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    Temer se reúne com senadores e adia encontro com opositor venezuelano

    DANIELA LIMA
    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    14/06/2016 16h54 - Atualizado às 19h57

    O presidente interino, Michel Temer, se reuniu na noite desta terça-feira (14) com uma comitiva de senadores que estiveram com o líder da oposição na Venezuela, Henrique Capriles.

    Os parlamentares levaram o recado de que o venezuelano espera uma posição mais enfática do Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos) sobre o que consideram violações do regime de Nicolás Maduro naquele país. Eles ainda intermediaram o reagendamento de um encontro entre Temer e Capriles que estava marcado para as 18h desta terça.

    Adriano Machado/Reuters
    O líder opositor venezuelano, Henrique Capriles, é recebido em Brasília pelo chanceler José Serra
    O líder opositor venezuelano, Henrique Capriles, é recebido em Brasília pelo chanceler José Serra

    Por volta das 16h, a reunião foi confirmada à Folha por senadores que fizeram a ponte entre Capriles e Temer. Instantes depois, a própria assessoria do Planalto confirmou que haveria uma reunião entre o venezuelano e o presidente interino, o que acabou não ocorrendo.

    Em nota, a assessoria do senador Aécio Neves (PSDB-MG) informou que, durante o encontro, Temer reiterou que a posição do Brasil, "a partir de agora", será no sentido de defender a democracia e os direitos humanos no país vizinho, bem como a democracia no continente americano.

    Mais cedo, nesta terça (14), em passagem pelo Senado, Capriles, cobrou maior atuação do Brasil em relação à crise política e econômica que se alastra em seu país.

    Ele também pediu que o governo do presidente interino seja solidário ao povo da Venezuela e que defenda internacionalmente "o respeito à Constituição e aos princípios da democracia" na nação vizinha.

    "Está na hora de o governo do Brasil defender os princípios constitucionais, os princípios da democracia, a auto-determinação do nosso povo, respeito à nossa Constituição. [O presidente venezuelano Nicolás] Maduro não pode se colocar acima da Constituição (...) Espero que tenha acabado a indiferença do Brasil. Espero isso, de coração, pelo carinho e respeito que tenho pelo Brasil", disse.

    O político venezuelano se reuniu com senadores do PSDB e do DEM no gabinete do senador Aécio Neves (PSDB-MG) durante a tarde. Após o encontro, foi ao Itamaraty.

    "A situação do meu país é muito crítica. A Venezuela está vivendo uma situação de emergência. Não queremos um golpe de Estado. Queremos uma solução constitucional. Não estamos pedindo que nenhum país interfira em assuntos internos da Venezuela, jamais pediríamos uma ingerência. Mas o Brasil não é qualquer país na América do Sul e no mundo. Queremos respeito à Constituição venezuelana", disse.

    Governador do Estado de Miranda, que abrange parte de Caracas, e duas vezes candidato à Presidência, Capriles busca visibilidade e apoio internacional ao seu projeto de convocar um referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro ainda neste ano.

    Maduro vem usando seu controle sobre as instituições do país, incluindo o Conselho Nacional Eleitoral (órgão eleitoral), para atrasar e dificultar a consulta, cuja ativação depende de coletas de assinaturas e verificações.

    Durante o encontro, Capriles alertou para o risco de o governo de seu país decidir pelo bloqueio do referendo. "Isso é muito perigoso. Se houver uma explosão social na Venezuela, isso terá reflexos no Brasil, em toda a região. É o momento de serem solidários", disse.

    Diante da grave crise econômica e social no país, uma vitória do "sim" à proposta de destituir Maduro é dada como provável.

    Capriles demonstrou expectativa de que o governo do presidente interino, Michel Temer, seja mais simpático à oposição venezuelana do que foi o governo da presidente afastada, Dilma Rousseff.

    Marcos Brindicci/Reuters
    Venezuelan opposition leader and Miranda state governor Henrique Capriles gestures before talking to journalists outside the Casa Rosada Presidential Palace in Buenos Aires, Argentina, June 13, 2016. REUTERS/Marcos Brindicci ORG XMIT: BAS106
    Henrique Capriles pouco antes de falar a jornalistas em Buenos Aires, nesta segunda (13)

    Como tenta se distanciar da diplomacia dos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, Temer fez das críticas à Venezuela e outros países latino-americanos um de seus principais eixos de política externa. O Itamaraty, porém, não se posicionou abertamente em favor do referendo, ao contrário da Colômbia, por exemplo.

    "Cada país tem sua realidade mas, se alguém foi vítima de ingerência, foi este servidor que vos fala. Me incomodou que o ex-presidente Lula se meteu na campanha eleitoral quando eu disputei contra Maduro. Ele gravou um vídeo em que pedia voto para Maduro. Isso é inaceitável", disse.

    Ao final do encontro, Aécio afirmou que pediria a Temer, ainda nesta terça, uma reunião para que o Brasil defenda na Organização Estados Americanos (OEA), na próxima semana, "uma posição diametralmente oposta à omissão criminosa com que o Brasil conduziu sua política externa, sobretudo, em relação à Venezuela nos últimos anos".

    "É claro que as razões para o agravamento da crise na Venezuela são internas, mas a presença, a força e a influência do Brasil poderiam ter minimizado o agravamento da crise da Venezuela se tivesse tido posições corretas, uma postura que não a da omissão e da conivência ao longo dos últimos anos", disse. Ele também defendeu a expulsão do país vizinho do Mercosul.

    "Se mudou o governo do Brasil, é fundamental que mude também a nossa postura em relação aos nossos vizinhos. Vamos estimular Temer e Serra para que posição do Brasil seja em defesa da democracia e de respeito à Constituição da Venezuela", completou.

    Capriles já esteve com o presidente da Argentina, Mauricio Macri, e com o paraguaio Horacio Cartes.

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