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    Plebiscito britânico

    Migração e xenofobia mobilizam debate de plebiscito do 'Brexit'

    FERNANDA ODILLA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

    20/06/2016 13h39

    No balcão de um restaurante em Oxford, na Inglaterra, um cartaz exibe um singelo pedido escrito à mão: "Se você gosta dos nossos funcionários, vote 'permaneça'".

    A mensagem tem fundamento. A maioria dos atendentes que ali trabalham é formada de imigrantes europeus, que se transformaram no principal ponto de embate entre os dois lados da campanha para o plebiscito, que consulta a população na quinta-feira (23) sobre a permanência britânica na União Europeia (UE).

    Desde o início do debate, a questão da imigração sempre teve muito apelo popular. Os que querem sair do bloco defendem um controle maior da entrada de europeus no Reino Unido que, segundo eles, sobrecarregam os sistemas carcerário e de saúde, além de impactar no mercado de trabalho.

    Mas, desde a semana passada, a discussão ganhou um tom mais grave, com acusações de xenofobia e a preocupação de reações extremas dos que são declaradamente anti-imigração.

    A polêmica começou com um pôster dos que apoiam o "Brexit", nome dado à potencial saída do bloco, endossado por Nigel Farage, líder do partido ultra conservador e anti-imigração Ukip. Exibido em caminhões que circulam pelo Reino Unido, o pôster mostra uma multidão de refugiados caminhando por uma estrada e uma controversa mensagem. "Ponto de ruptura: Devemos nos libertar da UE e retomar o controle das nossas fronteiras."

    Stefan Wermuth/Reuters
    Leader of the United Kingdom Independence Party (UKIP) Nigel Farage poses during a media launch for an EU referendum poster in London, Britain June 16, 2016. REUTERS/Stefan Wermuth ORG XMIT: SWT30
    Nigel Farage posa em frente ao poster pró-saída do bloco europeu

    Criticado até mesmo por quem apoia a saída do bloco, Farage acusou nesta segunda-feira (20) o primeiro-ministro, David Cameron, de explorar a morte da deputada assassinada a tiros e a facadas na semana passada para alavancar a campanha dos que querem ficar no bloco. Depois da morte de Jo Cox, 41, as pesquisas de opinião passaram a indicar uma recuperação dos que querem ficar na UE.

    "Os que defendem o 'fica' estão usando essas circunstancias horríveis. Estão sugerindo que os que querem sair criaram uma atmosfera que incentivou o assassinato", afirmou Farage à BBC. Ele citou nominalmente David Cameron como um dos que têm falado reiteradamente sobre a política do ódio.

    Cox era contra o "Brexit" e uma defensora dos refugiados. Apesar de ainda não estar clara a real motivação do crime, o único suspeito de matá-la, Thomas Mair, evocou o mote da ultradireita antes de atacá-la e disse no tribunal, antes de ser formalmente acusado: "Morte a traidores, liberdade ao Reino Unido".

    Nesta segunda (20), o Parlamento britânico interrompeu o recesso para uma sessão em homenagem a Cox. Todos exibiam uma rosa branca na lapela, mas evitaram entrar na polêmica do "Brexit". Cameron destacou a trajetória de Cox e disse que ela era uma "voz da compaixão".

    As declarações de Farage, contudo, incendiaram as campanhas. A abordagem mais agressiva anti-imigração fez até com que uma defensora do "Brexit" mudasse de lado. A baronesa Sayeeda Warsi disse que decidiu votar pelo "fica" por conta da campanha de ódio e xenofobia.

    Estima-se que em 2015, 270 mil europeus e 277 mil não-europeus imigraram para o Reino Unido que, por sua vez, viu 85 mil cidadãos deixarem o país.

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