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    Militares e chavistas enfrentam grupo que protestava por comida em Caracas

    DE SÃO PAULO
    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    02/06/2016 20h14

    Forças de segurança e grupos armados ligados ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, entraram em confronto nesta quinta-feira (2) com centenas de pessoas que protestavam em Caracas contra a escassez de comida.

    Este foi o maior protesto contra o desabastecimento na capital sem participação direta da oposição a Maduro. Além dos manifestantes, as forças ligadas ao chavismo agrediram 14 jornalistas que acompanhavam o ato.

    A manifestação começou às 11h (12h em Brasília) em frente a um supermercado na região central da cidade. Na loja, um grupo formava filas desde a madrugada em busca de alimentos básicos, como arroz e farinha de milho.

    Segundo moradores, a Polícia Nacional havia avisado na quarta (1º) que chegaria uma carga de mantimentos ao local. O carregamento, porém, não foi comercializado, o que levou à indignação dos que esperavam por horas.

    "Estão nos matando de fome. Nossos filhos a esta hora ainda não comeram. Quero que alguém do governo apareça e nos diga por que não tem comida", disse o padeiro Wilfredo Martínez, 40, à agência de notícias Associated Press.

    Os manifestantes fecharam na avenida Fuerzas Armadas, a 3 km do Palácio de Miraflores, sede do governo. A maioria gritava "Queremos comida", frase frequente nos atos contra o desabastecimento, e "Este governo tem que cair".

    Minutos depois, membros da Guarda Nacional Bolivariana começaram a atirar gás lacrimogêneo e agredir fisicamente alguns dos manifestantes. Pelo menos seis manifestantes foram presos pelas forças de segurança.

    Além das tropas, apareceram também membros de "coletivos", grupos armados ligados ao chavismo. Os paramilitares agrediram e gritaram contra os manifestantes, dizendo que eles não tinham o direito de ocupar as ruas.

    Para evitar que se registrassem vestígios da violência, os "coletivos" foram responsáveis pela maioria de ataques aos jornalistas. Além de bater nos profissionais, fizeram ameaças de morte e roubaram os equipamentos.

    O caso mais grave foi do site opositor VivoPlay. Uma repórter, um cinegrafista e o motorista deles foram obrigados a saírem do carro e, sob a mira de armas, tiveram que entregar todas as câmeras e registros de imagem.

    Também foram alvos repórteres dos jornais "El Universal" e "La Voz" e dos sites Caraota Digital e La Patilla. No caso do jornal "El Nacional" e do canal NTN24, policiais roubaram documentos e os obrigaram a apagar suas fotos.

    Depois das condenações do Sindicato Nacional de Trabalhadores de Imprensa (SNTP) e da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), o Ministério Público abriu investigação para encontrar responsáveis pelas agressões.

    Crise Venezuela

    PROXIMIDADE

    Nas últimas semanas, a quebra da promessa da chegada de produtos pelo governo provocou protestos em diversas cidades do país. Esta é a primeira vez, no entanto, que eles chegam tão perto da sede da Presidência.

    Outro fator que deve preocupar Maduro é que o ato ocorreu em Libertador, que é um dos redutos chavistas de Caracas. O prefeito do distrito, Jorge Rodríguez, culpou contrabandistas e a esquerda radical pelos protestos.

    "Em algumas lojas dedicadas a outras coisas eles vendem produtos que são subsidiados pelo governo revolucionário. Eles fazem isso para provocar tumulto", disse, prometendo entregar comida por programas subsidiados.

    Para o líder opositor, Henrique Capriles, a manifestação é um exemplo da gravidade da crise. "Cada dia o povo está chegando mais perto do palácio presidencial. Daqui a pouco vão estar na sua porta, Maduro", disse no Twitter.

    A manifestação ocorre dois dias depois de a OEA (Organização dos Estados Americanos) propor invocar a Carta Democrática contra a Venezuela devido à crise financeira e política no país.

    Nesta quinta, o Conselho Nacional Eleitoral cancelou uma reunião com os opositores sobre o prosseguimento da ação pelo referendo para revogar o mandato de Maduro, um novo adiamento ao processo.

    O advogado de defesa do opositor preso Leopoldo López, Juan Carlos Gutiérrez, disse que a Justiça aceitou um recurso apresentado por ele para revisar a condenação do político a 13 anos e 9 meses de prisão por incitação à violência.

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