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    Transmissão ao vivo de confrontos força Facebook a pensar novo papel

    MIKE ISAAC
    SYDNEY EMBER
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    09/07/2016 14h23

    STF/AFP
    (COMBO) This combination of pictures created on July 07, 2016 shows an editor watching a video in Washington, DC, of the dying moments of a black man shot by Minnesota police after being pulled over while driving. A woman, identified on her Facebook page as Lavish Reynolds, livestreamed her boyfriend's dying moments after a new police shooting a day after a similar event in Louisiana. Police confirmed the shooting by an officer. Family and activists identified the victim as school cafeteria worker Philando Castile, 32. Castile can be seen in the driver seat, large blood stains spreading through his white shirt. Reynolds sat next to him and her young daughter was also traveling in the car. / AFP PHOTO / STF
    Combinação de fotos mostra editor acompanhando vídeo ao vivo da morte de Philando Castile

    Na terça à noite, quando as balas de atiradores cruzavam o centro de Dallas, no Texas (EUA), um passante, Michael Kevin Bautista, usou seu smartphone para transmitir os acontecimentos em tempo real pelo Facebook Live. Em menos de uma hora, a CNN divulgava a filmagem.

    Um dia antes, Diamond Reynolds fez uma transmissão com a mesma ferramenta em Falcon Heights, em Minnesota, após seu namorado, Philando Castile, ser alvejado e aumentar a temperatura da controvérsia sobre o tratamento de policiais para com cidadãos afro-americanos.

    Os dois vídeos em tempo real catapultaram o Facebook, em menos de 48 horas, a um espaço de destaque como fórum para eventos ao vivo e notícias em cima da hora. É uma posição que a empresa sempre almejou como forma de manter seus 1,65 bilhão de usuários cada vez mais engajados.

    Mas a natureza brutal dos eventos transmitidos pelo Facebook Live também colocou a empresa em uma situação complicada.

    O Facebook agora enfrenta questões complexas com vídeos que não eram sequer imaginados meses atrás, quando o serviço era dominado por assuntos leves, como o vídeo do BuzzFeed em que se explodia uma melancia.

    Agora, a rede social terá de estipular, quando necessário, se um vídeo ao vivo é explícito demais e se retirar esse conteúdo vai de encontro aos interesses da empresa caso este traga notícias importantes.

    "Há algumas empresas neste momento que estão em posição de oferecer um serviço de 'live streaming' nos quais transmissões individuais são facilmente descobertas e compartilháveis", diz Jonathan L. Zittrain, professor de direito e ciência da computação na Universidade de Harvard. "Isso as coloca em uma posição com a qual não lidam muito bem".

    Em uma postagem nesta quinta, antes do tiroteio contra os policiais de Dallas, o presidente-executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, falou sobre a transmissão de Reynolds.

    Enquanto as imagens de Castile morrendo eram "gráficas e dolorosas", esses vídeos "lançam luz sobre o medo pelo qual milhões de membros de nossa comunidade passam todos os dias". Ele não comentou qual será o papel do Facebook em policiar esse tipo de conteúdo no futuro.

    Na sexta, uma porta-voz do Facebook afirmou que a empresa entende "os desafios únicos dos vídeos ao vivo" e a importância de ter "uma abordagem responsável". Ela disse que não se ultrapassam limites se uma testemunha de um tiroteio usar o Facebook Live, mas se este for usado para piadas ou comemorações, será removido.

    Qualquer pessoa nos EUA com uma conta no Facebook e um smartphone pode começar a fazer um "live streaming". O vídeo é instantaneamente transmitido pela conta do usuário e pode ser visto por amigos e seguidores.

    O Facebook afirmou que o serviço segue as diretrizes de comunidade, que demarcam quais são as permissões dentro do site. Nessas diretrizes, a rede social conta com seus membros para identificar e remover conteúdo inapropriado.

    O material marcado é enviado para uma equipe que pode interromper a transmissão ou acionar as autoridades caso o evento seja perigoso ou ilegal. A rede social diz que também acrescenta avisos a vídeos muito explícitos depois que eles foram gravados -caso da transmissão de Reynolds– e pode restringi-los a adultos.

    Essas convenções são similares às diretrizes de outros sites que hospedam conteúdo gerado pelos usuários, como o Reddit e o Periscope.

    O Facebook já deu sinais de que ainda está tentando entender como lidar com o alcance de seu conteúdo. Depois que o vídeo de Castile foi postado, foi removido por algumas horas sem explicações. A rede social atribuiu a remoção a problemas técnicos, mas se recusou a dar mais informações sobre a questão.

    Em junho, removeu duas vezes uma postagem de um usuário em apoio às vítimas do tiroteio em massa em Orlando, na Flórida, o que também foi caracterizado como um "erro".

    Bruce Shapiro, diretor executivo do Centro Dart de Jornalismo e Trauma da Universidade de Columbia, afirmou que empresas que oferecem "live streaming" e contam com grandes audiências têm uma responsabilidade de informar o público e seus usuários sobre potenciais repercussões.

    "Organizações e plataformas terão que educar as pessoas sobre o impacto que seus vídeos terão", afirmou. Recentemente, o Facebook Live se tornou uma ferramenta para que as pessoas possam ser testemunhas. A empresa paga a diversas empresas, incluindo o "The New York Times", para criar transmissões ao vivo.

    A rede social corre para acompanhar, e em última análise superar, o Twitter, ferramenta-chave na distribuição de notícias e imagens da inquietação social que aconteceu em Ferguson, Missouri, a partir de 2014.

    "Parece mesmo um ponto crítico na habilidade do público para usar e responder às mídias ao vivo, de testemunhas no local", afirma Shapiro.

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