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    Crítica

    Livro sobre Israel desmistifica sionismo e suas vertentes

    JAIME SPITZCOVSKY
    COLUNISTA DA FOLHA

    07/05/2016 02h00

    Rico em nuances e próspero em desafios, o debate sobre o conflito israelo-palestino costuma ser sequestrado por um maniqueísmo torpe e empobrecedor. Transforma-se, por mera ignorância e preguiça intelectual ou por uma agenda política estreita, um assunto dos mais intricados num embate entre bons e maus, certos e errados.

    E, quanto mais se aprofundam estereótipos e mitos, mais longínqua fica uma solução para a tragédia.

    No lado israelense, há uma safra de escritores e intelectuais empenhados em alimentar seu comprometimento com o sionismo, movimento pela soberania do povo judeu em sua terra ancestral, sem abrir mão de uma visão crítica do processo de construção do Estado de Israel.

    Hans Pin/Israeli Government Press Office/Reuters
    Em 1947, judeus comemoram resolução da ONU que determina a criação do Estado de Israel
    Em 1947, judeus comemoram resolução da ONU que determina a criação do Estado de Israel

    Amos Oz costuma encabeçar a lista, enrobustecida, nos últimos anos, por um jornalista com crescente visibilidade: Ari Shavit.

    Colaborador do jornal "Haaretz", ele esculpiu uma obra já encaixada no rol de referências para compreender o sionismo e sua história. É "Minha Terra Prometida –o triunfo e a tragédia de Israel", lançado agora em português pelo selo editorial Três Estrelas, do Grupo Folha.

    O livro, uma panorâmica da construção de um país com suas inerentes contradições e desafios, traz relatos e análises valiosos para qualificar um debate tantas vezes castigado pelo reducionismo, preconceito e simplificação.

    Shavit evidencia, com a coragem de tocar em pontos nevrálgicos da história israelense e de costurar uma visão crítica de seu país, uma das questões vitais para explicar o sucesso do empreendimento sionista: a construção de uma sociedade baseada no dogma da necessidade do livre debate democrático e do fluxo caudaloso de ideias.

    Israel demonstra, e o livro de Shavit reafirma, uma inesgotável capacidade de debater e manter vivo um amplo espectro político e ideológico responsável por emprestar ao sionismo diversas interpretações e leituras.

    Já a estratégia de deslegitimação de Israel, implementada pelos adversários da existência de um Estado para o povo judeu, se esforça nas últimas décadas justamente para apresentar uma visão distorcida e ultrapassada do sionismo, rotulando-o como movimento monolítico, de tons coloniais, e chegando ao ridículo de compará-lo ao apartheid que existiu na África do Sul.

    Recentemente, partiu de Brasília, de volta a sua terra natal, o embaixador israelense Reda Mansour. Pertence à minoria drusa.

    Curioso o "apartheid", por exemplo, com representante da minoria árabe na Suprema Corte ou uma ruidosa bancada de deputados não-judeus na Knesset, o parlamento israelense.

    Livros como "Minha Terra Prometida" não escondem os problemas da democracia israelense e carregam a missão de qualificar e aprofundar o debate sobre o tema, na fuga de armadilhas impostas por abordagens esquemáticas.

    Minha Terra Prometida
    Ari Shavit
    l
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    Ao resenhar o livro para o "The New York Times", o jornalista Thomas Friedman sugeriu a leitura a Barack Obama e "Bibi" Netanyahu. Sou menos ambicioso. Já ficarei feliz se a obra de Shavit encontrar eco, por exemplo, em espaços políticos e acadêmicos do Brasil, contaminados ainda por um pensamento preconceituoso e empobrecido sobre o sionismo.

    'MINHA TERRA PROMETIDA'
    AUTOR Ari Shavit
    EDITORA Três Estrelas
    QUANTO R$ 79,90 (496 págs.)
    CLASSIFICAÇÃO ótimo

    Edição impressa

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