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    Menores refugiados desacompanhados já são 88 mil na Europa

    JOHANNA NUBLAT
    DE SÃO PAULO

    14/05/2016 18h55

    A pré-adolescente discute com a mãe: não vai entrar no barco sem ela. Depois de meses vivendo uma guerra em seu país, as duas decidem escapar, mas só há recursos para uma fazer a travessia.

    Sem a mãe e com medo, a menina entra no bote. Uma tempestade joga os migrantes ao mar, e a menina amanhece desacordada na praia. A pequena refugiada acaba em um abrigo, desolada.

    Aris Messinis - 16.abr.2016/AFP
    Crianças e adolescentes refugiados esperam em um centro de detenção na ilha de Lesbos, na Grécia
    Crianças e adolescentes refugiados esperam em um centro de detenção na ilha de Lesbos, na Grécia

    O drama, narrado no vídeo publicitário lançado pela entidade Save the Children na semana passada, fantasia sobre uma guerra civil no Reino Unido e o que aconteceria com uma menina britânica refugiada.

    É, porém, inspirado em um drama real: nas histórias dos milhares de crianças e adolescentes migrantes que chegaram à Europa desacompanhados —sem pai, mãe ou guardião.

    Crianças migrantes sozinhas na Europa - Maiores alvos de pedido de asilo por criançase adolescentes desacompanhados

    Eles compõem uma das delicadas faces da crise migratória que atinge a Europa, que viu mais de 1 milhão de pessoas alcançarem o continente em 2015, fugindo de guerras e pobreza extrema.

    Quase um em cada quatro dos menores que pediram asilo na Europa no ano passado estava desacompanhado. Foram mais de 88 mil no bloco europeu —quase sete vezes o registrado no ano de 2013.

    Esse fluxo é tido pelo Unicef (braço da Organização das Nações Unidas para a infância) como sem precedentes na história recente. E preocupante, pelo risco de tráfico, abusos e exploração.

    O perfil dos jovens que pediram asilo na União Europeia em 2015 e estavam sem um dos responsáveis é: meninos (91%), com idades entre 14 e 17 anos (86%) e vindos do Afeganistão (51%) e da Síria (16%), de acordo com dados do bloco europeu.

    A maior parte pediu asilo na Suécia (40%), Alemanha (16%) e na Hungria (10%).

    Apesar de um perfil semelhante, os cenários são os mais diversos. Há crianças que viajam totalmente sozinhas desde o início, outras vão com vizinhos ou primos; parte está fixada em um país, mas outras cruzam várias nações para se unir a parentes, diz Imad Aoun, gerente de comunicação da Save the Children, hoje baseado na Grécia, que recebeu mais de 1 milhão de migrantes desde 2015.

    Aoun afirma que 88 mil é a estimativa mais baixa, já que nem todos pediram asilo ou se identificaram como menores de idade, com receio de serem rejeitados.

    Também é possível, diz ele, que autoridades registrem o adolescente como adulto, o que as desobriga de cobrir as necessidades específicas de crianças e adolescentes.

    Um dos focos dos governos e entidades que trabalham com esse público é, justamente, a educação, diz Aoun.

    "É possível que eles fiquem muito tempo nesses países, pois as fronteiras estão fechadas. É preciso uma adaptação à linguagem e aos costumes para uma boa integração. Em um ano ou dois, eles podem acompanhar o currículo [educacional] nacional", avalia.

    EXPLORAÇÃO

    A situação desses adolescentes fez o Unicef lançar um alerta neste mês: eles estão sumindo dos abrigos e do controle europeu. Segundo a entidade, um em cada nove é tido como desaparecido. Podem ter atravessado uma fronteira sem se identificar, fugido de abrigos ou ainda caído em alguma rede de tráfico.

    "Se estão em centros sem o cuidado adequado ou as informações certas, eles continuam seu caminho sozinhos. Ou ficam expostos a traficantes. Não sabemos. O problema é que ninguém sabe o bastante", diz Sarah Crowe, porta-voz do Unicef para os refugiados e a crise migratória.

    A entidade pediu prazos curtos para o acolhimento pelos países, a indicação imediata de um guardião e uma rápida reunificação familiar.

    É preciso olhar também para crianças que migram com os pais, diz Lilana Keith, da Picum, ONG que trabalha com indocumentados na Europa. "Estar com os pais não as protege das difíceis travessias no mar ou de não ter acesso à saúde."

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