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    Atirador de Orlando disse que ataque foi vingança por bombardeios dos EUA

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    20/06/2016 14h37 - Atualizado às 17h11

    O homem que matou 49 pessoas em Orlando no último dia 12, conversou quatro vezes por telefone com a polícia enquanto mantinha reféns na boate gay Pulse, cenário do maior ataque a tiros da história dos EUA. Nesses contatos, ele se identificou como um "soldado islâmico" e disse que os EUA deveriam parar os bombardeios na Síria e no Iraque.

    "É por isso que estou aqui agora", disse Omar Mateen a um negociador da policía de Orlando menos de uma hora após ter iniciado o massacre, segundo trechos dos diálogos divulgados nesta segunda (20) pela polícia federal americana (FBI).

    Nos trechos divulgados não há nenhuma referência à possível motivação homofóbica do atirador.

    Reprodução/MySpace
    Omar Mateen responsável pelo massacre dentro de boate gay em Orlando
    Omar Mateen responsável pelo massacre dentro de boate gay em Orlando

    Durante as conversas, Mateen também ameaçou detonar explosivos - que mais tarde a polícia descobriu que ele não tinha em seu poder.

    "Há um veículo lá fora com algumas bombas, só para você saber, e eu vou detoná-los se eles tentarem fazer qualquer coisa estúpida", disse Mateen.

    O atirador afirmou ainda que tinha um cinturão de explosivos, que ele descreveu como sendo do mesmo tipo "usado na Fança", numa suposta referência ao atentado em Paris no ano passado, que deixou 130 mortos.

    TERROR DOMÉSTICO

    Em entrevista coletiva nesta segunda, o agente do FBI Ronald Hopper reiterou não há evidências de que Mateen tivesse elos com grupos terroristas no exterior, repetindo as suspeitas divulgadas na semana passada de que ele se radicalizou por conta própria. Na mesma linha, o presidente Barack Obama disse pouco após o massacre que ele parecia ter sido um ato de "terror doméstico".

    Segundo Hopper, nas conversas com a polícia o atirador fez suas "declarações assassinas" de dentro da boate Pulse "de maneira calma, fria e deliberada".

    O primeiro contato, às 2h08 (3h08 de Brasília) foi iniciativa de Mateen, que ligou para o número de emergência da polícia cerca de meia hora após os primeiros disparos. Ele começou com palavras em árabe, "em nome de Deus, o misericordioso", saudação comumente usada por fiéis muçulmanas.

    "Eu estou em Orlando. Eu dei os tiros", disse.

    Questionado pelo atendente da polícia qual era o seu nome, Mateen respondeu que "jurava lealdade a...", mas a continuação não foi revelada pelo FBI. De acordo com investigadores ouvidos pela imprensa americana, os nomes omitidos foram o do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) e seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi.

    AMEAÇAS

    Após os primeiros alertas sobre o ataque na Pulse, a polícia foi ao local e trocou tiros com Mateen, mas depois ele ficou sitiado por mais de três horas na casa noturna, pelo que mostram os trechos liberados pelo FBI.

    Nesse período, manteve uma série de contatos com a polícia, mas não foram disparados mais tiros, o que as autoridades citaram para rebater as críticas de que o resgate demorou demais. O impasse terminou às 5h02 quando a polícia decidiu abriu um buraco com explosivos na parede da boate e matou o atirador.

    A ação foi tomada depois que Mateen ameaçou detonar explosivos. Meia hora antes, a polícia retirou o ar-condicionado de um vestiário da casa noturna, por onde um número não revelado de reféns pôde escapar, informou o FBI.

    Numa das conversas, o negociador da polícia questionou o que Mateen havia feito e ele respondeu: "Não, você já sabe o que eu fiz". Em seguida advertiu que haveria novos ataques.

    "Nos próximos dias vocês verão mais ações desse tipo", disse, antes de desligar o telefone. Revelações anteriores sobre as três horas em que o atirador ficou na boate Pulse mostraram que ele trocou mensagens com sua mulher e entrou no Facebook para checar a repercussão do massacre.

    A secretária de Justiça dos EUA, Loretta Lynch, justificou a decisão de não revelar o grupo ao qual Mateen jurou lealdade. "Estamos tentando não revitimizar aqueles que passaram por aquele horror", disse Lynch em entrevista à rede de TV ABC.

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