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    Em relatório, Macri apresenta conta herdada de Cristina Kirchner

    DIEGO ZERBATO
    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO
    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    03/06/2016 21h43

    Como havia prometido há três meses em discurso ao Congresso argentino, o presidente Mauricio Macri apresentou nesta sexta (3) um relatório com um diagnóstico detalhado sobre a situação deixada por Cristina Kirchner em áreas como saúde, educação, economia e segurança.

    Até a conclusão desta edição, a a ex-presidente Cristina Kirchner não havia comentado o documento.

    Daniel Dabove - 30.abr.2016/Xinhua
    O presidente da Argentina, Mauricio Macri, discursa nas comemorações pelo Dia do Exército no país
    O presidente da Argentina, Mauricio Macri, discursa nas comemorações pelo Dia do Exército no país

    Entre os dados apresentados estão as alegações de que 400 mil pessoas que já morreram ainda recebiam por serviços de saúde e de que, só em 2015, mais de 13,5 bilhões de pesos (R$ 3,4 bilhões) destinados à habitação teriam sido usados em "questões que não têm nada a ver" com construir casas.

    "Em dezembro de 2015, o Estado argentino tinha pouca capacidade para atender suas obrigações, governado pela inércia, pela indiferença e pela corrupção do que pelo espírito de reforma, o profissionalismo e o serviço público", diz a introdução.

    O diagnóstico diz tomar como base relatórios feitos por ministérios e outros organismos estatais já sob sua gestão, a partir de documentos de 2015 (ele tomou posse em dezembro). Segundo o atual governo, o texto ainda está incompleto e deverá ser alimentado ao longo deste ano.

    Os dados compilados mostram ainda que 60% das famílias que já moravam em residências obtidas por meio de programas sociais não tinham título de propriedade.

    Na área de Educação, o governo mantinha, no fim de 2015, dívida de 3 bilhões de pesos (R$ 765 milhões) com as universidades públicas, alega o relatório.

    Na economia, a atual gestão critica a concessão de subsídios, cujo custo no ano passado teria sido 120 vezes maior que em 2008, e as restrições ao câmbio, que prejudicaram a agricultura e o comércio exterior.

    Como resultado, o país teve dificuldades para gerar empregos, fazendo com que 51% da população economicamente ativa esteja fora do mercado formal. Ao mesmo tempo, o número de servidores públicos cresceu 64%.

    Além do montante de dívidas e do gasto público com servidores, o relatório descreve gastos com publicidade oficial que chegaram a 2,2 bilhões (R$ 561 milhões), mais que o dobro do que foi aprovado pelo Congresso.

    Com a Aerolíneas Argentinas, estatizada em 2008 por Cristina Kirchner e envolta em acusações de corrupção, o gasto teria sido de quase 30 bilhões de pesos (cerca de R$ 7,7 bilhões) entre 2008 e 2015.

    A falta de dados dificultou as atividades dos novos ministérios. O governo diz que foi obrigado a fazer manualmente as transações de importação por três semanas porque todo o sistema antigo e suas informações foram apagados.

    Prestes a completar seis meses na Presidência, Mauricio Macri não abandonou por nenhum dia o discurso de que as dificuldades do governo são decorrentes da "herança kirchnerista", como batizou os desequilíbrios socioeconômicos deixados pela antecessora.

    O documento publicado na sexta reforça essa estratégia, que, segundo o analista político Jorge Giacobbe, da Giacobbe & Asociados, fortalece o mandatário. "Tudo que Mauricio fale que mostre os problemas deixados o sustenta", disse à Folha.

    De acordo com Giacobbe, o apoio que o governo tem é mais de uma parte da população que desaprova Cristina do que por uma que admire Macri. "Nossas medições indicam que Mauricio conserva uma imagem positiva principalmente porque derrotou o kirchnerismo."

    Hoje, 57% dos argentinos aprovam o presidente, segundo pesquisa da Giacobbe. No fim do ano passado, eram 62%.

    Já o kirchnerismo tem o apoio de 25%. Em novembro, porém, o candidato de Cristina, Daniel Scioli, teve 49% dos votos. "O que aconteceu é que parte do peronismo também abandonou Cristina desde então."

    USO POLÍTICO

    No relatório, o governo Macri descreve o Estado governado pelo casal Kirchner (2003-15) como "desorientado", acusando-os de governar com base em critérios políticos, "como sustentação para a militância política".

    "As instituições da República, em vez de controlar a gestão e evitar a corrupção, eram usadas às vezes como instrumento de luta política e foram desmontadas quando se tornaram ameaça".

    Como exemplo citam a indicação de 41 torcedores organizados para uma autarquia do Ministério do Planejamento sem função clara e a prioridade nos créditos agrícolas e de pequenas empresas para aliados.

    A ideologia também apareceu nos contatos internacionais. A Fábrica Militar de Munições produziu lançadores de foguetes para a Venezuela sem Caracas pagar a encomenda, diz o relatório.

    Segundo o governo, ainda, a Chancelaria impedia registro físico ou eletrônico das diretrizes da relação com os EUA.

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