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    Argentina tem aumento no número de denúncias de antissemitismo

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    29/06/2016 13h23 - Atualizado às 23h03

    A publicação da notícia na Alemanha de que um argentino pagou € 600 mil (R$ 2,2 milhões) pelo último uniforme militar de Adolf Hitler e 55 itens de líderes nazistas reacendeu o debate sobre antissemitismo na Argentina.

    Ainda sob efeito da polêmica da compra das peças, foi divulgada uma pesquisa da Daia (Delegação de Associações Israelitas Argentinas) informando que houve alta de 55% nas denúncias de atos antissemitas no país no ano passado —foram 478 no total.

    Eitan Abramovich/AFP
    Cartaz em rua de Buenos Aires mostra o presidente argentino, Mauricio Macri, como Hitler
    Cartaz em rua de Buenos Aires mostra o presidente argentino, Mauricio Macri, como Hitler

    Frases na internet com conteúdo ofensivo a judeus e pinturas na rua de suásticas são, por exemplo, considerados atos antissemitas. Desde que a pesquisa começou a ser realizada, em 1998, só em 2006 e 2009 houve mais denúncias que em 2015.

    A aquisição das peças foi feita em um leilão em Munique e incluiu uma radiografia da cabeça do ditador e o frasco do veneno utilizado por Hermann Göring, fundador da Gestapo, a polícia secreta nazista, para se matar.

    A identidade do comprador não foi divulgada pela leiloeira Hermann Historica, mas sua nacionalidade foi revelada pelo tabloide "Bild".

    A Daia pediu para que o governo argentino investigue quem fez a compra. Segundo o jornal alemão, as peças seriam expostas em um museu.

    "Nunca vimos um museu destinado a mostrar itens de criminosos. Qualquer exibição de objetos que provoquem ódio pode ser enquadrada na lei contra discriminação", destacou Ariel Sabban, presidente da entidade.

    Sabban disse estar preocupado com o aumento do antissemitismo no país, que tem a maior comunidade judaica da América Latina (são 250 mil judeus argentinos, enquanto no Brasil são 120 mil).

    O principal motivo para o incremento foi a repercussão da morte do promotor Alberto Nisman, de acordo com a diretora de estudos sociais da Daia, Marisa Braylan.

    De origem judaica,Nisman foi encontrado morto no banheiro do seu apartamento, em Buenos Aires, em janeiro de 2015, quatro dias após denunciar a então presidente, Cristina Kirchner, por supostamente encobrir o envolvimento do Irã no atentado terrorista contra a Amia (Associação Mutual Israelita Argentina). No ataque, em 1994, 85 pessoas morreram.

    Após a morte de Nisman, dezenas de comentários com conteúdo antissemita foram feitos na internet, grande parte em sites de jornais, embaixo de notícias sobre o assunto. Nos outros anos em que as denúncias antissemitas atingiram patamares altos, as causas foram sobretudo crises no Oriente Médio.

    Para Sabban, a Argentina não é um país antissemita, mas existem alguns "focos" hostis aos judeus. O presidente da entidade lembra que, em Mar de Plata (420 km ao sul de Buenos Aires), há um grupo neonazista chamado Bandera Negra que já agrediu jovens gays e estrangeiros. Segundo a ONG La Alameda, há outros quatro grupos neonazistas no país.

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