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    Com campanha contra Venezuela, chefe da OEA volta à mira de Maduro

    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    01/06/2016 21h48

    Ao propor a aplicação da Carta Democrática Interamericana contra a Venezuela na última terça-feira (31), o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luís Almagro, voltou à mira do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e de seus aliados na região.

    Maduro mandou o uruguaio enfiar a carta "onde caiba", o equatoriano Rafael Correa disse que Almagro está "bastante perdido" e o boliviano Evo Morales afirmou que ele está sendo "instrumento do intervencionismo".

    Ronaldo Schemidt/AFP
    Apoiadores do presidente Nicolás Maduro levam foto de Luis Almagro rasurada a protesto em Caracas
    Apoiadores do presidente Nicolás Maduro levam foto de Luis Almagro rasurada a protesto em Caracas

    Em Caracas, apoiadores de Maduro saíram às ruas para protestar contra a medida do chefe da OEA, que pode levar à suspensão do país do bloco.

    A Venezuela já havia sido motivo, no fim de 2015, do rompimento entre Almagro, 53, e o ex-presidente uruguaio, José Mujica, de quem foi um chanceler muito próximo entre 2010 e 2015.

    Em novembro, Mujica escreveu uma carta a seu ex-ministro —pelo qual havia feito intensa campanha meses antes por sua eleição na OEA lamentando o "rumo irreversível" tomado por Almagro em relação a Caracas e lhe dizendo "adeus formalmente".

    A mensagem foi uma resposta às duras críticas de Almagro ao governo venezuelano, que não permitiu o envio de uma missão da OEA para acompanhar as eleições parlamentares de dezembro.

    Durante o governo Mujica, Almagro manteve proximidade a seus homólogos venezuelanos —entre eles, Maduro, que foi chanceler de Hugo Chávez (2006-2013). Em sua conta no Twitter chegou a publicar fotos com Maduro já presidente —a última durante a Cúpula das Américas no Panamá, em abril de 2015.

    Em pelo menos uma ocasião, porém, o uruguaio que aos 35 anos se aproximou do MPP (Movimento de Participação Popular, originado a partir do movimento guerrilheiro Tupamaro) demonstrou incômodo com a posição de Mujica sobre Caracas.

    Em julho de 2012, Almagro, que era contrário ao ingresso da Venezuela no Mercosul enquanto o Paraguai estava suspenso, abandonou a sessão em Mendoza (Argentina) onde foi lido o documento oficializando a entrada.

    Na época, Mujica deu declarações de que era ele e não o seu chanceler o responsável pelo ingresso de Caracas.

    O clima entre Maduro e Almagro já havia piorado em abril deste ano, quando o uruguaio aceitou analisar o pedido de opositores venezuelanos para que invocasse a Carta Democrática.

    Houve discussão nas redes sociais, com Maduro acusando Almagro de ser agente da CIA (agência de inteligência americana) e este chamando o venezuelano de "ditadorzinho".

    Para o deputado uruguaio Daniel Placeres, da Frente Ampla —bloco pelo qual Almagro foi eleito senador em 2014—, o secretário-geral "passou a representar o plano hegemônico do império".

    "A posição de Almagro é muito pessoal. Seu rumo é equivocado e suas atitudes atualmente não nos representam", disse Placeres à Folha.

    Antes de se tornar chanceler, Almagro, que é advogado e diplomata de carreira, foi embaixador do país na China (2007-2010) e trabalhou nas representações uruguaias na Alemanha e no Irã.

    DEBATE NA OEA

    Em sessão extraordinária do Conselho Permanente da OEA nesta quarta (1º), os países-membros discutiram uma proposta argentina de diálogo envolvendo governo, oposição e a organização.

    Pelo menos 14 países, entre eles Brasil e EUA, apoiavam a sugestão de Buenos Aires.

    Caracas, porém, pediu que fosse debatida a sua proposta de declaração, que rechaça "qualquer tentativa de alteração da ordem constitucional" no país. Até o momento, nenhuma decisão havia sido anunciada.

    Almagro propôs que uma sessão de emergência do Conselho Permanente seja feita entre 10 e 20 de junho para discutir se houve ruptura democrática na Venezuela.

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