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    Com fadiga, eleição espanhola tem clima de rixa e espetáculo

    FERNANDA GODOY
    DE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

    12/06/2016 02h00

    Contra o tédio da repetição de eleições depois de seis meses, os espanhóis que voltarão às urnas no dia 26 assistem à polarização entre o conservadorismo do PP de Mariano Rajoy (29,2% das intenções de voto) e o populismo de esquerda do Podemos de Pablo Iglesias, que aparece em segundo lugar (25,6%) na pesquisa mais recente, após se aliar à Esquerda Unida.

    A polarização será testada nesta segunda (13), no único debate de uma campanha marcada pela profusão de aparições dos candidatos em variados programas de TV.

    Pau Barrena/AFP
    O líder do Podemos, Pablo Iglesias, que tenta se consolidar como segunda força da política espanhola
    O líder do Podemos, Pablo Iglesias, que tenta se consolidar como segunda força da política espanhola

    Estarão presentes Rajoy, atual primeiro-ministro, Iglesias, e os candidatos do PSOE (social-democrata), Pedro Sánchez, que tem 21,2%, e do Cidadãos (centro-direita), Albert Rivera, com 14,6%.

    Rajoy promete martelar a tecla da insegurança que seria causada por uma guinada radical, enquanto Iglesias pretende vender a esperança de mudança a um país cansado do desemprego e da corrupção, apontados pela população como os dois principais problemas da Espanha.

    Pesquisas apontam o PP na dianteira para a votação - Intenção de voto?(em %)*

    Como foi na eleição de 20 de dezembro (resultado final) -

    Sánchez e Rivera fecharam um pacto centrista após as eleições de 20 de dezembro, mas, sem conseguir agregar novos aliados e nem sequer obter a abstenção do Podemos, fracassaram na tentativa de formar governo.

    O previsível após 26 de junho é que novos pactos tenham de ser feitos, já que nenhum partido deverá alcançar maioria no Congresso, formado por 350 deputados.

    A aliança de esquerda comandada pelo Podemos, um partido criado na esteira do "15-M", movimento dos indignados com a desigualdade social resultante da crise econômica e dos cortes de gastos públicos, tenta desbancar o PSOE do posto de líder da esquerda espanhola.

    Iglesias tenta realizar sua profecia, anunciada em 2015 em artigo para a "The New Left Review", de que o PSOE ficaria preso no dilema entre a submissão (ao Podemos) e o suicídio (ao apoiar um governo do arquirrival PP).

    "Faça o que fizer, o PSOE caiu na armadilha, está numa situação de perda. Após tomar a decisão sobre os pactos, sobretudo se chegar em terceiro lugar na eleição, o que acontecerá será um desastre", diz o cientista político Pablo Simón, do site Politikon.

    Para José Ramón Lorente, diretor do instituto de pesquisas Celeste-Tel, "o eleitorado do PSOE tem o coração dividido". "De 45% a 50% dos eleitores socialistas veriam com bons olhos um governo com Podemos", diz Lorente.

    A outra metade dos eleitores do PSOE rejeita o que vê como radicalidade do partido fundado há dois anos por Iglesias, 37, e um grupo de intelectuais da Universidade Complutense de Madri.

    CAMPANHA

    A repetição de eleições em tão pouco tempo pegou os partidos com pouco dinheiro, e o preço das campanhas teve que ser reduzido, com menos propaganda e um número limitado de comícios.

    Entrevistas nas quais respondem a perguntas sobre preferências sexuais, debates com crianças, programas de variedades onde são convidados a dançar, nada é rejeitado pelos concorrentes ao Palácio de Moncloa, a sede do governo espanhol.

    Iglesias é um "nativo televisivo", um homem cuja persona pública se construiu como debatedor do canal La Sexta, e apresentador do "La Tuerka", canal do Podemos no Youtube, e do programa "Fort Apache".

    "Pablo Iglesias pode se beneficiar do papel mais preponderante que a TV terá nesta eleição. Ele nasceu com a televisão, desenvolveu sua carreira política nesse meio", diz Luis Arroyo, consultor de comunicação política que tem entre seus clientes o PSOE.

    Iglesias já contou, em "Dois dias e uma noite" com Susanna Griso, do canal Antena 3, que sua hora preferida para sexo é a sesta, inclusive estando em campanha.

    Já Albert Rivera, 36, lançou mão do direito à privacidade para não responder a uma pergunta de Griso. Ela queria saber se é verdade que "quanto mais poderoso um homem é, mais submisso é na cama".

    Para a analista política do jornal "El Mundo" Lucía Méndez, "a evolução da política espanhola rumo ao espetáculo televisivo aumentou de forma exponencial" e até "o discreto Rajoy se rendeu ao encanto da telecracia".

    "[O canal] La Sexta começou, e os demais canais se deram conta de que a política era um bom filão, com programas baratos, porque os políticos não são Justin Bieber, não vão cobrar milhões para comparecer", comenta o consultor Luis Arroyo.

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