entretanto, não querem conversa. O governador da província de Salta, Juan Manuel Urtubey, é um deles. O peronista já afirmou que a liderança de Cristina acabou e que "há que garantir a renovação da direção [do PJ]".

    Urtubey não esconde que tem intenções de se candidatar, no futuro, à Presidência do país e joga pesado contra Cristina. "Não vejo possibilidade [para que ela seja candidata nas eleições de 2019]", disse à imprensa local.

    *

    PERDA DE FORÇA

    3.fev
    Coalizão Frente para a Vitória, que apoia Cristina, perde 14 deputados federais; posteriormente, outros três se juntam aos dissidentes

    16.mar
    Quatro deputados do Frente para a Vitória votam a favor do pagamento dos fundos abutres (credores que compraram papéis "podres" da dívida argentina e não aceitaram reestruturações nos anos 2000), indo contra a orientação kirchnerista

    31.mar
    No Senado, 26 apoiam o pagamento aos fundos

    6.abr
    Uma única chapa é formada para as eleições internas do partido sem que haja representantes do La Cámpora (organização kirchnerista liderada pelo filho de Cristina, Máximo Kirchner)

    21.abr
    Treze deputados da província de Buenos Aires rompem com a coalização Frente para a Vitória

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024