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    Deputados de oposição a Maduro são agredidos após cobrarem referendo

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    09/06/2016 14h45 - Atualizado às 23h50

    Militantes aliados ao governo venezuelano agrediram nesta quinta-feira (9) deputados opositores que protestavam em Caracas diante do prédio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE, órgão eleitoral) para exigir a ativação de um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro ainda neste ano.

    O ataque, visto como uma escalada perigosa na disputa em torno do referendo, acirrou tensões num ambiente já marcado pela proliferação dos saques e manifestações contra a falta de comida em vários setores da capital.

    Juan Barreto/AFP
    Supporters of Venezuelan president Nicolas Maduro hit opposition deputy Julio Borges(C), during a demonstration in front of the National Electoral Council in Caracas on June 9, 2016. / AFP PHOTO / JUAN BARRETO / ALTERNATIVE CROP
    Deputado da oposição Julio Borges é agredido durante protesto nesta quinta-feira (9)

    A agressão ocorreu no fim da manhã, quando os deputados chegaram à porta do CNE. Ao serem hostilizados por chavistas, os parlamentares tentaram se refugiar dentro do prédio, mas policiais os empurraram de volta para a rua, onde ficaram novamente vulneráveis.

    A polícia não impediu as agressões, que também tiveram jornalistas como alvo.

    Um dos mais atingidos foi o deputado Julio Borges, cujo nariz foi fraturado com uma barra de metal. Com o rosto ainda ensanguentado, ele atribuiu o ataque aos "coletivos", civis que atuam como milícias chavistas.

    Simultaneamente ao protesto no CNE, "coletivos" tentaram invadir a Assembleia Nacional, controlada desde janeiro pela oposição.

    O presidente do Parlamento, Henry Ramos Allup, qualificou a situação de "muito grave". Alguns dirigentes chavistas condenaram a violência, mas Maduro culpou "provocadores de direita".

    Em nota, o governo brasileiro manifestou preocupação com o ataque, pediu apuração dos fatos e considerou que as agressões dificultam o diálogo na Venezuela.

    O ato pretendia pressionar o CNE a validar assinaturas recolhidas pela oposição na fase inicial de ativação do referendo e anunciar o cronograma das próximas etapas.

    Por lei, o órgão deveria ter se pronunciado no início de maio, dias depois de receber da oposição aproximadamente 1,8 milhão de assinaturas em favor do referendo.

    Eram necessárias apenas 200 mil (equivalente a 1% do número de eleitores) na etapa preliminar, mas os antichavistas decidiram apresentar um número expressivo de firmas para demonstrar o apoio à ideia de remover Maduro como antídoto à crise.

    O CNE disse que encerraria as verificações em 2 de junho, mas ainda não oficalizou posição sobre o tema. Nesta quinta, um dos cinco reitores do CNE, Luis Emilio Rondón, disse que a validação das assinaturas será formalizada nesta sexta.

    Também será anunciado, segundo Rondón, o período de 20 a 24 de junho para validação das firmas, última etapa antes da fase seguinte, na qual a oposição terá de recolher assinaturas de mais 20% dos eleitores.

    Nicolás Maduro foi eleito em 2013 para um mandato que termina em janeiro de 2019. Caso o referendo aconteça, o "sim" à saída de Maduro precisaria ser aprovado por quantidade de eleitores maior que os 7,5 milhões de votos obtidos por Maduro em 2013.

    A oposição acusa o governo de atrasar o processo para que eventual consulta só ocorra em 2017, quando a retirada de Maduro resultaria na posse do vice, sem necessidade de novas eleições.

    Federico Parra/AFP
    Riot policemen avoid opposition deputy Carlos Paparoni to go into the National Electoral Council in Caracas on June 9, 2016. / AFP PHOTO / FEDERICO PARRA ORG XMIT: FPZ122
    Oposicionista Carlos Paparoni é impedido de entrar no prédio do conselho eleitoral nesta quinta (9)

    FÚRIA POPULAR

    O dia também foi marcado por saques contra mercados, farmácias e padarias. A tensão concentrou-se na favela de Petare, no leste de Caracas, onde polícia e Exército foram chamados para controlar a multidão em fúria.

    A tensão aumentou ao anoitecer. Nas redes sociais, usuários relatavam a presença de veículos blindados em meio a tiroteios e panelaços.

    A ira popular se dirige em grande parte contra a venda de alimentos tabelados de porta em porta que o governo começou a implementar. Críticos dizem que aliados chavistas têm a preferência.

    Um dos principais estrategistas da oposição reconheceu à Folha que o debate do referendo ainda está desconectado da revolta por falta de comida. "Ainda não conseguimos transformar essa raiva em apoio à consulta."

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