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    Deputados alemães aprovam resolução sobre o genocídio armênio

    DA AFP

    02/06/2016 09h32

    Os deputados alemães aprovaram nesta quinta-feira (2), por ampla maioria, uma resolução que reconhece o massacre de armênios pelas forças otomanas na 1ª Guerra Mundial como um genocídio, um texto criticado pela Turquia, aliada chave sobretudo na questão da crise migratória na Europa.

    O texto, com o título "Lembrança e recordação do genocídio dos armênios e de outras minorias cristãs há 101 anos", foi aprovado por quase todos os deputados presentes no Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento alemão. Apenas um deputado votou contra e outro optou pela abstenção.

    No início dos debates, Norbert Lammert, presidente do Bundestag, destacou que a assembleia não é um tribunal nem uma comissão de historiadores, mas servia para que os deputados alemãs assumissem suas responsabilidades a respeito da resolução.

    Lambert lamentou as "muitas ameaças, inclusive de morte", contra alguns deputados, sobretudo os de origem turca. Estas ameaças são "inaceitáveis" e "não nos deixaremos intimidar", disse.

    Muitos deputados destacaram que a resolução não era algo contra as atuais autoridades turcas, e sim contra o governo da época, responsável pelas mortes em 1915.

    Logo após a votação, o ministro das Relações Exteriores da Armênia, Edward Nalbandian, elogiou em um comunicado a "contribuição notável da Alemanha ao reconhecimento e condenação internacional do genocídio armênio, assim como à luta universal para evitar genocídios e crimes contra a humanidade".

    A resolução, no entanto, não envolve o governo da chanceler Angela Merkel.

    Já o governo turco chamou de "nula e sem efeito", além de "erro histórico", a votação do Parlamento alemão.

    "O reconhecimento pelo Parlamento alemão de alegações 'distorcidas e infundadas' como 'genocídio' é um erro histórico", escreveu o vice-premier e porta-voz do governo, Numan Kurtulmus, no Twitter. Ele também chamou a resolução de "nula e sem efeito".

    Kurtulmus afirmou que a adoção do texto "não é digna das relações de amizade" estabelecidas entre os dois países. E destacou que a Turquia vai responder da maneira adequada, sem revelar detalhes.

    Pouco antes da votação, o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, advertiu que a iniciativa do Bundestag representava um teste para a amizade entre Berlim e Ancara.

    No texto, apresentado pelas bancadas parlamentares da maioria —os conservadores da CDU/CSU e o SPD— e pelos Verdes (oposição), o Bundestag "deplora os atos cometidos pelo governo dos Jovens Turcos da época, que levaram ao extermínio quase total dos armênios".

    O Bundestag também lamenta "o papel deplorável do Reich alemão que, como principal aliado militar do império otomano (...), não atuou para acabar com este crime contra a humanidade".

    A adoção do texto vai complicar ainda mais as relações, já tensas, entre Ancara e Berlim, por conta da aplicação de um polêmico acordo com a União Europeia, estimulado por Berlim, que contribuiu para reduzir drasticamente o fluxo de migrantes para a Europa.

    O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaça não aplicar o acordo se não conseguir a isenção de vistos para os cidadãos turcos que desejam viajar ao espaço europeu de Schengen.

    Após a votação desta quinta (2), Ancara chamou de volta seu embaixador na Alemanha para consultas —um ato diplomático que demonstra descontentamento da Turquia.

    Erdogan afirmou, em uma entrevista transmitida pela TV turca, que a resolução adotada pelos alemães vai impactar seriamente a relação entre os dois países e que, após a volta do embaixador, seu governo discutiria a resposta que será dada.

    AFP
    A handout picture taken and provided by the Turkish Prime Minister Press Office on March 18, 2016 shows Turkish President Recep Tayyip Erdogan attending the 101st anniversary of Battle of Canakkale at Canakkale 18 March stadium. Erdogan called on March 18 on European countries to stop supporting the outlawed Kurdistan Workers' Party (PKK), days after a bombing claimed by Kurdish rebels killed 35 people in Ankara. / AFP PHOTO / TURKISH PRESIDENCY PRESS OFFICE / KAYHAN OZER / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO /TURKISH PRIME MINISTER OFFICE/ KAYHAN OZER- NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS ORG XMIT: 5555
    Presidente Recep Tayyip Erdogan durante evento em um estádio em Canakkale, na Turquia, em março

    1,5 MILHÃO DE MORTOS

    O presidente armênio, Serge Sarkissian, advertiu que não seria justo não chamar de genocídio o massacre de armênios "apenas porque irrita o chefe de Estado de outro país", em referência ao presidente turco.

    A resolução do Bundestag é uma nova etapa no reconhecimento oficial da Alemanha do genocídio, depois que no ano passado o presidente alemão, Joachim Gauck, utilizou, pela primeira vez, o termo "genocídio" para classificar os massacres cometidos contra os armênios em 1915.

    Os armênios consideram que 1,5 milhão de pessoas foram assassinadas de maneira sistemática no final do império otomano.

    Muitos historiadores e mais de 20 países, entre eles França, Itália e Rússia, reconhecem o genocídio dos armênios.

    A Turquia afirma que o que aconteceu foi uma guerra civil, ao que se adicionou a fome, na qual morreram de 300 mil a 500 mil armênios e outros tantos turcos quando as forças otomanas e a Rússia disputavam o controle de Anatolia.

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