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    Tarifaço muda rotina de argentinos e gera protestos

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    18/07/2016 02h00

    Na última quinta-feira (14), a argentina Liliana Dubchuk, 39, desembolsou 581,34 pesos (cerca de R$ 125) para pagar sua conta mensal de luz.

    O valor é 14 vezes maior do que o que ela costumava pagar antes do tarifaço do presidente Mauricio Macri. Até então, o boleto vinha bimensalmente e cobrava aproximadamente 80 pesos (R$ 17).

    No fim de janeiro, o mandatário deu início a um programa de retirada de subsídios a serviços básicos, como energia, gás e transporte.

    A medida fez com que as tarifas subissem 500%.

    Em casos em que o consumo ultrapassa um teto tarifário, no entanto, o reajuste é maior, chegando a 1.000%.

    Os subsídios haviam sido implantados durante o kirchnerismo (2003-2007) e elevado os gastos do Estado.

    Macri os cortou com o objetivo de reduzir o deficit fiscal, que alcançou 6,1% do PIB em 2015, último ano de Cristina Kirchner no poder.

    Sem a ajuda financeira do Estado, Dubchuk pagará neste mês 861,86 pesos de gás (em janeiro, quando o consumo costuma ser menor por causa do calor, foram 187,22 pesos) e 268 pesos de água (antes eram 55 pesos).

    Desde que os reajustes foram anunciados, a família de Dubchuk mudou seus hábitos. Enquanto os dois aparelhos de ar-condicionado que haviam sido instalados nos quartos há um ano, com função para esquentar o ambiente, ficam desligados, o aquecedor da sala não é usado por mais de duas horas por dia.

    "Agora ficamos cheios de casacos mesmo dentro de casa", disse à Folha.

    Desempregada há três meses e com a inflação em Buenos Aires batendo a casa dos 30% nos seis primeiros meses do ano (boa parte, impulsionada pelos ajustes dos serviços), Dubchuk deixou de jantar fora e fazer churrascos. Agora, o cardápio dos encontros com os amigos é pizza ou empanadas, mais baratas. A filha saiu das aulas de dança.

    Assim como Dubchuk, 70,7% dos argentinos reduziram o consumo de água, gás e luz por causa do aumento nas tarifas, segundo pesquisa da Giacobbe Consultores com 3.000 pessoas.

    Na casa do torneiro mecânico Rubens Sánchez, 59, a conta de gás passou de cerca de cem pesos (R$ 22) para oitocentos pesos (R$ 175) e equivale agora a 23% do aluguel.

    Sánchez também reduziu o uso do aquecedor, apesar de o inverno estar mais rigoroso neste ano, e até o forno é ligado com parcimônia.

    O argentino não pagou a última conta de gás e aguarda o desenrolar de uma ação na Justiça que bloqueou, em 8 de julho, o reajuste do combustível em todo o país.

    Os aumentos nos preços dos serviços passaram a ser um dos principais problemas da população. Na quinta (14), argentinos em todo o país realizaram um panelaço contra as novas tarifas. Foi o primeiro protesto com panelas contra o governo Macri.

    A maioria dos consumidores diz entender que os ajustes eram necessários (71% dos ouvidos pela Giacobbe afirmaram que as tarifas estavam defasadas). Pouco mais de 80% dos entrevistados, porém, disse que o incremento deveria ter sido gradual, e não repentino —como se deu.

    Por enquanto, a retirada dos subsídios não impactou de forma expressiva a popularidade de Macri. Sua aprovação está em 57% desde abril —quando assumiu, em dezembro, era de 65%.

    Já o ministro de Energia, Juan José Aranguren, é bem-visto por 29% da população e malvisto por 31%.

    "As pessoas estão dissociando a economia da política e os ministros é que estão pagando os custos dos reajustes", afirma o diretor da consultoria, Jorge Giacobbe.

    No protesto da noite de quinta, os manifestantes pediam a cabeça de Aranguren. Dois dias antes, o ministro havia negado à Rádio Nacional que cogitara deixar o cargo.

    Aranguren disse ser "inviável" cancelar os aumentos. Os subsídios concedidos durante o krichnerismo e o congelamento das tarifas paralisaram investimentos no setor de energia nos últimos anos.

    Hoje, quando faz muito frio ou muito calor, o sistema não suporta o aumento da demanda, faltando luz em diversos pontos da Argentina.

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