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    China estende sua "diplomacia dos pandas" à vizinha Coreia do Sul

    JOHANNA NUBLAT
    DE SÃO PAULO

    01/05/2016 02h00

    Criticada pela forma como lida com direitos humanos e pelas aspirações territoriais na região, a China conta com um reforço especial em sua política externa: o panda.

    O alvo mais recente da histeria positiva que envolve a distribuição dos peludos pelo mundo, política conhecida como "diplomacia do panda", foi a Coreia do Sul.

    Há dez dias, o casal Le Bao e Ai Bao foi apresentado ao ansioso público sul coreano, quebrando um hiato de 18 anos sem pandas no país.

    Desde 2012, os adorados animais foram enviados pela China para temporadas na Malásia, França, Cingapura, Bélgica e Canadá —nos dois últimos, recebidos no aeroporto pelos premiês, dando mostras da "pandamania".

    Segundo a agência estatal de notícias Xinhua, o país distribuiu 32 pandas para um grupo de dez países desde os anos 1990. A entrega, porém, não é fácil nem barata: costuma vir em meio a negociações econômicas bilaterais e envolve um tipo de "aluguel".

    Especialistas veem o pacato comedor de bambu como arma de "soft power" chinês.

    "Se entendermos o 'soft power' como forma de ganhar corações e mentes no exterior, o panda é um instrumento perfeito", avalia Falk Hartig, autor do livro "Chinese Public Diplomacy" (Diplomacia Pública da China).

    Hartig destaca o poder que esse animal tem de gerar uma rara onda positiva para a China, geralmente criticada por problemas na área de direitos humanos e ambiental.

    "Quando se trata do panda, a imprensa fica completamente louca", afirmou à Folha. "A China consegue se posicionar como um amigo gentil, generoso o suficiente para dividir seus mais preciosos tesouros nacionais."

    De fato, mesmo dentro da China, o panda é visto como um caro patrimônio. Um censo estimou que, no fim de 2013, existiam 1.864 espécimes do animal na natureza. Em cativeiro, o país tinha 422 bichos em janeiro deste ano.

    EMPRESTADO

    Apesar da festa que costuma ser armada para a chegada de um panda, com concursos para escolha de seus nomes, o animal não é um presente dado pelos chineses. Pelo menos, não mais.

    Como forma de estreitar laços, a China de Mao Zedong (1893-1976) presenteou com pandas, os "embaixadores amigos", a União Soviética, a Coreia do Norte e os EUA.

    Segundo especialistas, porém, a política mudou, e os pandas passaram a ser "alugados" por temporada.

    Depois de críticas de entidades em defesa dos animais, a China adotou um modelo de empréstimo longo dos pandas —10 ou 15 anos. A entrega prevê pagamentos e envolve países com boas relações com os chineses.

    O Zoológico Nacional de Washington afirmou que contribui com US$ 500 mil (cerca de R$ 1,7 milhão) anuais para a China pelo popular casal Mei Xiang e Tian Tian, nos EUA desde 2000. O dinheiro vai para pesquisa, segundo a instituição.

    Já o zoológico de Edimburgo, que recebeu dois pandas em 2011, diz em seu site que paga uma taxa anual de 600 mil libras (R$ 3 milhões) por eles e que também faz investimentos em pesquisas.

    Boa parte dos esforços dos zoológicos em todo o mundo é direcionada para conseguir que os casais cedidos tenham filhotes –que, segundo acordos conhecidos, também são propriedade da China e, um dia, devem ser devolvidos.

    Enquanto isso não acontece, os bebês panda são uma sensação. Notícias detalhadas sobre a gestação de Mei Xiang, em Washington, incluindo imagens de ultrassom, teste de progesterona e, finalmente, em agosto passado, o nascimento de dois pandas puderam ser acompanhadas pelo site do zoológico.

    O bebê que sobreviveu, Bei Bei, é hoje a grande estrela.

    PANDA NO RIO

    A possibilidade da vinda de um casal de pandas para o zoológico do Rio de Janeiro, como homenagem à Olimpíada deste ano na cidade, foi noticiada em 2014. O plano, porém, está suspenso.

    Segundo afirmou a Prefeitura do Rio, o governo da China chegou a fazer uma proposta para doar os animais sem custos para o Brasil.

    "Mas, durante as negociações, o zoológico do Rio iniciou um processo de restruturação para que funcione em regime de concessão", disse a prefeitura em nota. "Uma licitação foi lançada. Como ficará o zoológico caberá ao futuro concessionário."

    A reportagem tentou, sem sucesso, contatar o consulado chinês no Rio. O Itamaraty informou que, nas visitas recentes de autoridades chinesas ao país, não foi citada a doação de pandas.

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