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    eleições nos eua

    Pelo Twitter, Trump anuncia Mike Pence como vice em sua chapa

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE NOVA YORK

    15/07/2016 12h07 - Atualizado às 13h31

    O virtual presidenciável republicano, Donald Trump, confirmou nesta sexta-feira (15), com um tuíte, que o governador de Indiana, Mike Pence, será seu vice.

    Escolhe, assim, um político tradicional de credenciais conservadoras, contraponto à volatilidade do magnata.

    Evangélico, Pence pode ajudar com o voto religioso —um em cada quatro americanos tem a mesma fé, segundo o Centro de Pesquisa Pew.

    Veja o tweet

    O governador apoiou o senador Ted Cruz (Texas), outro evangélico, nas prévias republicanas, mas com o cuidado de não melindrar sua relação com o empresário ("não sou contra ninguém").

    Agora que é a favor de Trump, pode ajudá-lo a construir uma ponte com Washington, onde foi deputado por 12 anos, com histórico de posições antiaborto, anti-LGBT e a favor da "família tradicional".

    O vice, nos EUA, também assume a presidência do Senado e é um dos articuladores da Casa Branca com o Congresso.

    Trump, que nunca concorreu a um cargo eletivo, prezava por alguém com experiência na capital.

    REALITY

    Nas mãos do ex-apresentador de TV, a escolha do número dois se assemelhou a um reality show.

    Ele pretendia divulgar o nome numa coletiva de imprensa nesta sexta (15), num hotel de luxo em Nova York, mas cancelou o plano por achar que não havia clima para tanto após o atentado em Nice.

    Na quinta (14), em e-mail a simpatizantes, Trump fomentou o clima de suspense, aparecendo em montagem ao lado da silhueta de um homem (dentro dela, um ponto de interrogação).

    "É um pouco como 'O Aprendiz' [reality de Trump]", disse o ex-presidente da Câmara Newt Gingrich, que estava no páreo pela vaga, assim como o governador de Nova Jersey, Chris Christie.

    /John Sommers II/Reuters
    Republican presidential candidate Donald Trump (R) and Indiana Governor Mike Pence (L) wave to the crowd before addressing the crowd during a campaign stop at the Grand Park Events Center in Westfield, Indiana, U.S. on July 12, 2016. REUTERS/John Sommers II/File Photo ORG XMIT: TOR331
    Donald Trump, e o governador de Indiana, Mike Pence, em comício no Estado

    "Tudo o que precisávamos era de um anúncio de que os finalistas competiriam num desafio que envolve comer o fígado cru de marmotas", ironizou a colunista do "New York Times" Gail Collins.

    Trump, em vez de apostar "o dobro ou nada" com Gingrich ou Christie, de personalidades expansivas e polemistas como ele, preferiu uma escolha mais moderada com Pence.

    Durante uma campanha, o vice em geral incorpora o papel do cão de guarda para atacar o presidenciável do outro partido, poupando seu candidato de "sujar as mãos".

    Na terça (12), Trump e Pence participaram juntos de um comício, que foi considerado um "test-drive" para o governador.

    Em tom populista, o então aspirante a vice esbravejou que Hillary era "desqualificada" e "nunca deveria ser presidente". Na manhã seguinte, tomou café da manhã com Trump e três de seus filhos. Passou no teste.

    Pence, contudo, nem sempre esteve na mesma sintonia que Trump. Em dezembro, usou o canal de comunicação preferido do novo melhor amigo, o Twitter, para dizer que sua proposta de banir muçulmanos dos EUA era "ofensiva e inconstitucional".

    Em 2014, meses antes de o magnata anunciar sua candidatura, o governador elogiou na rede social o Tratado Transpacífico, que significava "empregos" e "segurança".

    Trump já aproveitou várias oportunidades para massacrar o acordo comercial entre EUA, Japão e outras dez economias, alegando que os trabalhadores americanos seriam prejudicados por ele.

    FAMÍLIA

    Para atrair votos evangélicos, Pence terá de fazer as pazes com essa parte do eleitorado, depois de reverter uma lei estadual de "liberdade religiosa" que ele próprio havia assinado.

    Na teoria, a legislação resguardava o direito de uma pessoa a professar livremente sua fé. Na prática, permitia que uma empresa negasse serviços à comunidade LGBT caso isso ferisse seus princípios.

    A lei foi alvo de boicote nacional, atraindo a fúria de companhias (Yelp, Apple, Twitter) e até de bandas de rock (Wilco).

    O governador desagradou evangélicos ao voltar atrás e sancionar uma versão revisada do texto, na qual discriminar alguém com base em sua orientação sexual é explicitamente proibido.

    No Congresso, ele se comprometeu com "o direito inalienável à vida" (antiaborto) e a ideia da "família tradicional" (casamento entre homem e mulher).

    Em sintonia com a política anti-imigração defendida por Trump, apoiou textos que derrubariam a cidadania automática para filhos americanos de imigrantes ilegais e autorizariam a detenção de pessoas sem documento que fossem se tratar num hospital. Nenhum deles passou.

    O perfil conservador compensa a desconfiança de parcela do eleitorado com o magnata nova-iorquino que, no passado, já respaldou campanhas democratas e tem no mínimo posições ambíguas sobre aborto.

    Outra vantagem: Pence é tido como habilidoso na arte de arrecadar fundos, um calcanhar de Aquiles na campanha republicana.

    É próximo dos bilionários irmãos Koch. Um deles, Charles Koch, nono homem mais rico do mundo na lista da "Forbes" e um dos bastiões do conservadorismo americano, tornou pública sua aversão a Trump. Em abril, ele disse que a democrata Hillary Clinton "possivelmente" seria uma tragédia menor do que ele.

    Mike Pence cresceu na vida pública como apresentador de rádio nos anos 1990. Disse certa vez: "Anos atrás, no meu programa, costumava falar: 'Sou um conservador, mas não sou ranzinza por causa disso'".

    Em 1990, quando concorria ao Congresso, o político calouro veiculou anúncio em que um homem com forte sotaque árabe e óculos escuros agradecia a seu rival democrata por compactuar com a dependência americana ao petróleo do Oriente Médio.

    No ano seguinte, o cristão arrependido escreveu um ensaio intitulado "Confessions of a Negative Campaigner" (confissões de um político em campanha negativa).

    O texto começava citando uma passagem da Bíblia sobre pecado e dizia: "Uma campanha deve mostrar a decência básica humana de um candidato".

    Neste sábado (16), ele fará seu primeiro evento público como vice de Trump, em Nova York.

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