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    Plebiscito britânico

    ANÁLISE

    Com desinformação, Facebook sai como vilão na cobertura do Brexit

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    11/07/2016 17h42

    Andrew Cowie/Rex Shutterstock//Xinhua
    (160704) -- LONDRES, julio 4, 2016 (Xinhua) -- El líder del Partido de la Independencia de Reino Unido (UKIP, por sus siglas en inglés), Nigel Farage, participa durante una conferencia de prensa en el Centro Emmanuel, en Londres, Reino Unido, el 4 de julio de 2016. El político euroescéptico Nigel Farage dimitió el lunes como líder del Partido de la Independencia del Reino Unido (UKIP), alegando que su ambición política se había cumplido tras la victoria de los partidarios del "Brexit" en el referéndum británico. (Xinhua/Andrew Cowie/Rex Shutterstock/ZUMAPRESS) (jp) (ah) ***DERECHOS DE USO UNICAMENTE PARA NORTE Y SUDAMERIA***
    Nigel Farage no dia em que renunciou à liderança do Ukip

    As mentiras se evidenciaram já na manhã seguinte à aprovação do rompimento do Reino Unido com a União Europeia. Pela TV, um dos líderes da campanha vitoriosa voltou atrás na promessa central de transferir milhões de libras enviadas à UE para o sistema de saúde britânico, o NHS.

    Nigel Farage falou que não era promessa sua, e sim de outros integrantes da campanha, mas não demorou para surgir um vídeo que o desmentiu. Também não demorou para que ele renunciasse à liderança do partido ultranacionalista Ukip abandonasse a política.

    A promessa sobre os milhões para a saúde havia sido feita de maneira mais aberta por Boris Johnson, do Partido Conservador, que também acabou renunciando à sua própria candidatura para presidir a legenda e tentar se tornar o novo primeiro-ministro.

    Johnson, que foi prefeito de Londres, é jornalista, hoje colunista no "Telegraph", antes repórter no londrino "Times", de onde saiu por ter inventado uma informação. Eram ambos, Farage e Johnson, as faces mais conhecidas do "Brexit", a saída britânica da UE.

    O caso NHS disseminou a avaliação de que o eleitor do Reino Unido votou desinformado ou mal informado, mas não se chegou ainda a uma visão predominante sobre a responsabilidade. Não seria dos políticos -não se espera mesmo que falem a verdade.

    Em meio ao "Breget" generalizado, trocadilho com "Brexit" e "regret", arrependimento em inglês, apareceram dois alvos maiores, como culpados. Um é Rupert Murdoch, o magnata conservador, que apoiou por anos o rompimento com a UE.

    Para o analista Ken Doctor, do Nieman Journalism Lab, da Universidade Harvard, a definição para o resultado apertado em favor do Brexit caiu nas mãos dos eleitores mais velhos, leitores de tabloides como o "Sun", de Murdoch, jornal de maior circulação do país.

    Com manchetes abertamente enganosas como "Rainha apoia Brexit", foi o "Sun", com alguma ajuda do "Daily Mail", tabloide de passado pró-fascista, que permitiu a propagação das mentiras e decidiu, por fim, o resultado, acredita Doctor.

    Na busca de culpados pela desinformação, porém, o velho vilão Rupert Murdoch não é mais tão convincente. Outro jornal seu, o "Times", se declarou contra o Brexit. E a influência dos tabloides é relativamente pequena, sempre foi, no país da BBC.

    O novo vilão da desinformação, no Reino Unido e mundo afora, é Mark Zuckerberg. Para Emily Bell, do Tow Center for Digital Journalism, de Columbia, editora por anos no londrino "Guardian", é nos ambientes fechados do Facebook que as mentiras se firmam.

    É a plataforma social -que decidiu destacar informações compartilhadas por amigos, não jornalismo- que resolve hoje como os usuários vão se informar. É nela que a falsa promessa de milhões para o NHS se manteve inatingível, sem questionamento.

    Segundo pesquisa YouGov encomendada pelo Reuters Institute for the Study of Journalism, de Oxford, as redes sociais ultrapassaram os jornais como fonte de notícia no Reino Unido de 2015 para 2016, e o Facebook é, de longe, a rede de maior penetração no país.

    Não só lá. O destaque do próprio Reuters Institute, hoje comandado por Alan Rusbridger, também ex-"Guardian", é que através de toda a amostra de 26 países, Brasil inclusive, 51% dos entrevistados já afirmam usar mídia social como fonte de informação.

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