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    Novas mortes de negros por policiais elevam tensão racial nos EUA

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    07/07/2016 10h04 - Atualizado às 21h25

    Philando Castile, 32, geme de dor, a camisa branca ensopada de sangue. O policial que atirou nele ainda aponta a arma pela janela do carro.

    Sua namorada, Diamond Reynolds, transmitiu a agonia em tempo real, via streaming no Facebook, a partir de Falcon Heights, em Minnesota, na última quarta-feira (6).

    STF/AFP
    Fotografias mostram cenas do vídeo gravado imediatamente após a polícia disparar contra Castile
    Fotografias mostram cenas do vídeo gravado imediatamente após a polícia disparar contra Castile

    No vídeo, a filha de 4 anos chora no banco de trás enquanto a mãe questiona: "Você disparou quatro balas, senhor. Ele só estava pegando sua carteira de motorista".

    Um garoto de 15 anos, um dos cinco filhos de Alton Sterling, 37, chora ao lado da mãe, que fala à imprensa sobre a morte do ex-companheiro.

    Na terça (5), Sterling foi imobilizado, com o rosto no chão, em frente ao posto de conveniência onde vendia CDs em Baton Rouge, Louisiana. Após gritar "arma!" (que supostamente estaria no bolso do suspeito), o policial atirou várias vezes. O agente não prestou socorro imediato, conforme imagens registradas por celulares.

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    Sterling e Castile se tornaram os 122º e 123º negros mortos pela polícia americana em 2016, segundo banco de dados do "Washington Post".

    O número representa 24% de 509 vítimas. Os afroamericanos somam cerca de 13% da população americana, segundo o censo de 2010.

    As mortes, ocorridas em Minnesota e Louisiana numa janela de 24 horas, reaqueceram o debate sobre racismo e violência policial nos EUA.

    O presidente Barack Obama disse na quinta (7) que não as vê como "incidentes isolados" e que "todos os americanos deveriam estar profundamente perturbados" por elas.

    O governador de Minnesota, Mark Dayton, afirmou que ninguém deveria morrer por causa de uma lanterna quebrada (o que levou Castile a ser parado pela polícia, segundo a namorada).

    "Isso teria acontecido se passageiro ou motorista fossem brancos? Não creio", disse o governador, que pediu investigação federal.

    VIRAL

    Em outro vídeo no Facebook, Diamond explica por que exibiu ao vivo a morte do namorado, Castile: "Eu quis que viralizasse. A polícia não está aqui para nos proteger, mas para nos assassinar".

    "Em vez de cair num padrão previsível de divisão e politização do caso, vamos refletir sobre como podemos melhorar", afirmou Obama, o primeiro negro de 44 ocupantes da Casa Branca.

    O problema é que os EUA vêm refletindo há anos, sem que episódios semelhantes deixem de emergir, diz à Folha Eddie Glaude Jr., autor de "Democracy in Black".

    "É a contradição fundamental no coração da América. Não importa o quão comprometidos dizemos ser com a democracia, neste país a vida branca tem mais valor. A qualquer momento alguém pode respirar pela última vez pelo único motivo de ser negro."

    Como o era Michael Brown, 18, suspeito de roubar um pacote de cigarros em 2014 que foi morto por um oficial branco. O policial não foi indiciado. O caso deslanchou semanas de protestos (alguns violentos) em Ferguson. A cidade no Missouri é 67% negra, e só três de seus 53 policiais não eram brancos à época.

    Em 2015, Freddie Gray, 25, não resistiu a ferimentos na coluna, sofridos numa viatura. Ele foi carregado com pés e mãos algemados, sem o cinto de segurança, após ser preso com um canivete. Três dos seis policiais ligados ao caso são negros, assim como o juiz do caso, que vem dando veredictos favoráveis à tropa.

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