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    Medidas do governo fazem Maduro resistir como presidente da Venezuela

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    12/06/2016 02h00

    Ameaçado pela crise econômica e social que está devastando a Venezuela, o chavismo manobra para se manter no poder. Mesmo quebrado, endividado e impopular, o governo de Nicolás Maduro resiste a investidas internas e externas.

    Chavistas perderam o domínio da Assembleia Nacional para a oposição em janeiro, mas ainda controlam três instituições-chave: o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ, corte suprema), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE, órgão eleitoral) e as Forças Armadas.

    Federico Parra/AFP
    Moradora de Caracas grita com policiais em fila para comprar produtos básicos em um supermercado
    Moradora de Caracas grita com policiais em fila para comprar produtos básicos em um supermercado

    "Engana-se quem pensa que o governo está morto. Pelo contrário, ainda detém o monopólio do poder no país", diz um importante estrategista da oposição. "O governo de Cuba esteve em situação muito pior e não caiu."

    No plano interno, Maduro neutralizou a Assembleia graças ao TSJ. Nenhuma lei aprovada pelo Legislativo entrou em vigor —muito menos a que visava desaparelhar a Corte.

    Vetos parlamentares a iniciativas presidenciais, incluindo controversas medidas econômicas, foram contornados graças ao TSJ, que valida tudo do Executivo.

    O governo também se blinda contra um projeto de referendo revogatório para abreviar a presidência de Maduro, eleito em 2013 para um mandato de seis anos. O mecanismo está previsto na Constituição, mas novas eleições só ocorrerão se Maduro for destituído até o fim deste ano. Se isso ocorrer em 2017, o vice-presidente assumiria até o fim do mandato.

    Por isso, o CNE atravanca a ativação do referendo revogatório, que depende de sucessivas coletas e verificações de assinaturas. Protestos pela aceleração dos trâmites foram reprimidos. Na semana passada, um deputado opositor teve o nariz fraturado por militantes chavistas. Ninguém foi preso.

    Apesar de recorrentes relatos de insatisfação nas forças de segurança, o alto comando militar e policial continua aplacando com eficiência protestos e saques contra a falta de alimentos e remédios.

    "Se houver convulsão social, não seria a oposição quem se beneficiaria, pois ela está desorganizada, não tem lideres nem armas. Quem se beneficiaria seriam o Exército e o governo", diz o analista Luis Vicente León.

    Os indicadores econômicos são desastrosos, mas o governo tomou medidas capazes de ao menos atenuar a espiral negativa. O dólar turismo foi desvalorizado em 180% nos últimos dois meses, o que ajuda a diluir dívidas do Estado em bolívares.

    Importações foram cortadas em 50% para economizar dólares, cada vez mais escassos devido à queda do preço do petróleo.

    O governo também flexibilizou preços de alimentos básicos, como a farinha de milho. O vice-presidente para a área econômica, Miguel Pérez Abad, disse que as medidas surtirão efeito no dia a dia da população em seis meses.

    A Venezuela obteve da China empréstimo adicional de US$ 5 bilhões e renegociou velhas dívidas. Somado à venda dos estoques de ouro do Banco Central, isso deverá ajudar a Venezuela a honrar o pagamento de US$ 10 bilhões em títulos da dívida soberana até o fim do ano.

    Maduro reverteu parte da pressão externa graças à vitória diplomática contra o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, que havia endossado pedido da oposição venezuelana para aplicar a Carta Democrática contra a Venezuela e expulsá-la do órgão.

    A iniciativa até agora foi freada pela diplomacia venezuelana, que costurou apoios suficientes para evitar sanções. O assunto voltará a ser debatido em 23 de junho, mas diplomatas veem poucas chances de sanções.

    Críticos dizem, porém, que a situação é tão crítica que as medidas podem permitir ao governo, no máximo, uma sobrevida. Para a socióloga Margarita López Maya, parte do futuro reside na capacidade da oposição. "Se atuarem mal, é possível que ajudem o governo a ressuscitar."

    *

    MEDIDAS DO GOVERNO

    > Vendeu US$ 1,7 bilhões de seu estoque em ouro desde o início de 2016

    > Corte de importações em quase 50% para economizar dólares

    > Renegociação da dívida com a China para obter US$ 5 bilhões adicionais. Total emprestado por Pequim supera US$ 55 bi

    > Desvalorização do dólar turismo em 180% nos últimos dois meses para quitar dívidas

    > Aumento de 1000% do preço de alguns itens tabelados

    > Ofensiva diplomática na busca de votos para impedir aplicação da Carta Democrática da OEA

    > Estado de exceção e emergência econômica em todo o país

    > Veto a lei da Assembleia Nacional para reformar o Tribunal Supremo de Justiça, hoje controlado pelo chavismo

    Preço médio do barril venezuelano, em US$

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