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    Brasil e Argentina planejam coordenar posições em assuntos estratégicos

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    23/05/2016 21h15 - Atualizado às 21h32

    Com o governo do presidente interino Michel Temer mais alinhado politicamente ao de Mauricio Macri, Brasil e Argentina criaram nesta segunda (23) um "mecanismo de coordenação política" entre os dois países.

    O conselho será comandado pelos secretários-gerais dos Ministérios de Relações Exteriores e deverá coordenar a posição dos países em temas estratégicos, como defesa, comércio, energia, ciência e indústria aeronáutica.

    A medida, anunciada durante visita de José Serra a Buenos Aires, é a primeira a reforçar a parceria com a Argentina como a mais importante na região, uma das dez diretrizes anunciadas pelo chanceler ao assumir o ministério —o país foi o primeiro destino escolhido por ele para visita oficial.

    Argentinian Presidency/Reuters
    Ministro das Relações Exteriores do Brasil, José Serra (esq.), é recebido pelo presidente Mauricio Macri
    Ministro das Relações Exteriores do Brasil, José Serra (esq.), é recebido pelo presidente Mauricio Macri

    O fórum deve se reunir pelo menos duas vezes ao ano, uma delas antes da abertura da sessão anual da Assembleia Geral da ONU, para que os vizinhos cheguem com posições alinhadas ao encontro.

    "Isso vai implicar em reuniões dos ministros para tratar de políticas principalmente no âmbito das Américas, do Mercosul e mesmo na relação [da região] com o resto do mundo", afirmou Serra em visita em Buenos Aires.

    Em entrevista coletiva, Serra voltou a defender uma "política externa sem partidarismo", em alusão ao alinhamento regional mantido sob Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e afirmou que poderia visitar países com governos de esquerda, como Equador e Venezuela.

    NEGÓCIOS COM O VIZINHO - Balança comercial com a Argentina desde 2002

    "Não está programado, mas não excluo a possibilidade. Nós lidamos com países, não com partidos. Outro dia, me ligou o Ernesto Samper [o chefe da Unasul, União das Nações Sul-Americanas, que questionou o processo de impeachment e teve a atitude rechaçada em nota do Itamaraty] e conversamos por telefone."

    Segundo o chanceler, a situação política da Venezuela foi tratada na reunião com sua colega argentina, Susana Malcorra, por ser "um fator relevante para a América Latina hoje". Medidas futuras, como uma suspensão do país do Mercosul, não foram discutidas, disse ele.

    MERCOSUL E COMÉRCIO

    Sobre a flexibilização do Mercosul, Serra disse que a estratégia que defende é criar mecanismos que permitam acordos bilaterais entre um membro do bloco e um terceiro. O modo como isso será feito ainda não foi definido, mas a ideia, afirmou, foi bem recebida pelo governo Macri.

    Atualmente, o bloco precisa fechar acordos de forma monolítica, o que emperra algumas negociações.

    Macri recebeu Serra na Casa Rosada. A reunião foi tratada como "visita de cortesia". Em janeiro, quando o então chanceler, Mauro Vieira, esteve em Buenos Aires, o presidente o recebeu.

    O governo Macri reconheceu rapidamente Michel Temer como presidente, mas seu governo tomou alguns cuidados na visita de Serra.

    Quebrando um costume instaurado em dezembro do ano passado, quando Macri assumiu, não houve entrevista coletiva da chanceler argentina com o visitante.

    Malcorra falou com jornalistas na Casa Rosada, após a reunião, para tratar de sua candidatura à chefia da ONU. Questionada sobre a visita do brasileiro, disse que "há um novo chanceler e sem dúvida é preciso trabalhar com ele."

    ministra argentina

    A entrevista de Serra foi concedida na casa do embaixador Everton Vieira Vargas sob o som de apitos de manifestantes do lado de fora.

    Desde que chegou na Argentina, na noite de domingo (22), até deixar o país, na noite de segunda, o chanceler foi acompanhado por dezenas brasileiros contrários ao governo de Michel Temer e alguns argentinos que integram movimentos kirchneristas como o La Campora.

    Para entrar e sair da sede da chancelaria argentina, usou portas laterais e despistou manifestantes com carros saindo por diferentes portões.

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