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    Plebiscito britânico

    Secretário de Justiça britânico se candidata a cargo que nunca quis

    DIEGO ZERBATO
    DE SÃO PAULO

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    02/07/2016 02h00

    Mary Turner/AFP
    Boris Johnson (à direita) e o secretário de Justiça Michael Gove em coletiva de imprensa no domingo (24)
    Boris Johnson (à direita) e o secretário de Justiça Michael Gove em coletiva de imprensa no domingo (24)

    Principais apoiadores da saída britânica da União Europeia no Partido Conservador, Boris Johnson e Michael Gove perfilavam como os principais cotados para assumir o governo após a renúncia de David Cameron.

    A dobradinha –o primeiro como chefe de governo e o segundo como secretário das Finanças– era dada como certa. Até quarta (29) Gove dava demonstrações públicas de respaldo a Johnson.

    Em 24 horas acabaram as juras de apoio. Na quinta (30), o atual secretário da Justiça disse não acreditar que o ex-prefeito de Londres pudesse ser o homem para unir os britânicos após o resultado apertado do plebiscito.

    Ato contínuo, Boris Johnson desistiu de disputar o cargo que tanto almejou, "em vista das circunstâncias do Parlamento e após consultar colegas". E Michael Gove, que por anos disse não ter vontade de ser chefe de governo, lançou sua candidatura.

    Em discurso nesta sexta (1º) em Londres, o secretário da Justiça disse que fez "quase de tudo" para não ser candidato. "Relutei muito porque sei de minhas limitações. O que quer que seja carisma, eu não tenho; o que quer que seja glamour, nunca poderiam associar a mim".

    Ele afirmou ter mudado de ideia "porque meu coração disse". "Não disputo o cargo como um resultado de um cálculo, mas pelo ardente desejo de transformar o país."
    traição

    No discurso, Gove tentou desfazer a imagem de traidor. Ele e Johnson tinham uma relação desde a década de 1980, quando ambos eram colunistas de jornais –o secretário, do "The Times", e o ex-prefeito, do "Daily Telegraph".

    VAZAMENTO

    E foi justamente a busca de apoio da imprensa o pivô da separação. Na quarta (29), o canal de TV SkyNews publicou um e-mail vazado da mulher de Gove, a jornalista do "Daily Mail" Sarah Vine.

    Na mensagem, Vine instrui o marido a exigir um cargo a Boris Johnson para manter seu apoio. Uma das moedas de troca citadas por ela foi o apoio do dono do "Daily Mail", Paul Dacre, e do magnata Rupert Murdoch, que controla a News Corporation.

    Segundo a mulher de Gove, os dois empresários "instintivamente não gostam de Boris, mas confiam o suficiente em sua habilidade para dar seu apoio a uma candidatura Boris-Gove".

    O fato de a mensagem ter sido divulgada por um canal de Murdoch alimentou a suspeita de vazamento intencional. A revelação irritou os aliados próximos a Johnson e azedou a relação de vez.

    Apesar do rompimento, Gove manteve boa parte de suas propostas. Dentre elas, o fim da livre circulação de cidadãos da União Europeia e a criação de um sistema migratório baseado na qualificação de quem tenta entrar, a exemplo da Austrália.

    Assim como a rival e colega de gabinete Theresa May (secretária do Interior), defendeu só começar a negociar a saída com a UE quando o país estiver preparado. Para ele, isso só ocorrerá em 2017, contrariando a pressa do bloco para assinar o divórcio.

    Gove também negou a possibilidade de antecipar as eleições, previstas para 2020. Nesta sexta, um grupo de partidos liderado pelo ultranacionalista Ukip pediu novas eleições e a alteração da fórmula de distribuição do Parlamento. O grupo, que inclui liberais-democratas, verdes e galeses, defende um sistema misto de voto distrital com voto proporcional nacional. O atual sistema é distrital.

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