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    Com possibilidade de novo impasse, eleição na Espanha opõe gerações

    DIOGO BERCITO
    EM MADRI
    FERNANDA GODOY
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

    26/06/2016 02h00

    Curto de la Torre/AFP
    (FILES) A combination of file photos shows leader of the Popular Party (PP) and Spain's caretaker Prime Minister and party candidate, Mariano Rajoy (L) speaking during a campaign meeting on the spanish Canary island of Tenerife on June 18, 2016 and leader of left wing party Podemos Pablo Iglesias during "The Congress on your Square" meeting held at El Pozo cultural center in Vallecas, a neighborhood of Madrid on May 11, 2016. For the upcoming June 26 Spanish general elections, the Conservative leader, Mariano Rajoy expects the fierce rivalry between Podemos, born two years ago, and the Socialist Party (PSOE), old of 137 years, to keep in power. / AFP PHOTO / CURTO DE LA TORRE
    O primeiro-ministro interino Mariano Rajoy, do Partido Popular, (à esq.) e Pablo Iglesias (Podemos)

    As eleições espanholas deste domingo (26) serão, para além da disputa por votos, um embate entre gerações.

    Os dois partidos que lideram as pesquisas representam, estatisticamente, dois públicos distintos. O PP (Partido Popular, conservador), que liderava com 29% das intenções de voto, tem apenas 17,2% entre os jovens de 18 a 34 anos ""seu eleitorado se concentra entre os maiores de 60 anos.

    Já o Podemos, que em aliança com Esquerda Unida aparece como a segunda força, com 26%, tem 44% da preferências entre os jovens.

    "No passado, o partido que ganhava as eleições vencia em todas as faixas etárias, mas isso se rompeu", diz à Folha José Ignacio Torreblanca, diretor de opinião do jornal "El País". "É a primeira vez que se produz uma segmentação brutal por idade."

    "O que vemos é um combate entre a Espanha que chega e a Espanha que está indo embora", diz o consultor político Iván Redondo.

    O PP é favorecido pela pirâmide demográfica, com 22% da população acima de 65 anos. O percentual de eleitores acima de 54 anos foi de 30% para 40% desde 1982.

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    Segundo Torreblanca, os eleitores mais velhos tendem a favorecer o governo atual do PP em parte porque foram menos afetados pela crise. "Houve congelamento das aposentadorias, mas com inflação quase zero. Eles não perderam poder aquisitivo."

    Enquanto isso, jovens perderam bolsas de estudo, com preços das universidades públicas mais caras, e enfrentaram maiores dificuldades no acesso ao crédito.

    Entre jovens de 18 a 25 anos, a taxa de desemprego chega a 46%, enquanto a média nacional está em 21%. Muitos tiveram que emigrar em busca de trabalho. Em 2015, havia 102.498 espanhóis vivendo no Reino Unido, 77% mais que em 2009.

    "O PP perdeu a capacidade de chegar aos eleitores moderados e aos eleitores mais jovens ou até aos de meia- idade. Isso é difícil de mudar", diz o analista político Jorge Galindo.

    O Podemos, legenda de esquerda criada há dois anos e liderada pelo cientista político e apresentador de TV Pablo Iglesias, 37, e o Cidadãos, formação de centro-direita que disputou no ano passado suas primeiras eleições nacionais, são hoje os polos de atração do voto jovem.

    "O Podemos tem uma mensagem muito clara para os jovens. Sua música, seus vídeos, sua estratégia em redes sociais, sua forma de vestir. Eles não falam explicitamente de luta geracional, mas é disso que se trata, de que uma nova geração tome as rédeas", diz Galindo.

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    REPETIÇÃO

    O pleito deste domingo será a segunda tentativa, desde dezembro, de eleger um governo. Na vez passada, nenhum partido conseguiu a maioria absoluta, e as negociações para formar um gabinete não tiveram sucesso.

    É preciso que um partido tenha 176 de um total de 350 deputados. Mais uma vez, é improvável que algum atinja sozinho esse número.

    Os outros principais rivais são o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol, centro-esquerda), com 20,5% das preferências, e o Cidadãos, com 14,5%.

    O PSOE, partido que mais tempo governou desde a redemocratização, é visto como "velho" e se tornou impopular entre jovens. Segundo o instituto oficial de pesquisas CIS, 47% dos jovens espanhóis votaram no PSOE em 1982. A sondagem do instituto Metroscopia para este domingo estima que essa cifra vá passar para 12%.

    O Podemos e o Cidadãos entenderam essa transformação demográfica, mas ainda têm dificuldades em adentrar no eleitorado mais velho.

    Esse é, afinal, território cativo do PP e do PSOE. Mas é uma situação que não deve se sustentar no longo prazo. "Quem hoje tem 60 anos será substituído por quem tem 40 ou 50 anos", diz Francisco Camas, do Metroscopia.

    A transição para a nova geração vai mudar a forma de governar na Espanha nos próximos anos, aposta o consultor Iván Redondo.

    "Como consequência de os jovens entrarem na política, há uma nova Espanha que está tomando controle dos meios de comunicação, da saúde, da educação", afirma Redondo. "É uma transição de uma Espanha mais fechada, mais burocrática, para outra em que o governo está bem mais próximo da sociedade civil."

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