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    Debate entre candidatos a premiê mantém impasse político na Espanha

    FERNANDA GODOY
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

    14/06/2016 13h25

    O primeiro e único debate entre os quatro principais candidatos a premiê da Espanha terminou na madrugada desta terça (14) deixando no ar muitas dúvidas sobre como se chegará a uma maioria para formar governo.

    O que se viu, ao longo de mais de duas horas de debate sem um claro vencedor, foram declarações que serviram para dinamitar as pontes para futuros acordos. Estas são as segundas eleições em seis meses. Embora os candidatos tenham prometido que se esforçarão para evitar o "terceiro turno", cada um cavou sua trincheira mais fundo.

    Javier Soriano/AFP
    Principais candidatos a premiê da Espanha se reúnem para único debate na TV antes das eleições
    Principais candidatos a premiê da Espanha se reúnem para único debate na TV antes das eleições

    Atual primeiro-ministro, o conservador Mariano Rajoy (PP) insistiu na sua proposta de uma grande coalizão, que incluiria os social-democratas do PSOE.

    "Se possível, com um líder sensato", disse Rajoy, alfinetando o secretário-geral do PSOE, Pedro Sánchez, que lhe havia chamado de "indecente" no debate cara a cara da campanha anterior.

    Sánchez descartou a possibilidade de tal pacto entre rivais, que teria como objetivo deixar longe do poder a aliança de esquerda liderada pelo Podemos, um partido com apenas dois anos de existência.

    "Os espanhóis não merecem que o senhor seja presidente do governo, porque lidera um partido com caixa 2", rebateu o líder do PSOE, referindo-se ao escândalo de financiamento ilegal do PP que ficou conhecido como Caso Bárcenas (de Luis Bárcenas, ex-tesoureiro do PP).

    Albert Rivera, candidato do Cidadãos, outro partido emergente que desafia a hegemonia das formações tradicionais na Espanha, também rejeitou a oferta de Rajoy. Ou, ao menos, indicou que o preço de seu apoio será alto, ao sugerir que Rajoy deveria se afastar do comando do PP, dando passagem a outro líder que não esteja envolvido nos múltiplos escândalos de corrupção que assolam o partido.

    "Vou lhe dar um conselho. Peço-lhe que reflita, senhor Rajoy. Abramos uma nova etapa. O populismo continuará crescendo se não regenerarmos a Espanha", disse Rivera.

    Foi um dos momentos do debate em que ficou mais evidente o contraste de gerações, com o desgastado Rajoy, 61, enfrentando o desafio de candidatos muito mais jovens e sem compromissos com erros anteriores, como Rivera, 36.

    Eloy Alonso/Reuters
    TVs de loja de departamentos exibem debate entre os candidatos a primeiro-ministro da Espanha
    TVs de loja de departamentos exibem debate entre os candidatos a primeiro-ministro da Espanha

    IMPASSE

    A falta de acordo após as eleições de dezembro gerou um impasse que provocou a repetição das eleições, marcadas para o próximo dia 26.

    A Espanha é uma monarquia parlamentarista. Para se eleger, o premiê precisa de maioria absoluta, 176 votos entre os 350 deputados. Em segunda votação, basta maioria simples, o que permite que as abstenções sejam decisivas.

    Segundo as pesquisas, o PP, que ganhou em dezembro mas não teve cadeiras suficientes no Parlamento para governar, continua à frente, com 29,2% das intenções de voto, de acordo com dados do instituto oficial CIS (Centro de Investigação Sociológica).

    A segunda força, com 25,6%, é a coalizão Unidos Podemos, de Pablo Iglesias, que polarizou com Rajoy o debate sobre economia e desemprego, o mais importante para os espanhóis. Rajoy defendeu a recuperação econômica em curso e prometeu a criação de 2 milhões de empregos. A Espanha tem atualmente 4,8 milhões de desempregados, 21% de sua força de trabalho.

    Iglesias negou apoio, em março, a um pacto firmado por PSOE e Cidadãos, mas no debate insistiu em que terá a "mão estendida" ao PSOE independentemente de chegar em segundo ou em terceiro na eleição do dia 26. O PSOE aparece com 21,2% das intenções de voto na pesquisa do CIS, e Cidadãos, com 14,6%.

    TOM CONCILIADOR

    Iglesias adotou um tom conciliador e repetiu diversas vezes o argumento de que o PSOE terá a chave do Palácio da Moncloa nos acordos pós-eleitorais, devendo escolher entre o PP ou o Podemos. Quando Sánchez o atacou, balançou a cabeça negativamente.

    "O senhor se equivoca de adversário. Depois do dia 26, terá novamente que escolher entre o PP e o Podemos", disse Iglesias, que também murmurava "não sou eu o adversário, Pedro", ao receber as críticas.

    A falta de sintonia entre Iglesias e Sánchez ficou tão clara que, no dia seguinte ao debate, os porta-vozes do Podemos passaram a depositar suas esperanças em uma consulta às bases prometida pela cúpula do PSOE.

    O coordenador da campanha de Iglesias, Iñigo Errejón, disse que Sánchez parece estar preso no passado, em março, mês em que fracassou em duas tentativas de se eleger no Parlamento, "e não está sendo capaz de olhar para a frente".

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