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    Após conflitos com presidente Erdogan, premiê turco anuncia saída

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    05/05/2016 10h01

    O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, anunciou sua renúncia da liderança do partido e, assim, da função de premiê nesta quinta (5), abrindo caminho para que o presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, amplie seu poder.

    "Decidi que, pela unidade do partido, uma mudança na liderança seria o mais apropriado. Não pretendo disputar o congresso do dia 22 de maio", afirmou Davutoglu.

    "Estou dizendo aos membros do nosso partido: até agora, eu liderava vocês; de agora em diante, estarei no meio de vocês."

    Em três semanas, uma convenção de emergência do partido AKP (de Erdogan e Davutoglu) deverá escolher uma nova liderança para a legenda e um novo primeiro-ministro.

    Andrew Burton/AFP
    NEW YORK, NY - SEPTEMBER 30: Ahmet Davutoglu, Prime Minister of Turkey, speaks at the United Nations General Assembly on September 30, 2015 in New York City. World leaders gathered for the 70th session of the annual meeting. Andrew Burton/Getty Images/AFP == FOR NEWSPAPERS, INTERNET, TELCOS & TELEVISION USE ONLY ==
    O premiê turco Ahmet Davutoglu, durante fala nas Nações Unidas, em setembro

    Quando foi eleito presidente do país em 2014, Erdogan escolheu Davutoglu como premiê e líder do partido.

    Era esperado que o novo primeiro-ministro atuasse como um coadjuvante, enquanto Erdogan se dedicava a conferir maiores poderes para o cargo, hoje solene, de presidente na Turquia.

    PRESIDENCIALISMO

    Erdogan pressiona por uma mudança na Constituição para mudar o sistema político turco para o modelo presidencial, escanteando ainda mais a figura do premiê. O mandato de primeiro-ministro na Turquia dura quatro anos e pode ser renovado sem limite de vezes, mas Davutoglu encerra sua passagem pelo cargo com menos de dois anos.

    A renúncia anunciada nesta quinta (5) é consequência das diferenças entre Davutoglu e Erdogan e ocorre após semanas de tensões entre os dois.

    É provável que o sucessor do primeiro-ministro, tido como mais moderado em relação ao presidente, seja mais receptivo à ideia do presidencialismo, uma mudança que pode trazer ainda mais autoritarismo ao país, avaliam críticos de Erdogan.

    Também houve divergência entre os dois políticos do AKP a respeito de conversas de paz com a milícia PKK, em confronto com o governo turco; e sobre prisões de jornalistas e acadêmicos anteriores a julgamentos.

    Há quem fale em novas eleições parlamentares este ano, a terceira no intervalo de menos de 18 meses, que poderiam dar extensa maioria a Erdogan para mexer na Constituição.

    "A Turquia muda como resultado de um modelo de desenvolvimento asiático, com forte controle central da Presidência, e a maioria das decisões sendo tomadas pelo presidente e por um pequeno grupo de conselheiros que não foram eleitos", avalia Timothy Ash, especialista em Turquia e estrategista na consultoria Nomura.

    O anúncio das mudanças no partido vem no dia seguinte à vitória do governo turco, que conseguiu que a Comissão Europeia recomendasse o fim da necessidade de vistos na Europa para viajantes da Turquia.

    De saída, Davutoglu prometeu lealdade a Erdogan.

    "Não tenho censura, raiva ou ressentimento contra ninguém", disse o premiê.

    REPERCUSSÃO
    Os governos dos principais países da Europa não se pronunciaram oficialmente sobre a saída de Davutoglu, mas a imprensa europeia criticou a decisão, considerada mais um passo autoritário de Erdogan. O site da revista alemã "Der Spiegel" fala em "retirada sem razão". O jornal inglês "The Gaurdian" afirma que o presidente turco "reforça seu apego ao poder".

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