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    Imagem negativa é maior rival de Hillary em disputa pela Casa Branca

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    05/06/2016 02h00

    Hillary Clinton costuma dizer que não teme uma guerra de lama com Donald Trump num confronto direto pela Presidência dos EUA porque 40 anos na vida pública a tornaram imune a qualquer ataque. Enquanto o provável duelo se aproxima, analistas divergem sobre um aspecto central de sua biografia: qual a origem da histórica percepção negativa de Hillary?

    Mesmo com trunfos consideráveis, como a experiência e o apoio do presidente Barack Obama, e diante de um rival com índices de rejeição ainda maiores, a imagem de mau caráter a persegue. Dois terços do público não consideram Hillary confiável, dizem as pesquisas; "desonesta" é a palavra preferida para descrevê-la.

    Hillary é a maior inimiga de Hillary, diz o analista David Bernstein, do site "Politico". Após superá-la nas pesquisas pela primeira vez, Trump parece ter um claro caminho até a Casa Branca, pavimentado pela rejeição à rival e uma conjunção de fatores favoráveis.

    O quadro se inverteu, lembra Bernstein: enquanto os caciques republicanos começam a se mobilizar em torno de Trump, Hillary não consegue unir os democratas.

    Segundo levantamento do instituto YouGov, só 55% dos simpatizantes de Bernie Sanders, que disputa a candidatura democrata com Hillary, estão dispostos a votar nela.

    HILLARY CLINTON, 68 - DEMOCRATA - 43,8% nas pesquisas

    Alguns vão além. Simpatizante do movimento "Nunca Hillary", a antropóloga Adrienne Pine, da American University, está "aterrorizada" com a possibilidade de Trump chegar à Presidência, mas o considera um mal menor.

    "As prioridades dela estão alinhadas com a elite branca dos EUA e não com as pessoas que ela apoia só nos discursos, como mulheres, pobres e a comunidade LGBT. Suas ações no passado contradizem o que fala", disse à Folha, citando como exemplo o casamento gay. "Era contra e só o apoiou quando isso se tornou popular."

    A antropóloga também acha que Hillary na Presidência é prenúncio de uma política externa intervencionista na América Latina. Pine é particularmente crítica ao apoio de Hillary ao golpe que em 2009 derrubou o presidente eleito de Honduras, Manuel Zelaya. "Ela ajudou a delinear o modelo de golpe parlamentar que depois seria usado no Paraguai, em 2012, e agora no Brasil", disse.

    E-MAILS POLÊMICOS

    Um tropeço mais conhecido em política externa, e que hoje Hillary admite ter sido um erro, foi seu apoio à invasão do Iraque. Após 14 anos e 250 mil mortos, o voto favorável à guerra é hoje lembrado por Sanders como um exemplo de que não basta ter experiência, é preciso saber tomar a decisão certa.

    Um erro mais recente admitido por Hillary ainda promete lhe dar muitas dores de cabeça nessa campanha, quando ela for confirmada como a candidata democrata. O uso de um servidor privado para enviar mensagens oficiais quando era chanceler virou alvo de investigação do FBI e de duras críticas de uma auditoria autônoma do governo. O desvio serve de munição para os ataques de Trump e potencializa o apelido que tem usado para descrevê-la: "Hillary trapaceira".

    David Brooks, colunista do "New York Times", arrisca que a impopularidade de Hillary não é fruto de seu caráter duvidoso, mas da sisudez. "Alguém sabe o que ela faz para se divertir?", indaga, sugerindo que o foco excessivo em trabalho não ajuda a atrair simpatia. "Para quem vê de fora é difícil ver uma pessoa. Ela é um cargo."

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