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    Impasse marca sessão da OEA sobre suspensão da Venezuela

    MARCELO NINIO
    DE WASHINGTON

    23/06/2016 22h55

    Começou com polêmica e terminou em indefinição a esperada sessão extraordinária para debater a crise na Venezuela na Organização dos Estados Americanos (OEA). O debate foi marcado pela hostilidade entre a Venezuela e o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, de quem partiu a convocação do debate.

    Foi a primeira vez que um líder da OEA evocou a Carta Democrática da organização para discutir a situação de um país. O processo poderia levar a ações de supervisão e até punição da Venezuela, com a sua suspensão da organização, mas poucos acreditam que ele terá apoio suficiente dos países-membros para prosperar.

    Mariana Bazo/Reuters
    Manifestantes da oposição venezuelana pedem a aplicação da Carta Democrática da OEA contra o país
    Manifestantes da oposição venezuelana pedem a aplicação da Carta Democrática da OEA contra o país

    A Venezuela ainda tentou cancelar a sessão, mas a maioria dos países —o Brasil entre eles— votou por sua manutenção. Ao apresentar seu relatório sobre a crise na Venezuela, Almagro justificou a evocação da Carta Democrática afirmando que há sinais claros "de alteração da ordem constitucional" no país.

    "O Conselho Permanente deve tomar as medidas necessárias para atender à crise humanitária sem precedentes e desnecessária que a Venezuela sofre", pediu. Não há previsão, porém, de que haverá uma votação voltada para a tomada de ações.

    Um embaixador que pediu para não ser identificado disse que o impasse mostrou que a OEA deve voltar à tomada de decisões por consenso que é a tradição da organização. Segundo ele, a aplicação da Carta Democrática não está em questão, tanto que poucos países a citaram em suas intervenções.

    Expressando a mesma opinião de diplomatas de muitos países, ele foi crítico em relação à iniciativa de Almagro, afirmando que ela não ajudou a criar soluções para a crise venezuelana.

    Em intervenções inflamadas, a chanceler da Venezuela, Delcy Rodríguez, foi eloquente em insultos a Almagro, acusando-o de praticar um "golpe de Estado" com a convocação da sessão. Além de interferir ilegalmente nos assuntos domésticos de seu país, Almagro abusou de suas funções, que deveriam ser administrativas, disse Rodriguez, com ar de chacota.

    "Se o senhor trabalhasse no McDonald's jamais ganharia o prêmio de funcionário do mês", disse a chanceler olhando para Almagro.

    Rodríguez disse ainda que a iniciativa do secretário-geral prejudica as tentativas de diálogo na Venezuela, já que a oposição prefere esperar a evocação da Carta Democrática para ganhar musculatura na negociação.

    Antes da sessão extraordinária, Almagro reuniu-se com o oposicionista Henry Ramos Allup, presidente da Assembléia Nacional da Venezuela, que depois falou à imprensa na sede da OEA.

    "Vemos que este governo, frágil por seu péssimo desempenho, só se mantém no poder graças a dois pilares frágeis, um o Tribunal Supremo de Justiça, que está interpretando as questões contra a Constituição, e o apoio militar", disse Ramos Allup.

    Em sua intervenção, o embaixador do Brasil na OEA, José Luiz Machado e Costa, disse que o sucesso da diplomacia no processo de paz na Colômbia deve servir de "inspiração" para a reconciliação na Venezuela.

    Sobre a iniciativa de Almagro, agradeceu o relatório mas indicou que o Brasil entende que ele "não prejulga qualquer decisão" dos países-membros.

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