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    Análise

    Crise e repúdio à campanha fazem establishment espanhol sangrar

    CLÓVIS ROSSI
    DE COLUNISTA DA FOLHA

    27/06/2016 02h00

    O resultado da eleição espanhola é o terceiro aviso ao establishment em uma semana. Começou no domingo (19) quando o Movimento 5 Estrelas –talvez o mais típico grupo antipolítica da Europa– levou a emblemática prefeitura de Roma e venceu em Turim.

    Na quinta (23), o Reino Unido votou pela saída da União Europeia, decisão que a revista "The Economist" definiu como uma "manifestação de fúria contra o establishment".

    Na Espanha, a "fúria" foi mais suave, e os dois partidos tradicionais –o conservador PP e o oposicionista PSOE– ainda tiveram, juntos, pouco mais da metade dos votos.

    Mas sofreram uma sangria em relação a 2011, o pleito mais recente sem o anti-establishment Podemos. Caíram de 74,3% para 55%.

    O PP repetiu o primeiro lugar, mas caiu de 45% dos votos –suficientes para lhe dar 186 cadeiras, 10 além da maioria absoluta– para quase 33% –39 cadeiras longe do controle do parlamento.

    Consequência inevitável do desgaste dos partidos do establishment: não há combinação com razoável coerência que permita formar governo com tranquilizadora maioria, como, de resto, já havia acontecido em dezembro.

    Eleições na Espanha - Deputados eleitos, por partido

    Outra demonstração de repúdio ao establishment: o Cidadãos, embora novo e nascido de baixo para cima, é uma agrupação com a qual o PP se sentiria cômodo para formar governo.

    Mas o novo partido de centro-direita perdeu cadeiras em relação às 40 obtidas em 2015 e, por isso, mesmo que se junte ao PP, não chegam ao número mágico de 176.

    Não é difícil explicar: para Santos Juliá, colunista do "El País", a campanha explicitou a "miséria da política", "o jogo sujo de tirar, a partir dos extremos, uns quan­tos vo­tos ao ad­ver­sá­rio" que "con­ver­te os po­lí­ti­cos em a­to­res de um roteiro tão cheio de truques como vazio de pen­sa­men­tos".

    Outra razão é a economia, em recuperação, mas que ainda não anda bem, como analisa Marcos Sanz Martín-Bustamante, da empresa de pesquisas Metroscopia:

    "Em ple­na re­ce­ssão, com desemprego su­pe­rior a 20%, en­dividamento público e privado maciço, salários deprimidos e formação insuficiente, não é de estranhar que o cidadão espanhol sinta a economia como uma espada de Dâmocles sobre sua cabeça".

    As duas misérias –a política e a econômica– explicam o resultado, mas este não ajuda a formar um governo capaz de enfrentá-las.

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