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    Em discurso sobre política externa, Trump promete ser 'imprevisível'

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    27/04/2016 18h23

    Líder da corrida presidencial republicana e já falando como se fosse o "provável candidato" do partido, o empresário Donald Trump fez nesta quarta (27) seu primeiro discurso sobre política externa, uma área em que ele é constantemente criticado pela suposta falta de conhecimento e seus planos bombásticos.

    Num tom mais sóbrio que o habitual, mas sem deixar de lado o estilo populista, ele delineou uma visão unilateralista do papel dos EUA no mundo, a partir do slogan "América primeiro".

    Jim Bourg/Reuters
    O pré-candidato republicano à Presidência dos EUA Donald Trump discursa em Washington
    O pré-candidato republicano à Presidência dos EUA Donald Trump discursa em Washington

    "É hora de balançar a ferrugem da política externa americana. É hora de convidar novas vozes e novas visões", disse ele. "Minha política externa sempre irá colocar os interesses dos americanos e a segurança dos EUA acima de tudo".

    Segundo a imprensa americana, foi apenas a segunda vez que Trump leu um discurso previamente escrito desde que iniciou sua campanha presidencial, que tem sido marcada pelas falas de improviso e as habilidades de showman do magnata.

    Ele defendeu uma mudança no papel dos EUA na segurança mundial, sem ocupação de países. Cobrou maior participação dos aliados e prometeu melhorar as relações com a Rússia, que são tensas desde a anexação russa da Crimeia, em 2014 território que fazia parte da Ucrânia.

    Não houve menção à América Latina no discurso.

    Jim Bourg/Reuters
    O pré-candidato republicano à Presidência dos EUA Donald Trump discursa em Washington
    O pré-candidato republicano à Presidência dos EUA Donald Trump discursa em Washington

    Reiterando que foi contra a invasão do Iraque em 2003, ele disse que se for eleito presidente os EUA deixarão a política de implantar regimes favoráveis em regiões hostis. Para ele, a instabilidade atual no Oriente Médio se deve às intervenções americanas na região, começando pelo Iraque, até as revoluções árabes de 2011.

    "Tudo começou com a perigosa ideia de que nós podíamos transformar em democracias ocidentais países que não tinham experiência ou interesse em se tornar democracias ocidentais", disse Trump. "No Oriente Médio nossas metas devem ser derrotar os terroristas e promover a estabilidade regional, não uma mudança radical".

    O vácuo criado pelo desmoronamento das instituições no Oriente Médio permitiu o surgimento do grupo terrorista Estado islâmico, além de aumentar o poder do Irã, que ganhou influência no Iraque, disse Trump. O magnata afirmou que derrotar o EI será uma das prioridades se for eleito, mas não quis revelar detalhes de sua estratégia.

    "Tenho uma mensagem simples para eles. Seus dias estão contados. Eu não vou dizer onde e como. Nós precisamos, como nação, ser mais imprevisíveis", disse o empresário, buscando porém um contraste com a linha-dura de seu maior rival republicano, Ted Cruz. "Diferentemente de outros candidatos, à presidência, a agressão estrangeira não será o meu primeiro instinto".

    Como se esperava, Trump fez duras críticas à política externa do presidente Barack Obama e de sua ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, favorita para ser a candidata democrata à Casa Branca. Para o empresário, Obama tornou os EUA mais fracos.

    "Nossa política externa é um desastre total. Nenhuma visão. Nenhum propósito. Nenhuma direção. Nenhuma estratégia", afirmou.

    Entre os analistas políticos, a maioria considerou o discurso pouco útil para esclarecer a doutrina Trump de política externa. Para Fareed Zakaria, da CNN, a incoerência continua dominando suas ideias, que contradizem a experiência dos últimos anos. Um exemplo, disse, é defender a estabilização do Oriente Médio sem apoiar a construção de regimes estáveis.

    John Noonan, que foi assessor de segurança nacional dos ex-presidenciáveis Jeb Bush e Mitt Romney também não viu consistência na doutrina Trump.

    "Trump disse uma coisa que me convenceu. Que ele introduzirá imprevisibilidade na política externa americana", comentou em uma rede social.

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