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    Plebiscito britânico

    Assassinato da deputada Jo Cox deve mudar o tom do debate sobre o 'Brexit'

    HENRY MANCE
    DO 'FINANCIAL TIMES'

    17/06/2016 17h00

    Na manhã do assassinato de Jo Cox, o Partido pela Independência do Reino Unido (Ukip) lançou a maior de suas campanhas publicitárias, ilustrada por uma foto de refugiados sírios sob o título "ponto de ruptura".

    Os oponentes políticos do partido —entre os quais a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon— condenaram os outdoors como "repulsivos". Mas Nigel Farage, o líder do Ukip, rejeitou a acusação de racismo.

    "Francamente, como se pode ver por essa foto, a maioria das pessoas que estão vindo para cá é formada por homens jovens", ele disse. "A União Europeia cometeu um erro fundamental que coloca em risco a segurança de todos."

    As campanhas para o plebiscito quanto a uma possível saída britânica da União Europeia ("Brexit") continuam suspensas desde o ataque contra a parlamentar trabalhista Jo Cox, 41. Quando forem retomadas, certamente haverá uma mudança de tom.

    O ônus não recairá apenas sobre Farage, cuja mensagem anti-imigração caracterizou o período mais recente do debate. Os ativistas de ambos os lados estão expostos a acusações de propaganda negativa e exageros retóricos.

    "Como esse plebiscito é nojento", escreveu o romancista Robert Harris em mensagem no Twitter, nesta sexta-feira (17), resumindo: "O evento político mais deprimente, divisivo e dúplice da minha vida. Que jamais se repita".

    A Vote Leave, a campanha oficial pela saída da União Europeia, provavelmente verá que seus acalorados ataques contra as "elites" agora parecerão deslocados.

    O foco da campanha vem sendo a credibilidade de David Cameron, com vídeos como "não se pode confiar em David Cameron quanto à imigração".

    Na manhã da quinta-feira (16), a campanha reforçou suas críticas a Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra, por sua carreira no banco Goldman Sachs. "Conheça Mark Carney, amigo íntimo da família de George Osborne [o secretário das Finanças britânico]", afirmava um vídeo oficial da campanha distribuído online. "Carney trabalhou por 10 anos para o Goldman Sachs, ganhando milhões em bonificações."

    Na sexta-feira (17), em contraste, a hashtag #ThankYourMP [agradeça seu parlamentar] estava ganhando influência no Twitter, com frases de elogio aos representantes eleitos dos britânicos.

    Da mesma forma, lemas como "tornar o Reino Unido grande de novo" e "retomar o nosso país" —que foram usadas na campanha em favor da Brexit— podem não se enquadrar mais ao clima de unidade política nacional.

    A campanha pela permanência, Remain, também terá de mudar de tom e mensagem. Cameron foi acusado de semear o medo sobre os riscos econômicos e de segurança de deixar a União Europeia.

    Ainda que recentemente tenha adotado tom moderado sobre a imigração, no ano passado o primeiro-ministro foi criticado por se referir aos refugiados como "enxame". "Eu não pretendia desumanizá-los", disse Cameron, então.

    A data do referendo —a próxima quinta-feira (23)— não deve ser mudada.

    Isso significa que os envolvidos nas campanhas só têm alguns dias para mostrar que compreendem o clima público, e evitar serem vistos como dispostos a explorar politicamente a morte de Cox.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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