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    Análise

    Terror tem como alvo cosmopolitismo de Istambul

    CLÓVIS ROSSI
    COLUNISTA DA FOLHA

    28/06/2016 19h36 - Atualizado às 12h57 Erramos: esse conteúdo foi alterado

    O aeroporto Atatürk é uma espécie de vitrine do cosmopolitismo de Istambul, o que o torna alvo preferencial para os dois grupos terroristas que vêm ensanguentando a Turquia, o Estado Islâmico e o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), um dos quais deve ter sido o responsável pelo ataque ao aeroporto.

    O que dá características atípicas à situação da Turquia é o fato de que os seus dois inimigos são também inimigos entre si, a ponto de os "peshmerga", os combatentes curdos, serem considerados a força mais ativa no combate aos extremistas islâmicos no Iraque.

    Que ambos se revezem em ataques à Turquia é natural, primeiro pela posição geográfica do país, fronteiriço com a Síria e, depois, pelo fato de que o governo turco ataca os dois grupos extremistas sem tréguas.

    Não deve ser coincidência que o ataque desta terça-feira se dê um dia depois de a Turquia ter se reconciliado tanto com Israel, com o qual rompera há seis anos, e com a Rússia, depois da derrubada de um avião russo.

    Em tese ambos os reatamentos ajudariam na segurança não só da Turquia, mas todo o Grande Oriente Médio, em que Turquia e Israel são importantes atores e a Rússia desempenha papel relevante.

    Tampouco deve ser coincidência o fato de que o ataque ao aeroporto Atatürk ocorra um dia depois de 36 militantes do EI, acusados pelos atentados de Ancara no ano passado, terem sido condenados a um total de 11.750 anos de prisão.

    Veja o vídeo

    O ataque ao aeroporto é uma demonstração de que, faça o que faça, a Turquia não pode sentir-se segura nem com a vizinhança com o Estado Islâmico nem com a guerra com o PKK ainda em aberto, depois do que parecia uma promissora trégua, encerrada há dois anos.

    A escolha do local do atentado é particularmente simbólica: afeta o setor turístico, economicamente relevante, já abalado pelos atentados anteriores (em maio, houve uma queda de 34,7% na chegada de estrangeiros, em relação a maio de 2015, o maior retrocesso desde os anos 90).

    Além disso, ataca o que Ali Veshi, da CNN, descreve como "possivelmente a mais cosmopolita e mais populosa área de Istambul" (o Atatürk superou Frankfurt no ano passado, para se tornar o terceiro mais movimentado da Europa).

    Cosmopolitismo é algo que ofende o primitivismo do Estado Islâmico, mas também agride os curdos, confinados em regiões marginalizadas pelos sucessivos governos da Turquia.

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