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    Incoerências dificultam antever como seria Trump na Presidência dos EUA

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    08/05/2016 02h00

    A possibilidade de Donald Trump chegar à Presidência dos EUA deixou de ser piada, mas suas propostas continuam não sendo levadas a sério por especialistas e rivais.

    Eles apontam as incoerências no discurso que dificultam delinear a plataforma do magnata e dar respostas à questão que se tornou real: como seria um governo Donald Trump?

    Mestre na autopromoção, o bilionário usou a falta de clareza a seu favor, afirmando que uma das marcas de sua Presidência será a capacidade de ser "imprevisível".

    Isso, somado ao vaivém em suas opiniões sobre vários assuntos, do salário mínimo ao aborto, torna as previsões um desafio para a maioria dos analistas.

    "Ele está fazendo uma campanha explicitamente voltada a confundir a todos", por isso é tão difícil "mapear" como seria um governo Trump, disse à Folha Julian Zelizer, professor de história e assuntos públicos da Universidade Princeton.

    "Em algumas áreas, porém, dá para discernir onde ficaria: linha-dura na política migratória, duro com a China –embora não esteja claro o significado prático disso– e com restrições ao livre comércio."

    Trump já foi a favor do direito ao aborto, hoje é contra. Disse que as mulheres que fazem abortos devem ser punidas, depois voltou atrás.

    Na reviravolta mais recente, afirmou que "considerava" um possível aumento do salário mínimo, depois de ter dito num debate republicano que o mínimo, há sete anos parado em US$ 7,25 (R$ 25,40) a hora, é "alto demais".

    PLATAFORMA SUCINTA

    Ao contrário de seus verborrágicos discursos, a plataforma de Trump disponível em sua página oficial na internet é sucinta e se resume a sete temas. Para efeito de comparação, são 31 os da ex-secretária de Estado Hillary Clinton, sua provável adversária democrata na eleição presidencial de novembro.

    Trump mantém na plataforma o jeito superlativo e coloquial dos discursos, como ao defender o direito ao porte de armas apesar do "tremendo" trabalho da polícia.

    "Nossa proteção pessoal em última instância cabe a nós. É por isso que sou dono de uma arma, é por isso que tenho uma licença", diz. "É uma questão de bom senso."

    Em alguns pontos, o Trump da internet é mais moderado que o dos palanques. Por exemplo, não há menção alguma à proposta mais controvertida de seus discursos, a de deportar todos os 11 milhões de imigrantes ilegais.

    Por escrito há mais detalhes do que nos discursos sobre outra promessa polêmica, o muro que ele quer erguer na fronteira do México e mandar a conta para os mexicanos.

    O governo mexicano já disse que não gastará um centavo no projeto, mas Trump sugere duas possibilidades: bloquear parte das remessas dos imigrantes mexicanos, que em 2015 chegaram a US$ 24 milhões (R$ 84 milhões), a menos que os mexicanos paguem os US$ 10 bilhões (R$ 35 bilhões) para o muro.

    Trump promete fazer muito, mas pode esbarrar no Congresso. Os republicanos devem manter o controle de pelo menos uma das Casas e não vão deixar o magnata "ir muito longe", disse à Folha Steve Jarding, especialista em políticas públicas da Universidade Harvard.

    Em outras palavras, a aversão da elite do partido com o bullying político e o estilo centralizador do magnata é tão grande que o movimento "Pare Trump" não recua se ele chegar à Casa Branca.

    Enquanto isso, já são traçados cenários dos primeiros cem dias do bilionário na Presidência.

    Na projeção do "The New York Times", ele escolherá um governador ou membro do Congresso para vice e levará os líderes do partido para comer lagostas e fazer as pazes em seu resort na Flórida.

    Ao fim dos primeiros cem dias, o muro na fronteira com o México estará projetado e o veto à entrada de muçulmanos no país, em vigor. E, no dia da posse, como o próprio Trump antevê, milhares de pessoas estarão protestando em Washington contra ele.

    Autora de um livro que conta a história do Partido Republicano, Heather Cox Richardson, do Boston College, teme que o discurso populista e nacionalista de Trump desperte forças extremistas e atos de violência. "Donald Trump não vai pessoalmente caçar e matar pessoas. Mas certos grupos entre seus simpatizantes, talvez, sim."

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