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    Por que a estabilidade da Turquia é importante para o mundo

    JEREMY BOWEN
    DA BBC

    18/07/2016 09h58

    A Turquia é um país dividido e infeliz. As motivações da tentativa de golpe de Estado da última sexta (15) não estão claras, mas tentou-se tomar o poder no momento em que a Turquia sofre o contágio da violência da guerra na Síria e por divisões causadas pelo projeto do presidente Recep Tayyip Erdogan de transformar o país.

    O governo turco acusou indiretamente o clérigo islâmico Fethullah Gülen de estar por trás do golpe fracassado.

    No passado, Erdogan já acusou Gülen por uma série de problemas do país.

    O primeiro-ministro, Binali Yildirim, ameaçou qualquer país que dê "suporte" a Gülen. "Não será amigo da Turquia e será considerado em guerra contra a Turquia", afirmou.

    Gülen vive em um autoexílio nos Estados Unidos. Ele já foi aliado de Erdogan, e chegou a ser considerado o segundo homem mais poderoso da Turquia, depois do presidente.

    ERDOGAN FORTALECIDO?

    A Turquia é importante no Oriente Médio por sua localização geográfica, com um pé na Europa e outro na Ásia. Também porque é um membro de peso na Otan (aliança militar do Ocidente) e porque o presidente islamista Erdogan e seu partido AKP mantêm interesse especial pelos governos muçulmanos sunitas da região.

    Em discurso que uma apresentadora turca disse ter sido obrigada a ler, os responsáveis pela tentativa de golpe disseram que estavam tentando restaurar a democracia secular do país.

    O partido do governo AKP se tornou especialista em vencer eleições, mas sempre houve dúvidas sobre o comprometimento de longo prazo de Erdogan com a democracia.

    Ele uma vez comparou a democracia com um ônibus que você pega até seu destino e depois desce.

    Erdogan é um político islamista que rejeitou a herança secular turca.

    Ele se tornou autoritário gradativamente, prendendo jornalistas incômodos e outros cidadãos.

    Agora que conseguiu evitar o golpe, ele poderia tentar impor um regime ainda mais duro ao país.

    Erdogan foi primeiro-ministro por muitos anos, de 2003 a 2014. Ele agora tenta alterar a Constituição do país para se transformar em um presidente com amplos poderes concentrados no Executivo.

    JOGADOR-CHAVE

    Erdogan e suas gestões se envolveram na guerra civil na Síria desde o início do conflito, em 2011, apoiando milícias islâmicas que combatem o regime do ditador Bashar al-Assad.

    A violência, contudo, ultrapassou as fronteiras da Síria. Acabou reacendendo o conflito do governo turco com os curdos do PKK e tornando o país um alvo para os militantes que se autodenominam Estado Islâmico.

    O Ocidente vê a Turquia como parte da solução no Oriente Médio. Isso requer estabilidade, e sem ela pode-se fazer uma simples equação:

    Turbulência no Oriente Médio + turbulência na Turquia = problemas para todos.

    Mas é possível dizer que a Turquia também construiu os próprios problemas na região e está altamente presa aos conflitos de seus vizinhos.

    As gestões de Erdogan mostraram um desejo muito maior de se envolver em conflitos no Oriente Médio do que o povo turco.

    Ele tem sido um apoiador-chave das milícias majoritariamente islâmicas que vem lutando contra o ditador sírio desde 2011.

    Erdogan melhorou recentemente as relações da Turquia com Israel, mas ele também tem afinidade natural com o grupo militante palestino Hamas, inimigo de Israel, com quem divide raízes na chamada Irmandade Muçulmana.

    E a Turquia é vista pela União Europeia como parte vital dos esforços para controlar o fluxo de migrantes do Oriente Médio.

    A Turquia está enfrentando cada vez mais turbulência, e a tentativa de derrubar o presidente Erdogan não será a última.

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