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    Possível candidato nas presidenciais da França, Juppé aposta em reformas

    ANNE-SYLVANE CHASSANY
    DO "FINANCIAL TIMES", EM PARIS

    12/05/2016 11h00

    A aparência calma e o ar professoral de Alain Juppé fizeram dele o mais popular político da França, com apelo junto a um amplo eleitorado centrista, a um ano de distância da eleição presidencial do país.

    Mas Juppé passará por um teste, agora que o favorito à indicação entre os partidos de centro-direita revelou a pílula amarga que acredita que os franceses precisarão engolir para reanimar a economia do país.

    "Não vai ser rock'n roll", alertou Juppé, 70, a uma plateia de centenas de simpatizantes, nesta terça-feira (10), em Paris. "Vai ser sério. Não vou dar risada, aqui. Espero que vocês tenham paciência comigo."

    As drásticas propostas de Juppé para estimular a segunda maior economia da zona do euro incluem economizar até 100 bilhões de euros em gastos públicos em cinco anos —o dobro da quantia que o atual governo socialista projeta cortar.

    Ele também quer demitir 250 mil funcionários públicos, elevar a idade de aposentadoria de 62 para 65 anos, elevar a jornada semanal de trabalho de 35 horas de volta às 39 horas que vigoravam anteriormente, facilitar demissões e restringir os benefícios aos desempregados.

    Caso se eleja presidente no ano que vem, o ex-primeiro-ministro se posicionaria firmemente do lado das empresas, prometendo cortes nos impostos que incidem sobre elas e os empresários, a fim de estimular contratações e reduzir o desemprego, que está estagnado em 10%.

    Uma de suas propostas é eliminar o imposto sobre a riqueza criado pelo presidente socialista François Mitterrand em 1982.

    "Temos de abolir um imposto que afugenta investidores", disse Juppé. "Eu o farei já em 2018. Teremos muito a explicar, eu sei, porque os franceses tendem a não gostar da ideia".

    DIREITA X ESQUERDA

    A lucidez de Juppé é perfeita, disse Bruno Cautrès, professor da Sciences Po. Mas seu plano pró-negócios e orientado ao mercado provavelmente afastaria alguns dos eleitores de centro-esquerda que foram atraídos por sua postura moderada quanto aos valores sociais e à imigração.

    As propostas não diferem muito das apresentadas por outros pretendentes à indicação da centro-direita, entre os quais Nicolas Sarkozy, ex-presidente francês que comanda o partido Republicanos.

    Os dois advogam o mesmo montante em cortes de gastos. Isso ajudará o presidente François Hollande a unir a esquerda, de acordo com Cautrès.

    "Muitos simpatizantes da centro-esquerda perceberão que Juppé é um homem firmemente de direita quanto o assunto é a Economia", disse Cautrès.

    "Isso prejudicará sua popularidade, daqui por diante. E Hollande poderá dizer ao seu eleitorado que embora eles estejam decepcionados, o país precisa de reformas, e eles preferirão que a esquerda, e não a direita, as conduza, ou serão dolorosas."

    Juppé está prometendo um plano econômico audacioso em um momento no qual as reformas pró-negócios do governo socialista encontram firme oposição nas ruas e no Legislativo.

    A oposição de legisladores de esquerda a um projeto de lei de emprego que flexibilizaria o mercado de trabalho levou o presidente Hollande a adotá-lo por decreto, sem aprovação legislativa.

    Philippe Wojazer/Reuters
    French students stand behind a banner with the message, "Students Against the Labour Law", as part of a nationwide protest against the labour law reform bill in Paris, France, March 9, 2016. REUTERS/Philippe Wojazer ORG XMIT: PHW102
    "Estudantes contra a reforma trabalhista", diz cartaz durante protesto em março, na França

    O partido Republicanos convocou para esta semana um voto de confiança —que o governo deve obter, porque nenhum dos legisladores socialistas rebelados quer correr o risco de perder postos parlamentares caso uma eleição imediata seja convocada.

    Juppé também encontrou notória resistência quando foi primeiro-ministro sob o presidente Jacques Chirac, em 1995. A reforma da previdência que ele propôs deflagrou protestos e greves que paralisaram Paris por um mês. O episódio fez de Juppé o primeiro-ministro mais detestado na história da França.

    "Contemplando seu programa econômico, alguns eleitores podem concluir que ele não mudou, de lá para cá", disse Cautrès.

    Mas o político, que agora tem alto índice de aprovação nas pesquisas enquanto Hollande e Sarkozy afundam, disse acreditar que as França estivesse "madura" para mudar, agora. "É uma questão de método", ele declarou na terça-feira.

    "Primeiro, é preciso dizer a verdade antes [de ser eleito] —e se estamos enfrentando estagnação agora é porque os eleitores de esquerda estão sendo forçados a beber uma poção que não se parece com o elixir mágico que lhes foi prometido", ele disse na terça (10).

    Quando eleito, ele implementaria o programa por decreto, disse Juppé. "Tudo que eu lhes disse se resume a corrigir erros que cometemos no passado."

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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