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    Plebiscito britânico

    Artes e academia se dividem em plebiscito sobre saída britânica da UE

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    22/06/2016 02h00

    Acadêmicos, artistas, escritores e cientistas britânicos se dividem entre a permanência e a saída do Reino Unido da União Europeia, que vai a plebiscito, nesta quinta (23).

    No showbiz, os apoiadores da primeira alternativa vão de apresentadores de TV a diretores de orquestras.

    O comediante John Oliver, em seu programa semanal na HBO, disse que o "Brexit" significaria uma decisão "altamente desestabilizadora" e apresentou um esquete musical em que ironiza tanto clichês da supremacia britânica como as características desabonadoras de outros países da Europa, para concluir que é melhor que todos continuem juntos.

    John Oliver

    Um dos principais atores do país, Ian McKellen, 77, conhecido por interpretar Gandalf em "Senhor dos Anéis", disse ao "Daily Telegraph" que teme que a saída britânica debilite a luta pelos direitos dos homossexuais em outros países do bloco. "Se você é homossexual, você é internacionalista. É a hora de apoiar a Europa e dar confiança a outros países que estão atrasados nesse aspecto."

    OS DOIS LADOS DO 'BREXIT'​

    Também se pronunciaram a favor da permanência, em redes sociais e abaixo-assinados, o compositor e produtor Brian Eno, o ex-guitarrista dos Smiths Johnny Marr, o ator Benedict Cumberbatch e os escritores Hilary Mantel, Ian McEwan, John le Carré e Philip Pullman, entre outros.

    O diretor da Associação das Orquestras Britânicas, Mark Pemberton, afirmou: "Orquestras precisam de fronteiras abertas para existir, promover intercâmbio e trazer financiamento".

    Não são poucos, porém, os artistas a favor da saída. Entre eles está o premiado ator Michael Caine, 83. "O Reino Unido não pode continuar fazendo o que ditam os funcionários sem rosto que fazem as regras da União Europeia", disse ao "Telegraph".

    Em sua conta de Twitter, o ator e humorista John Cleese, do grupo Monty Python, não só defendeu a saída do bloco como sugeriu "enforcar Jean-Claude Juncker", o presidente da Comissão Europeia.

    Koen van Weel/AFP
    O comediante britânico John Cleese, em evento na Holanda; ele é a favor da saída do Reino Unido
    O comediante britânico John Cleese, em evento na Holanda; ele é a favor da saída do Reino Unido

    O roqueiro Roger Daltrey, da banda The Who, disse ao tablóide "The Sun" que "a Europa fede e foi criada em segredo", defendendo a saída.

    Também o roteirista da série "Downton Abbey", Julian Fellowes, um enfático conservador, disse ao "Daily Mail" que a permanência seria um retrocesso, pois criaria um gigante burocrático e mal-administrado, "como era o Império austro-húngaro".

    Em entrevista à Folha, o escocês Irvine Welsh, convidado da próxima Flip, disse que as duas opções são ruins.

    Mas os fatos de tantos plebiscitos e referendos (como os recentes na Escócia e na Catalunha) serem necessários e de eleições terem de ser refeitas (como na Espanha neste domingo) mostram "a falência do sistema democrático europeu de modo geral, e era com isso que deveríamos nos preocupar", afirma.

    ACADEMIA

    Historiadores que pedem a saída se reuniram no site historiansforbritain.org. Entre seus principais nomes estão Simon Heffer, Charles Moore e Rebecca Haynes.

    Para fazer frente a eles, outro grupo, encabeçado por Simon Schama, Ian Kershaw e Niall Ferguson, organizou um abaixo-assinado com 300 assinaturas pela permanência.

    À Folha, o historiador Robert Darnton, um norte-americano especialista em história europeia da Universidade Harvard (EUA), disse considerar a saída "um erro e um retrocesso". "Se ganha a saída, voltaremos a uma Europa dividida que sempre foi prejudicial a todos os países."

    Já na ciência, um grupo de 150 especialistas, liderados por Stephen Hawking e Martin Rees, afirma que deixar o bloco prejudicaria a colaboração na área. "O financiamento europeu elevou o nível da ciência europeia em geral e britânica em particular", diz o texto da carta conjunta.

    Não há manifestação pública de cientistas pró-saída.

    IMPRENSA

    Se nas artes e na academia as linhas foram traçadas com clareza, algo curioso ocorre nos jornais do magnata da mídia Rupert Murdoch. Enquanto "The Times" defende a permanência, o tabloide "The Sun" pede a saída.

    Entre os demais, o progressista "Guardian" defende a permanência, e o conservador "Telegraph" quer a saída.

    Já a prestigiosa "The Economist" defendeu a permanência em reportagem de capa intitulada "Divided we Fall" (divididos, cairemos).

    "Ao longo dos anos, esta revista encontrou muito o que criticar na União Europeia. É um clube imperfeito, às vezes louco. Mas é muito melhor do que a alternativa. Deixá-lo seria um erro terrível. Enfraqueceria a Europa e empobreceria e dividiria o Reino Unido."

    O destino do Reino Unido

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