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    Manifestantes anti-Maduro entram em choque com a polícia em Caracas

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    18/05/2016 15h37

    Tensas manifestações opositoras ocorreram nesta quarta-feira (18) em várias cidades da Venezuela para exigir do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) que deixe de criar obstáculos à organização de um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro ainda neste ano.

    A ativação do referendo já foi formalmente iniciada com a coleta de assinaturas de eleitores, mas a oposição acusa autoridades de atrasar o processo. O governo diz que muitas firmas são falsas.

    O terceiro protesto anti-Maduro em uma semana ocorreu em meio a ânimos cada vez mais acirrados devido a um recém implementado estado de exceção com o qual o Executivo pretende blindar-se diante da crise econômica e social.

    Em Caracas, a polícia usou de gás lacrimogêneo para impedir milhares de pessoas de chegarem à sede do CNE, onde a oposição pretendia entregar pedido para acelerar trâmites do referendo. Sete pessoas foram presas.

    Os protestos começaram por volta das 10h locais (11h de Brasília), quando o grupo ultrapassou facilmente o primeiro cordão policial que tentava deter os manifestantes no local de concentração.

    Aos gritos de "e vai cair, e vai cair, este governo vai cair", a marcha fugiu do controle policial e invadiu a autopista Francisco Fajardo, uma das principais vias expressas de Caracas, até ser detida por outro cordão.

    A tensão era palpável. Muitos manifestantes exaltados chamavam ao confronto com policiais, enquanto outros tentavam dialogar com os agentes, que pareciam ter recebido ordens de não usar a força.

    "Vocês também fazem filas e passam fome, vocês sabem que temos razão em querer derrubar este governo", gritava um rapaz na cara dos policiais, muitos dos quais eram jovens funcionários com semblante assustado.

    Esse segundo bloqueio ocorreu ao lado de um conjunto habitacional construídas pelo governo. Simpatizantes chavistas postados na janela insultavam os manifestantes. Um drone do serviço secreto acompanhava a cena.

    A manifestação dispersou-se depois que um dirigente do CNE apareceu para receber, das mãos do governador do Estado de Miranda e ex-candidato à Presidência Henrique Capriles, o pedido da oposição.

    Grupos de manifestantes mais exaltados, porém, prosseguiram com os planos de chegar ao CNE e derrubaram o segundo cordão policial. A polícia disparou gás lacrimogêneo, gerando momentos de pânico.

    O que restou da marcha se dispersou entre várias pequenas ruas, onde houve princípio de confronto com a polícia.

    MAIS POBRES

    Num contraste claro com manifestações opositoras dos últimos anos, cujos participantes eram majoritariamente de classe média, protestos mais recentes têm reunido cada vez moradores de zonas pobres.

    "Não aguento mais, entendeu? Não aguento mais essa situação miserável em que este governo nos colocou. Eu sou de Catia [bairro pobre de Caracas], sou de uma favela, como muita gente aqui, e todos queremos um revogatório já para acabar com esse presidente bandido", dizia, transtornado, o barbeiro Jesus Romero, 45.

    Também morador da periferia, o policial aposentado Freddy Vargas, 50, disse ter votado seis vezes no chavismo até mudar de lado. "Falta comida, faltam remédios, falta segurança, estes desgraçados acabaram com o país", afirmou.

    Também houve tumulto em manifestações no Estado de Táchira (extremo oeste), onde várias pessoas ficaram feridas.

    ASSINATURAS

    No último dia 3, a coalizão opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática) entregou 1,8 milhão de assinaturas ao CNE para iniciar o referendo.

    O número de firmas supera em muito o mínimo de 200 mil assinaturas (equivalente a 1% do número de eleitores registrados no país) exigido pela lei para iniciar a solicitação.

    O CNE disse que encerrará a auditoria no dia 2 de junho, contrariando o prazo de dez dias estipulado pela lei. Uma vez avalizadas as assinaturas, a oposição terá de recolher assinaturas de outros 20% dos eleitores registrados.

    O referendo poderá se dar quando o CNE avalizar esta segunda auditoria. Uma vez organizada a consulta, o "sim" precisaria ser aprovado por quantidade de eleitores maior que os 7,5 milhões de votos obtidos por Maduro.

    Se a destituição ocorrer até o início de 2017, novas eleições acontecem. Se for depois disso, quem assume até o fim do mandato é o vice-presidente.

    Questionado sobre a demora do processo, Maduro disse na terça que o referendo é "uma opção, não uma obrigação" e insistiu em que a oposição não está cumprindo com os devidos requisitos.

    Maduro impôs, na sexta passada, um decreto que renova por mais dois meses o regime de emergência econômica em vigor desde janeiro e impõe um estado de exceção que lhe permite governar por decreto e lhe dá carta branca em matéria de repressão.

    O estado de exceção, adotado sob a justificativa de combate a "ameaças internas e externas", também aumenta poder dos militares no sistema de distribuição de alimentos (área sensível e que movimento muito dinheiro) e dá a organizações de bairro chavistas prerrogativas de atuar como policiais.

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