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    Nomeação de Boris Johnson é recebida com desânimo por líderes europeus

    DA REUTERS

    14/07/2016 11h30

    Leon Neal/AFP
    Brexit campaigner and former London mayor Boris Johnson prepares to leave after addressing a press conference in central London on June 30, 2016. Brexit campaigner Boris Johnson said Thursday that he will not stand to succeed Prime Minsiter David Cameron. / AFP PHOTO / LEON NEAL
    O ex-prefeito de Londres e um dos líderes da campanha pelo 'brexit' Boris Johnson em Londres

    Estigmatizado como mentiroso, covarde ou piadista, Boris Johnson viu sua nomeação para o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido ser recebida pela classe política europeia com um coro de desânimo.

    O chanceler francês, Jean-Marc Ayrault, evitou a costumeira etiqueta diplomática para questionar como um homem que mentiu durante a campanha pelo "brexit" pode ser um interlocutor confiável.

    "Não estou nem um pouco preocupado com Boris Johnson, mas... ele mentiu muito para os britânicos e agora está com as costas na parede", disse ele à rádio Europe 1 nesta quinta (14). "Preciso de um parceiro com quem eu possa negociar e que seja claro e confiável."

    Johnson foi acusado de enganar eleitores ao argumentar que o Reino Unido estava pagando 350 milhões de libras por semana para a União Europeia, montante que poderia ser gasto no sistema público de saúde. O valor não leva em conta o abatimento feito pela União Europeia ao orçamento de Londres nem o gasto do bloco europeu com gastos em projetos públicos e privados no Reino Unido.

    O novo chanceler, no entanto, diz que seu par francês enviou uma carta a ele dizendo que está ansioso para que possam trabalhar juntos e aprofundar a cooperação anglo-francesa. "Após uma votação como o referendo de 23 de junho, é inevitável que caia um pouco de gesso do teto das chancelarias europeias", disse Johnson nesta quinta. "Não é o resultado que estávamos esperando. Claramente eles estão expressando suas visões de uma maneira franca e livre."

    Líderes da União Europeia, entre eles Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, também condenaram uma declaração anterior de Johnson, de que a UE está seguindo o mesmo caminho que Adolf Hitler e Napoleão Bonaparte.

    O indisciplinado ex-prefeito de Londres também já ofendeu ou satirizou uma série de chefes de Estado, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o da Turquia, Tayyip Erdogan, além de ambos os candidatos para suceder Obama. Sobre a democrata Hillary Clinton, Johnson a comparou a "uma enfermeira sádica em um hospital psiquiátrico".

    Após a votação do dia 23 de junho que levou o Reino Unido a deixar a União Europeia, Johnson desdenhou da possibilidade de substituir o então primeiro-ministro, David Cameron, que defendeu a permanência do país dentro do bloco europeu.

    Para o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, o compromisso de Johnson era um claro sinal de que o Reino Unido queria deixar a União Europeia. Ele pediu à nova premiê britânica, Theresa May, que acabe com as incertezas e dê uma posição formal das intenções da retirada de Londres.

    Já a premiê alemã, Angela Merkel, em visita ao Quirguistão, recusou-se a comentar a nomeação de Johnson. Steinmeier, no entanto, chamou-o indiretamente de "irresponsável".

    Em breve entrevista após a indicação do novo chanceler, Steinmeier disse: "É amargo para o Reino Unido. As pessoas estão experimentando um despertar rude após políticos irresponsáveis atraírem o país para o "brexit" e então, uma vez que a decisão foi tomada, sair para jogar críquete em vez de assumir suas responsabilidades".

    Esse foi um aperitivo da recepção hostil que Johnson pode receber quando comparecer ao seu primeiro encontro de ministros das Relações Exteriores da União Europeia, em Bruxelas, na segunda-feira.

    Federica Mogherini, chefe de política externa da UE, havia convidado ministros para um jantar informal no qual discutiriam o impacto do "brexit" na política externa, mas diplomatas disseram que o encontro está em dúvida após a nomeação de Johnson.

    O ex-primeiro-ministro da Bélgica Guy Verhofstadt, hoje um líder federalista liberal no Parlamento europeu, resumiu os sentimentos de muitos no continente quanto publicou em sua conta no Twitter: "Claramente o humor britânico não tem fronteiras".

    Rebecca Harms, líder do grupo ecologista Greens, disse: "Primeiro eu pensei que fosse uma piada. Agora eu não sei se dou risada ou se choro. Mas eu sei que não é bom quando irresponsabilidade é premiada na política."

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