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    Trump prepara plano B e retórica de roubo em caso de convenção disputada

    JULIE BYKOWICZ
    DA ASSOCIATED PRESS
    EM WASHINGTON

    02/05/2016 14h48

    Donald Trump tem um plano B caso enfrente uma convenção disputada, e ele envolve o tipo de organização externa que ele mesmo já definiu como "corrupta".

    Embora o pré-candidato ainda possa garantir a indicação republicana nas cinco semanas que restam de primárias, Trump e seus aliados estão simultaneamente promovendo um esforço paralelo, caso isso se prove insuficiente.

    Grupos externos, entre os quais um liderado por Roger Stone, veterano aliado político de Trump, e uma frouxa coleção de partidários extravagantes, como os "Bikers for Trump" [motoqueiros por Trump], estão se organizando para a convenção que acontecerá em julho em Cleveland.

    Mike Blake - 28 abr. 2016/Reuters
    Apoiadores de Donald Trump durante evento de campanha em Costa Mesa, Califórnia
    Apoiadores de Donald Trump durante evento de campanha em Costa Mesa, Califórnia

    Eles estão buscando doações para bancar transporte e alojamento e já estão tentando influenciar o clima da convenção com uma campanha de mídia social segundo a qual qualquer outro resultado que não a indicação de Trump seria um "roubo".

    "Nosso principal foco agora é Cleveland", disse Stone sobre seu grupo, chamado Stop the Steal [impeça o roubo]. "Queremos levar o maior contingente possível para demonstrar a amplitude do apelo de Trump, para que o partido possa ver explicitamente o que perderão caso roubem a indicação que deveria ser dele".

    O Stop the Steal e outros grupos vêm ganhando força ainda que Trump tenha insistido que não deseja ajuda de doadores à sua campanha, e que não tem compromissos com nenhum grupo. Os comitês de ação política "são um desastre, na verdade", disse Trump em um debate republicano em março. "Muito corruptos".

    O Stop the Steal tecnicamente não é um comitê de ação política, mas opera sob regras semelhantes.

    Na última semana, os advogados de Trump enviaram à Comissão Eleitoral Federal uma carta reiterando a reprovação da campanha a grupos que usam seu "nome, imagem, efígie ou slogans a fim de solicitar doações". Todas as organizações que estão planejando atividades em Cleveland usam repetidamente o nome de Trump em seu material.

    Trump preparou o terreno para aquilo que as organizações externas estão fazendo ao proferir comentários provocadores sobre a forma complexa do processo republicano de seleção de candidato —ele o definiu como "viciado". Os eleitores se manifestam, mas cada Estado tem regras próprias sobre que delegados vão à convenção e como eles devem votar em um indicado a presidência quando chegarem a ela.

    O Stop the Steal e outros grupos pró-Trump difundem a mesma mensagem na mídia social e em sites. "O grande roubo está em curso", afirma uma carta on-line, definindo os delegados desfavoráveis a Trump como "paus mandados".

    A coalizão liderada por Stone que pretende operar em Cleveland inclui organizações como a We Will Walk, Bikers for Trump, Citizens for Trump e Women for Trump. Stone disse que o objetivo era levar milhares de pessoas às ruas para manifestações pacíficas.

    Alan Freed - 24 abr. 2016/Reuters
    Membros do grupo Bikers for Trump participam de evento em Warrendale, na Pensilvânia
    Membros do grupo Bikers for Trump participam de evento em Warrendale, na Pensilvânia

    "Estamos preparados para derrubar o Partido Republicano se eles mexerem com Trump e tentarem lhe tirar a candidatura por meio de truques sujos", disse Paul Nagy, republicano de New Hampshire. Ele comanda o We Will Walk, grupo que recolheu mais de 41 mil assinaturas on-line de pessoas que afirmam que Trump merece a indicação.

    CONTRAPARTIDA ESTRATÉGICA

    A ofensiva de relações públicas é uma contrapartida à estratégia cuidadosamente definida por Ted Cruz, principal rival de Trump à indicação republicana, que recorre a trabalho corpo a corpo para recrutar delegados favoráveis, na esperança de que possa conquistar a indicação caso Trump não a obtenha na primeira rodada de votação.

    Neste final de semana, no Arizona, Cruz conquistou mais uma vitória estratégica sobre Trump, conquistando numerosos delegados amistosos, selecionados para ir a Cleveland, enquanto os partidários de Trump parecem ter sido virtualmente barrados. Os delegados têm a obrigação de votar em Trump na primeira rodada da votação na convenção, porque ele venceu no Estado, mas depois podem mudar seu voto e optar por Cruz.

    Embora Cruz esteja jogando de acordo com as regras do partido, a afirmação de Trump, de que aquilo que seu adversário está fazendo equivale a "roubar", ecoa junto ao eleitorado.

    Na metade de abril, depois que Cruz conquistou todos os delegados do Colorado, a dona de casa Erin Behrens disse que se sentiu enojada com o que estava acontecendo com o seu candidato. Por isso, a Stop the Steal a ajudou a organizar protestos no Estado.

    Stone e um aliado, Greg Lewis, voaram ao Colorado para ajudar Behrens a responder e-mails e organizar um comício. No evento, realizado em 15 de abril em Denver, cerca de 200 manifestantes carregaram faixas e cartazes com dizeres como "Banana Republicans!" e "Impeçam o Roubo".

    Behrens declarou em entrevista na semana passada que vai continuar a organizar os partidários de Trump no Colorado. "Se houver trapaça e eles deixarem claro que Trump não será indicado, o Stop the Steal Cleveland será uma coisa", ela disse. "Mas teremos eventos, protestos, em todo o país. Pode contar com isso".

    ARRECADAÇÃO DE FUNDOS

    Boa parte do que essas organizações externas vêm fazendo agora envolve arrecadação de fundos.

    "A realidade é que precisamos de US$ 262 mil nas duas próximas semanas", afirma o site da Stop the Steal. "Se você não pode ir a Cleveland, por que não ajuda quem pode? Você poderia nos doar US$ 500, US$ 200, até mesmo US$ 100, para esse esforço crucial?"

    Outra organização pró-Trump, o Great America PAC, também está arrecadando dinheiro para um esforço em Cleveland. O presidente da organização é William Doddridge, presidente-executivo da Jewelry Exchange.

    Seus comerciais alertam que "as elites do partido" tentarão tirar a indicação de Trump na convenção e sugerem que as pessoas impeçam que isso aconteça ligando para um número de chamada gratuita e doando dinheiro.

    A organização realmente precisa de ajuda. Seu mais recente relatório de arrecadação de fundos, que cobre o período encerrado em março, mostrou que ela tinha US$ 600 mil em dívidas. O comitê de ação política pode receber doações ilimitadas de empresas, pessoas e sindicatos. Os advogados de Trump solicitaram especificamente que a organização interrompa suas operações.

    O Stop the Steal não é um comitê de ação política, a forma de organização externa que mais atrai a ira de Trump, disse Stone. Mas a distinção é irrelevante.

    O grupo foi constituído como organização política sem fins lucrativos, "tipo 527", e precisa apresentar relatórios periódicos sobre seus doadores e gastos à Receita Federal norte-americana e não à comissão eleitoral. Da mesma forma que um comitê de ação política fiscalizado pela Comissão Eleitoral Federal, um grupo 527 por arrecadar quantias ilimitadas de dinheiro junto a pessoas, empresas e sindicatos.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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