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    Colômbia e Farc anunciam consenso sobre cessar-fogo e entrega de armas

    SYLVIA COLOMBO
    DE SÃO PAULO

    23/06/2016 15h11 - Atualizado às 10h57

    Em um marco histórico, o governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciaram nesta quinta (23), em Havana, o consenso sobre um dos pontos mais importantes do acordo de paz que negociam há três anos: a logística para o fim do conflito.

    Isso inclui o cessar-fogo bilateral, a entrega de armas pela guerrilha e a definição das zonas de segurança onde transitarão os ex-guerrilheiros antes de serem julgados e de voltarem à vida civil.

    O anúncio é um passo importante na direção da assinatura do acordo, que deve ocorrer no fim de julho ou início de agosto, na Colômbia.

    Liu Bin/Xinhua
    Juan Manuel Santos (à esq.), Raúl Castro e o líder das Farc, o 'Timochenko', anunciam acordo em Cuba
    Juan Manuel Santos (à esq.), Raúl Castro e o líder das Farc, o 'Timochenko', anunciam acordo em Cuba

    O conflito já dura mais de 50 anos e deixou cerca de 250 mil mortos, além de 8 milhões de deslocados internos, forçados a deixar suas casas.

    "Em um mundo assolado pela guerra, essa negociação valida o esforço de todos os que lutam para encerrar conflitos violentos por meio de soluções conciliatórias", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

    Ambas as partes anunciaram concordar que a aprovação popular seja por meio de plebiscito –o que deve ocorrer dois ou três meses após a assinatura do acordo. Só após este passo o tratado poderá começar a ser implementado.

    Estavam presentes à cerimônia o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, o ditador cubano, Raúl Castro, e o líder das Farc, Rodrigo Londoño (o "Timochenko").

    Os mandatários de México (Enrique Peña Nieto), Chile (Michele Bachelet), El Salvador (Sánchez Cerén) e Venezuela (Nicolás Maduro), além de representantes de EUA e União Europeia, participaram como observadores.

    ENTREGA DAS ARMAS

    O cessar-fogo ocorrerá no prazo de 180 dias após a assinatura do acordo. Já a entrega das armas se dará em três fases, no mesmo prazo, sob monitoria da ONU.

    Em contrapartida, o governo se comprometeu a garantir a segurança dos ex-guerrilheiros contra rivais.

    "Este é um dos pontos cruciais, a garantia da segurança, que o governo não explicou direito ainda como fará", disse à Folha o analista político Juan Gabriel Tokatlian.

    "Sabemos que o Exército, os latifundiários e os ex-paramilitares, tradicionais inimigos das Farc, estão, de certo modo, engolindo a ideia da paz. Mas não se pode garantir que não ocorram ações de vingança isoladas ou acertos contas com a guerrilha."

    Para tentar garantir a segurança dos ex-guerrilheiros, foram definidas 23 zonas de transição, onde estes aguardarão julgamento antes de voltarem à vida civil.

    Em discurso, Timochenko insistiu que o acordo "não é uma capitulação da insurgência", e que "as Farc farão política". "É nossa razão de ser. Apenas usaremos os mesmos mecanismos que o resto."

    O compromisso de que as Farc poderão entrar na política foi confirmado por Santos. "Não concordamos com suas ideias, mas defenderei seu direito de se expressarem e seguirem sua luta política pelas vias legais", discursou.

    O QUE FALTA

    Nas rodadas de negociação nas próximas semanas, serão definidos detalhes como localização e dimensão das zonas de segurança, funcionamento dos tribunais especiais e implementação da reforma agrária que pede a guerrilha.

    Após a assinatura do acordo, começará oficialmente a campanha do plebiscito, na qual irão se digladiar o presidente, Juan Manuel Santos, e seu antecessor, Álvaro Uribe.

    A lei proíbe Santos de fazer campanha para o referendo, e ele já convocou um grupo de políticos, empresários e publicitários para tanto.

    Já Uribe tem convocado manifestações de rua, feito comícios e usado redes sociais para atacar o acordo e dizer que, se os colombianos votarem "sim", entregarão o país "à guerrilha e ao castro-chavismo" –alusão aos regimes de Cuba e Venezuela.

    "Santos terá pressa em que o plebiscito ocorra logo e Uribe não tenha tempo de capitalizar sua popularidade", diz Tokatlian. Segundo as mais recentes pesquisas, o ex-presidente tem mais de 50% de aprovação, e Santos, 20%.

    Mas os números também mostram amplo apoio à paz: se o plebiscito fosse hoje, indica o instituto Gallup, o "sim" venceria de 66% a 24%.

    Alguns pontos ainda são indigestos para os colombianos, como os tribunais especiais para ex-guerrilheiros e sua integração à política.

    "Uribe tentará montar sua campanha em cima desses itens", diz Tokatlian. Mas, para o analista, a cerimônia desta quinta deixou claro que "a conclusão do tratado de paz é algo inexorável."

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