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    Fator Brexit deve acelerar acordo para formação de novo governo na Espanha

    FERNANDA GODOY
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MADRI

    27/06/2016 22h37 - Atualizado às 02h00

    Francisco Seco/Associated Press
    Spain's acting Prime Minister and Popular party leader Mariano Rajoy adjusts his glasses during a meeting at the party headquarters the day after the Spanish general election, in Madrid, Monday, June 27, 2016. (AP Photo/Francisco Seco) ORG XMIT: FS102
    O premiê espanhol, Mariano Rajoy, durante entrevista a jornalistas nesta segunda-feira (27)

    A crise aberta pela decisão do Reino Unido de sair da União Europeia gera pressão para uma rápida formação de governo da Espanha após as eleições do domingo (26).

    O premiê conservador Mariano Rajoy, do PP (Partido Popular), legenda que obteve mais votos e elegeu 137 deputados, disse nesta segunda-feira (27) que o tema europeu é "capital" e que seria "uma irresponsabilidade antológica" impedir a estabilidade nesta hora.

    "É urgente formar governo", disse Rajoy, que está interinamente no cargo desde as eleições de 20 de dezembro, quando, após quatro anos de mandato, não conseguiu repetir a maioria absoluta para governar.

    Rajoy estará nesta terça-feira (28) em Bruxelas para uma reunião do Conselho Europeu na qual serão analisados os desdobramentos do Brexit. Ele lembrou que as decisões na UE têm que ser tomadas por unanimidade, e disse que está com as mãos atadas por ser interino.

    O líder do PP quer submeter sua candidatura a votação até o começo de agosto.

    Ele disse que está "aberto a todas as alianças" e anunciou como prioridade a negociação com o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), tradicional rival, que chegou em segundo, com 85 deputados.

    O porta-voz do PSOE, Antonio Hernando, reconheceu que todos os partidos estão sob maior pressão para resolver o impasse, evitando nova repetição de eleições.

    "O PSOE não acredita que terceiras eleições sejam convenientes depois da péssima notícia da saída do Reino Unido da União Europeia", disse Hernando.

    No entanto, a posição do partido, anunciada nesta segunda, menos de 24 horas após o resultado das eleições, é que o PSOE não apoiará o PP nem facilitará, com sua abstenção, a vitória de Rajoy no Parlamento.

    O PSOE convocou reunião de seu comitê federal para o dia 9 de julho, a fim de decidir a política de pactos. No dia 19, o novo Congresso toma posse.

    Para o analista político Ángel Valencia, da Universidade de Málaga, Rajoy foi beneficiado pelo "fator Brexit", que teria feito o eleitorado se voltar para o partido mais conservador.

    "Rajoy sai fortalecido desta eleição. Soube explorar a incerteza e o voto útil. Isso pode lhe facilitar o caminho", diz Valencia.

    NEGOCIAÇÃO DIFÍCIL

    Obter os apoios necessários para chegar aos 176 votos que garantem a maioria absoluta não será fácil, a julgar pela negativa do PSOE e pela reação das outras siglas.

    Albert Rivera, líder do Cidadãos, partido de centro-direita que é visto como um aliado natural do PP, rechaçou a sugestão.

    Para Rivera, como o PSOE foi procurado primeiro, "o Cidadãos já não é necessário".

    Rivera abriu a porta, entretanto, para uma futura negociação a três, com PP e PSOE, sobre programas de governo.

    Se o sonho de uma "grande aliança" -similar à que existe na Alemanha entre os governistas democratas-cristãos e os rivais sociais-democratas- se mostrar inviável, Rajoy ainda poderia tentar somar os votos do PP com os do Cidadãos e mais os de partidos nacionalistas do País Basco e das Ilhas Canárias.

    Outro efeito colateral do Brexit pode ajudar Rajoy: aumentou o temor de um referendo sobre a independência da Catalunha, proposto pelo Podemos e combatido por PP, PSOE e Cidadãos.

    "Depois do Brexit, descarto terceiras eleições completamente. A posição do PP foi reforçada porque ficou demonstrado que referendos não são o instrumento adequado para temas complexos", diz o constitucionalista Frances de Carreras, da Universidade Autônoma de Barcelona.

    *

    IMPACTO DA ELEIÇÃO
    Quem são os vencedores e quem perde com o resultado do pleito

    QUEM GANHA

    Mariano Rajoy (PP)
    O premiê espanhol foi acusado de imobilismo durante os seis últimos meses e teve sua liderança contestada, mas saiu como o grande vitorioso. Seu partido foi o único que cresceu desde as eleições de dezembro, conquistando 137 cadeiras, 14 a mais que no pleito anterior

    Pedro Sánchez (PSOE)
    Quando todas as pesquisas apontavam que perderia a liderança do campo da esquerda para o Podemos, foi tido como um cadáver político. Ressurgiu com um resultado que evitou o desastre, embora seja o pior de sua história em número de cadeiras (85)

    Bruxelas
    A União Europeia tem em Rajoy um dos governantes mais aplicados nas políticas de austeridade fiscal. Bruxelas pede um governo estável na Espanha e quer definição rápida. A Espanha, quarta economia da zona do euro, tem papel importante na contenção da crise

    QUEM PERDE

    Pablo Iglesias (Podemos)
    A aliança com a Esquerda Unida não somou nem multiplicou. Teve 1,2 milhão de votos a menos que os dois partidos haviam obtido em dezembro, e resultou no mesmo número de deputados (71). Iglesias jogou todas as fichas em ultrapassar o PSOE e ficou aquém da meta

    Albert Rivera (Cidadãos)
    O líder do partido de centro-direita viu seu eleitorado minguar diante do apelo de Rajoy pelo voto útil conservador. Foi especialmente penalizado pela lei eleitoral, que fez uma perda de 0,9% no eleitorado resultar em oito cadeiras menos

    Institutos de pesquisa
    Os institutos falharam ao subestimar os votos do PP e não captaram o crescimento do PSOE. Até o vencimento do prazo legal para publicação de pesquisas, no dia 20, todos os institutos de pesquisa apontavam o Podemos em segundo lugar nas intenções de voto, com o PSOE em terceiro. Nem as pesquisas de boca de urna acertaram

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