• Mundo

    Thursday, 02-May-2024 17:31:27 -03

    eleições nos eua

    Ao completar um ano, campanha de Trump aposta em 'inimigo comum'

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    16/06/2016 02h00

    Donald Trump completa nesta quinta (16) um ano de candidatura à Casa Branca, período em que incorporou uma versão eleitoral de "O Médico e o Monstro", na definição de seus próprios companheiros republicanos.

    Mas, ao contrário do romance de Robert Louis Stevenson, é o lado irascível de Trump que se sobrepôs desde o começo, enquanto líderes do partido torcem para que uma prometida faceta "mais presidenciável" venha à tona.

    Chris Aluka Berry/Reuters
    O virtual candidato presidencial republicano, Donald Trump, faz discurso em Atlanta na quarta-feira (15)
    O virtual candidato presidencial republicano, Donald Trump, faz discurso em Atlanta na quarta-feira (15)

    Após o ataque em uma boate LGBT de Orlando, ele não dá sinais de pretende pôr seu mr. Hyde na coleira. E pode se beneficiar do discurso agressivo, diz à Folha Elizabeth Zechmeister, professora da Universidade Vanderbilt.

    Em janeiro, ela publicou artigo sobre a tendência de o eleitorado preferir homens republicanos quando o terrorismo está nas manchetes. Numa sondagem sobre quem é mais apto a lidar com ameaças afins, 43% optou por esse perfil, e só 6% escolheu uma mulher democrata.

    Ainda que Hillary Clinton, a virtual oponente da legenda adversária, ganhe pontos por ter sido secretária de Estado, o magnata tenta compensar a inexperiência política forjando um "inimigo comum" para a América.

    "Aceito os parabéns por estar certo sobre o islã radical", tuitou horas depois da chacina cometida por um filho de afegãos nascido no Queens, em Nova York, onde também Trump foi criado.

    Coautora do estudo, Jennifer Merolla salienta que "o terrorismo é o feijão com arroz de Trump", que acredita "ter tirado proveito do tema após os ataques em Paris e San Bernardino.

    De fato: ideias como um registro nacional de muçulmanos e o veto à entrada de imigrantes dessa religião nos EUA, inclusive refugiados de guerra, surgiram na esteira desses atentados, entre novembro e dezembro.

    Numa média de pesquisas feita pelo site do estatístico Nate Silver, nesse período, Trump saltou de 28% para 35% na predileção dos eleitores republicanos. Na época, ele disputava com 16 rivais a indicação do partido.

    Ainda é cedo para saber se Orlando terá grande influência em novembro, quando os americanos escolherem o sucessor de Barack Obama. Colunista do "Financial Times", Gideon Rachman afirma que Trump é o "candidato do medo e da raiva, emoções em ascensão com o massacre no clube Pulse".

    Em pesquisa da Bloomberg feita entre 10 e 13/6, Hillary abre 12 pontos de vantagem sobre ele na eleição geral, mas 45% dos eleitores têm mais confiança no magnata para enfrentar situações como a de Orlando, contra 41% que a preferem.

    Para Stephen Farnsworth, da Universidade Mary Washington, daqui a cinco meses "a maioria dos votantes vai estar mais preocupada com a economia", a não ser que haja "uma série de atentados até lá, padrão que ajudaria Trump".

    Merolla lembra que os "o número de episódios terroristas nesta temporada eleitoral é sem precedentes".

    O republicano aposta que eles se repetirão "de novo e de novo", como previu na quarta (15), ao evocar alguns deles, como o da Bélgica (país que chamou de "linda cidade"), em março.

    A solução? Armar-se. Se Hillary defende um maior controle sobre elas, Trump sugeriu que o desfecho em Orlando seria outro "se algumas daquelas pessoas tivessem armas na cintura".

    Ele se encontrará com a Associação Nacional do Rifle, maior lobby do setor nos EUA e um dos primeiros apoios de peso que recebeu na campanha.

    ERA UMA VEZ

    Em 16 de junho de 2015, Trump desceu a escada rolante de sua Trump Tower, ao som de Neil Young ("Rockin' in the Free World"), e anunciou: "Senhoras e senhores, estou oficialmente concorrendo a presidente dos EUA".

    A empreitada "quixotesca", na definição do site Politico, "não deve ser levada a sério", segundo o "Washington Post", e seria noticiada na seção de entretenimento, decidiu o Huffington Post.

    "Ele adiciona uma seriedade em falta no campo republicano", ironizou a porta-voz do Partido Democrata. Até Neil Young, simpatizante de Bernie Sanders, reclamou do uso de sua música: "Foda-se, Trump".

    "Não estamos mais entretidos", publicou o Huffington Post ante a escalada do empresário tanto nas pesquisas quanto nas propostas radicais, germinadas desde aquele primeiro dia.

    Há um ano, Trump advogava por um muro na divisa com o México, que seria um antro de estupradores, traficantes "e, suponho, algumas boa pessoas. Também criticava o "terrorismo islâmico": "Eles estão ricos. Estou em competição com eles".

    Com 70 anos completados na terça (14), o magnata será o presidente mais velho do país, caso eleito. O posto hoje é de Ronald Reagan, ex-ator hollywoodiano que já nos anos 1980 usava o slogan hoje adotado por Trump: "Vamos fazer a América ser incrível de novo".

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024