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    Plebiscito britânico

    Plebiscito sobre saída da UE abre ferida política no Reino Unido

    FERNANDA ODILLA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LONDRES

    22/06/2016 02h00

    A menos de 48 horas do plebiscito para decidir se o Reino Unido permanece ou deixa a União Europeia, o premiê David Cameron pediu à nação que pense em seus filhos e netos antes de tomar uma decisão "irreversível".

    Nesta quinta (23), os britânicos vão escolher pela segunda vez se querem continuar no bloco europeu —em 1975, eles votaram para ficar.

    Niklas Halle´N/AFP
    Projeção de defesa da permanência do Reino Unido na UE é feita no museu Tate Modern, em Londres
    Projeção de defesa da permanência do Reino Unido na UE é feita no museu Tate Modern, em Londres

    Cameron recorre com frequência a exageros retóricos (nada impede, por exemplo, que o Reino Unido faça a terceira consulta popular). Mas tem certa razão ao afirmar que a escolha é irreversível, ao menos quanto as consequências políticas da consulta, seja qual for o resultado.

    Afinal, o Partido Conservador chega rachado ao fim da disputa, e o Trabalhista não conseguiu usar o referendo para alavancar a ainda frágil liderança de Jeremy Corbyn.

    "A consulta popular divide o Partido Conservador mais do que o Trabalhista. Será difícil curar as feridas", afirma o professor de política Archie Brown, da Universidade de Oxford.

    OS DOIS LADOS DO 'BREXIT'​

    Cameron abraçou a campanha pela permanência e, assim, pôs em risco sua posição de líder partidário —e consequentemente, o cargo de premiê. Ainda que sua aposta prevaleça, a depender de quão apertado for o resultado, os ministros Theresa May ou George Osborne poderão pleitear os postos.

    De olho no que é de Cameron também está o ex-prefeito de Londres Boris Johnson, principal nome entre os que defendem a saída do bloco.

    Ele deixou em segundo plano o ministro da Justiça, Michael Gove, um dos primeiros a se opor a Cameron pelo "Brexit" —a saída do bloco.

    O professor de política e relações internacionais da Universidade de Kent Richard Whitman observa que os conservadores estão tão divididos no topo quanto na base, e a forma e a velocidade com que superarem o racha influirá nas eleições gerais de 2019.

    Entre os trabalhistas, também há disputas que podem derrubar a liderança, sobretudo se os conservadores fizerem o mesmo. Whitman avalia que Corbyn nunca foi entusiasta do plebiscito, e demorou para se pronunciar com vigor pela permanência como fez nesta terça (21).

    ASSASSINATO

    A atitude passiva da oposição expôs a fraqueza de Cameron como cabo eleitoral.

    O assassinato da deputada trabalhista Jo Cox por um ultranacionalista a uma semana do plebiscito uniu os defensores da UE e influenciou as pesquisas, que indicavam vantagem crescente para a saída e agora mostram empate técnico com a permanência em tendência de alta.

    Quem assumiu o protagonismo trabalhista nas últimas semanas foi o recém-eleito prefeito de Londres, Sadiq Khan, que fez campanha com Cameron e se sobressaiu no debate promovido pela BBC.

    Embora a decisão popular ainda precise ser transformada em lei, votada pelo Parlamento e negociada com a UE, uma vitória da saída pode fortalecer movimentos anti-imigração e separatistas. Nigel Farage e seu partido ultranacionalista Ukip, que avança em assembleias locais, também ganhariam.

    Brown alerta que deixar a UE ainda reabrirá o debate na Irlanda do Norte e na Escócia para romperem com Londres, pois ambos querem ficar no bloco. Assim, o risco para o Reino Unido passa a ser não só o de disputa política interna, mas de perda territorial.

    O destino do Reino Unido

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