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    Estado Islâmico usa suposta ligação com atirador como propaganda

    RUKMINI CALLIMACHI
    DO "NEW YORK TIMES"

    13/06/2016 10h50

    Reprodução/MySpace
    Omar Mateen é suspeito de atirar dentro de boate gay em Orlando (Foto: Reprodução/MySpace)
    Omar Mateen é suspeito de atirar dentro de boate gay em Orlando (Foto: Reprodução/MySpace)

    A revelação de que um homem de 29 anos que abriu fogo numa boate gay na madrugada de domingo dedicou o ataque ao Estado Islâmico levou à pergunta já familiar: o assassino realmente agiu por ordem do EI ou ele apenas queria divulgação e a aprovação do grupo para um ato pessoal movido pelo ódio?

    Para os planejadores do terror do Estado Islâmico, a diferença praticamente não vem ao caso.

    Influenciar agressores distantes para que jurem fidelidade ao Estado Islâmico e então cometam massacres tornou-se uma parte fundamental da propaganda do grupo nos últimos dois anos. Trata-se de um esforço intencional de confundir as diferenças entre operações planejadas e levadas a cabo pelos combatentes principais do grupo terrorista e as ações realizadas por seus simpatizantes.

    JURAMENTO DE FIDELIDADE

    O atirador, Omar Mateen , disse a um telefonista da central 911 que estava jurando fidelidade ao Estado Islâmico. Esse juramento é uma parte fundamental do protocolo do EI. O massacre em Orlando foi a terceira vez da qual se tem conhecimento em que o juramento de fidelidade foi evocado nos Estados Unidos.

    Em dezembro, quando um casal de San Bernardino, Califórnia, saiu de casa armado com fuzis, o marido e a mulher fizeram questão de postar seu juramento de fidelidade no Facebook, onde foi encontrado mais tarde pela polícia. E, minutos antes de abrir fogo sobre uma exposição de cartuns com imagens do profeta Maomé, em maio de 2015 no Texas, Elton Simpson transmitiu várias mensagens no Twitter deixando claras suas posições.

    Esse juramento público de fidelidade é praticamente a única exigência que o Estado Islâmico impõe a seguidores que queiram cometer atos de terror em seu nome. Em discurso anual feito no mês passado, o porta-voz do grupo terrorista, Abu Muhammad al-Adnani, incitou seus partidários a lançar ataques no exterior durante o mês sagrado do Ramadan.

    Ele avisou que nenhum ataque é pequeno demais e identificou especificamente os Estados Unidos como alvo. "A menor ação que você fizer no coração da terra deles é mais valiosa para nós que a maior ação empreendida por nós", ele disse, "e mais eficaz e prejudicial a eles."

    INCITAÇÃO AO TERROR

    Já em setembro de 2014 Adnani tinha deixado claro que toda e qualquer pessoa pode e deve cometer atos de terror em nome do grupo. "Não peça a permissão de ninguém", ele disse, sugerindo que os simpatizantes que não conseguissem adquirir armas de fogo usassem pedras, facas ou até carros para matar infiéis.

    Desde então o grupo vem trabalhando arduamente para criar um mecanismo para incitar o terror "in situ". O EI inunda a internet de propaganda sanguinária e emprega um exército de jihadistas digitais para divulgar sua mensagem mortífera no Twitter, Facebook e outras mídias sociais.

    HOMOFOBIA

    No caso de Orlando, há uma ressonância marcante entre a propaganda do Estado Islâmico e o alvo escolhido pelo assassino. O grupo jihadista já divulgou amplamente seu ódio à homossexualidade, tendo difundido imagens de combatentes matando pessoas suspeitas de serem gays, atirando-as do topo de edifícios altos.

    Quando o recruta é capturado ou morto, as autoridades policiais se esforçam para juntar as peças do quebra-cabeça. Mas o fato de frequentemente não existir um vínculo direto com o EI visa justamente proteger a organização, nesta era da vigilância eletrônica.

    "O que o Estado Islâmico fez é muito astuto: criar uma situação em que alguém pode lançar um ataque sem ter vínculos diretos com a organização", comentou Charlie Winter, pesquisador sênior da Iniciativa de Conflito e Violência Intercultural da universidade Georgia State.

    "A pessoa pode jurar fidelidade a Abu Bakr al-Baghdadi antes ou durante o ataque, e isso a impele de ser um ou uma jihadista autodidata para alguém que pode ser enaltecido como soldado do Estado Islâmico e visto como guerreiro."

    No domingo, depois de vir à tona que Mateen tinha evocado o EI, a agência oficial de notícias do grupo divulgou boletim citando "uma fonte" que teria confirmado que Mateen agiu em nome do Estado Islâmico.

    Jihadistas festejaram o ataque na internet. Compartilharam imagens do discurso de Adnani pedindo ataques do tipo "lobo solitário", cometidos por atiradores agindo sozinhos, durante o Ramadan. E, em um ato de homenagem, vários deles mudaram suas fotos de perfil no Twitter para uma foto do atirador de Orlando.

    Tradução de CLARA ALLAIN

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