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    Venezuela é sombra forte sobre as eleições da Espanha

    RAPHAEL MINDER
    DO 'NEW YORK TIMES'

    20/06/2016 07h00

    A Europa enfrenta uma crise migratória, a ameaça do terrorismo islâmico e a perspectiva de que o Reino Unido saia da União Europeia. Mas qual é o grande tema de política externa antes das eleições nacionais da Espanha no próximo domingo (26)? Venezuela, é claro.

    Candidatos visitaram Caracas para impressionar o eleitorado. O partido conservador no poder se encontrou em Madri com opositores do governo esquerdista da Venezuela. Há acusações sobre uma virtual infiltração venezuelana na política espanhola.

    A sombra projetada pela Venezuela nas eleições espanholas tem sido tamanha que o presidente Nicolás Maduro recentemente convidou os políticos espanhóis a realizarem o debate eleitoral em Caracas "para que eu possa também participar e, talvez, ganhar as eleições na Espanha".

    Pode parecer um pouco estranho, dada a série de problemas enfrentados pela Espanha. Mas a razão é simples. Após seis meses de impasse político e eleições inconclusivas em dezembro, o único sinal de mudança antes das novas eleições na Espanha é o crescimento do Podemos, partido de extrema-esquerda, cujos líderes já serviram como assessores do governo do ex-presidente Hugo Chávez, na Venezuela.

    Quanto mais forte o Podemos parece estar, mais seus oponentes tentam o ligar à Venezuela, onde a economia está em colapso e o governo cada vez mais autoritário de Maduro declarou estado de emergência. A mensagem é feita para ser assustadora e clara: a Venezuela está um caos, e isso pode acontecer aqui.

    Federico Parra - 17.mai.2016/AFP
    Venezuelan President Nicolas Maduro reads a newspaper article during a press conference at the Miraflores presidential palace in Caracas on May 17, 2016. The army in crisis-hit Venezuela has to choose whether it is "with the constitution or with (President Nicolas) Maduro," opposition leader Henrique Capriles said Tuesday. / AFP PHOTO / FEDERICO PARRA ORG XMIT: FPZ1484
    Presidente Nicolás Maduro durante coletiva de imprensa em Caracas, no mês passado

    "Um dos quatro partidos que estão competindo na Espanha foi formado na Venezuela, por isso, se eles quiserem trazer esse modelo para cá, eles têm de explicar por quê," disse Albert Rivera, líder do Ciudadanos, um partido de centro-direita que vem ganhando força, a um grupo de correspondentes estrangeiros este mês, logo após retornar da Venezuela. "É o Podemos que trouxe a Venezuela para a Espanha, não nós."

    O líder do Podemos, Pablo Iglesias, disparou de volta em um debate televisionado, dizendo que seus adversários estavam ignorando as questões que realmente poderiam afetar a Espanha, começando com a possível saída britânica da União Europeia.

    AVANÇO

    O Podemos teve seu primeiro sucesso eleitoral em maio de 2014, quando ganhou 8% dos votos nas eleições para o Parlamento Europeu. No início, o Podemos via no Syriza, o partido grego que chegou ao poder no começo de 2015, um exemplo de como um partido novo e de extrema-esquerda poderia reformular o establishment político.

    O Podemos pode estar preparado para fazer exatamente isso. Depois de recentemente formar uma aliança com um partido radical, a Esquerda Unida, ele pode agora ultrapassar os Socialistas e ficar em segundo lugar, atrás do conservador Partido Popular, do primeiro-ministro Mariano Rajoy, segundo recentes pesquisas de opinião. Tal resultado subverteria a ordem política de dois partidos que prevaleceu desde o retorno da democracia na Espanha, no final dos anos 1970.

    Considerando os problemas na Grécia, que está negociando outro pacote de resgate internacional, opositores do Podemos também têm explorado a conexão da sigla com o Syriza. Mas a ligação com o ex-governo Chávez ainda é o principal foco.

    Alguns líderes do Podemos, incluindo Iglesias, Juan Carlos Monedero e Iñigo Errejón, usaram uma vez suas credenciais acadêmicas como cientistas políticos para trabalhar como consultores do governo de Chávez, que morreu em 2013. Eles também prestaram assessoria na Bolívia e no Equador enquanto estudavam como a extrema-esquerda poderia mudar os países latino-americanos.

    Os opositores do Podemos têm atacado o partido em relação às suas finanças e possíveis ligações com governos estrangeiros, especialmente a Venezuela. As acusações são rejeitadas pelo Podemos, que tem centrado sua campanha na denúncia de corrupção dos partidos tradicionais financiados por propinas vindas da área de construção.

    Antes de o Podemos entrar no cenário político espanhol, Iglesias e Errejón fizeram parte de um instituto de pesquisa espanhol financiado pelo governo venezuelano.

    Em abril de 2015, Monedero deixou a liderança do Podemos em meio a diferenças ideológicas, mas também depois de ter que pagar € 200 mil em impostos atrasados ​​e multas por receber € 425 mil como pagamento de uma consultoria prestada ao governo Chávez, em 2010, para desenvolver planos para uma nova moeda regional.

    Monedero e outros líderes do Podemos nunca foram acusados de nenhum delito. Entretanto, durante um recente debate televisivo, Rivera, o líder do Ciudadanos, repetiu alegações de que o Podemos se financiava com o dinheiro da Venezuela.

    "É imoral que um regime estrangeiro financie um partido", disse Rivera. Um Iglesias visivelmente irritado respondeu que era uma ofensa "muito grave" acusar seu partido de financiamento ilegal, especialmente porque isso é um assunto já esclarecido pela Suprema Corte da Espanha.

    Rivera fez recentemente as declarações mais fortes sobre a Venezuela durante a campanha eleitoral espanhola, assumindo o lugar de Rajoy, que no mês passado convocou seu conselho de segurança para avaliar a segurança dos 200 mil espanhóis que vivem sob o estado de emergência na Venezuela.

    Com a ajuda do establishment conservador da Espanha, a oposição venezuelana também conseguiu um lugar no país europeu, liderada por Lilian Tintori, a mulher de Leopoldo López, político venezuelano preso em fevereiro de 2014.

    Este mês, Tintori, uma ex-apresentadora de televisão, discursou em Salamanca e Madrid, em eventos organizados pelo Partido Popular e pelo jornal conservador "La Razón".

    "Dois anos e três meses atrás, nós viemos para a Espanha e para outros países e ninguém prestou atenção em nós", disse ela antes de uma audiência que incluía três ministros de governo de Rajoy, além de Rivera.

    Mesmo que o Podemos tenha se distanciado da Venezuela, ele não se juntou aos outros países para condenar as políticas de Maduro. Este mês, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução exigindo a libertação de López e de outros presos políticos na Venezuela.

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