• Mundo

    Wednesday, 01-May-2024 11:19:26 -03

    Cidade de Porto, em Portugal, se revitaliza como polo tecnológico

    GIULIANA MIRANDA
    ENVIADA ESPECIAL AO PORTO

    05/06/2016 02h16

    Maior economia do norte de Portugal e com longa tradição de prosperidade industrial e financeira, a cidade do Porto precisou lidar com o empobrecimento e a degradação provocados pelas sucessivas crises e pelo fechamento de grandes fábricas.

    Com uma combinação de políticas públicas e investimento privado, a cidade está se reinventando como um importante polo tecnológico na Europa e assiste a uma acelerada renovação de seu espaço urbano.

    Giuliana Miranda /Folhapress
    Bonde circula por região que será revitalizada na cidade do Porto em Portugal
    Bonde circula por região que será revitalizada na cidade do Porto em Portugal

    O Porto tem apostado na recuperação de prédios abandonados e de grandes áreas industriais devolutas. Esses espaços, antes ociosos e degradados, têm sido transformados em moradias populares e espaços de criação de tecnologia e serviços.

    "O poder público não pode fazer tudo. Então nós queremos criar as condições ideais para que as empresas possam se desenvolver. Não podemos ser nós a plantarmos todas as árvores, mas podemos atuar como jardineiros e preparar o terreno", explica Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto (o equivalente ao prefeito da cidade).

    O trabalho de "jardinagem" promovido pela administração do Porto inclui benefícios fiscais, fomento ao desenvolvimento tecnológico e uma forte campanha para promover, para investidores estrangeiros, a cidade como uma espécie de Vale do Silício do sul da Europa.

    As temperaturas amenas, os índices de segurança e a popularidade como destino turístico -a taxa de crescimento de visitantes tem sido de 15% ao ano- também contam a favor do Porto em comparação com outras cidades.

    "Mas Portugal como um todo tem condições muito atraentes. Os custos são mais baixos do que em outros lugares da Europa, há estabilidade política, a população fala muito bem inglês e há facilidade de acesso para qualquer lugar via companhias aéreas, inclusive de baixo custo", avalia João Vasconcelos, secretário de Estado da Indústria de Portugal.

    Vasconcelos ressalta que, em todo o mundo, as empresas de tecnologia são uma importante ferramenta de "revitalização dos centros históricos" e, em Portugal, o movimento não é diferente.

    POLO MULTIÚSO

    Apostando nesse conceito, a cidade do Porto criou um ambicioso projeto para converter o antigo Matadouro Industrial de Campanhã, instalado em uma área de 29 mil m² e abandonado há 20 anos, em um polo multiúso que agrega tecnologia, arte, cultura e formação profissional.

    "É um investimento de 10 milhões de euros [R$ 40 milhões] que será feito pela Câmara. Vamos entregar o espaço completamente reabilitado, mas o acabamento ficará por conta das empresas", explica Moreira.

    As obras estão prestes a começar, e o projeto já tem investidores externos.

    Não por acaso, o governo português escolheu o Porto -e o matadouro municipal- para lançar nesta segunda (6)um programa nacional de incentivo tecnológico.
    Batizada de "Startup Portugal", a iniciativa será um pacote de medidas para incentivar os investimentos e o desenvolvimento tecnológicos em todo o país.

    Embora o governo ainda não confirme, é dado como certa a criação de volumosos incentivos fiscais para quem investir nas start-ups. Além disso, a administração do socialista António Costa deve promover ainda uma mudança no regime de vistos, criando um tipo especial para atrair "cérebros" para esses projetos. A alteração facilitaria a contratação de profissionais brasileiros.

    NO BRASIL

    O presidente da Câmara Municipal do Porto, além de outros políticos e empresários portugueses, desembarcarão nesta semana em São Paulo para participar do evento "Experimenta Portugal 2016", promovido pelo consulado português na capital paulista.

    Haverá uma mesa redonda para discutir o empreendedorismo e as políticas públicas de inovação adotadas em Portugal, bem como possíveis abordagens para o cenário brasileiro.

    Segundo Rui Moreira, embora em escalas bastante diferentes -só o Estado de São Paulo é maior que Portugal inteiro-, há algumas questões semelhantes entre a
    realidade portuguesa e a brasileira.

    Um dos problemas comuns seria a gentrificação -valorização excessiva de imóveis e serviços que empurra a população menos favorecida para áreas periféricas.

    "Há em São Paulo, como há no Rio também. Os ricos viverem próximos ao centro e os pobres viverem afastados é algo terrível para uma cidade, porque as pessoas passam a gastar muito tempo e dinheiro para se locomover. Nós temos de criar maneiras de promover bairros em que as classes coexistam", avalia o administrador municipal.

    Onde fica o Porto

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024