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    eleições nos eua

    Trump e Pence estão na mesma chapa, mas nem sempre do mesmo lado

    ANDREW ROSS SORKIN
    THE NEW YORK TIMES

    20/07/2016 11h51

    /John Sommers II/Reuters
    Republican presidential candidate Donald Trump (R) and Indiana Governor Mike Pence (L) wave to the crowd before addressing the crowd during a campaign stop at the Grand Park Events Center in Westfield, Indiana, U.S. on July 12, 2016. REUTERS/John Sommers II/File Photo ORG XMIT: TOR331
    Donald Trump e o governador de Indiana, Mike Pence, durante comício no Estado

    Se há algo consistente sobre as visões empresariais do governador Mike Pence, de Indiana, mais conhecido como o companheiro de chapa de Donald Trump, é que elas muitas vezes não estão alinhadas com as opiniões do magnata, que fez campanha sobre a sua experiência nos negócios.

    Entre os projetos de lei aos quais Pence se opôs, enquanto foi deputado, estiveram aqueles que acabaram por ter as maiores repercussões em Wall Street e na indústria norte-americana: o resgate financeiro de US$ 700 bilhões (cerca de R$ 2,3 trilhões) da indústria financeira –o chamado Programa de Alívio de Ativos Problemáticos– e o resgate da indústria automobilística.

    Por outro lado, Pence votou a favor de alterar a Constituição para exigir um orçamento equilibrado e a redução de impostos sobre ricos e corporações.

    Os pontos de vista de Trump sobre essas questões não são tão oficiais como os votos de Pence no Congresso, mas os sinais que o candidato republicano deu em aparições nos meios de comunicação sugerem que os dois estão longe de funcionar em uníssono. Não que isso chegue a ser importante para Trump: quando indagado, no programa de TV "60 Minutos", sobre o voto de Pence a favor da Guerra do Iraque –um voto com que ateava fogo a Hillary Clinton–, respondeu: "Não me importo".

    Divulgação
    O provável candidato republicano, Donald Trump, durante entrevista conjunta com seu vice, Mike Pence
    O provável republicano à Presidência, Donald Trump, em entrevista conjunta com seu vice, Mike Pence

    Vamos relembrar: em 2008, com a economia oscilando à beira do abismo, o então deputado Mike Pence estava furioso ao ser apressado a votar em um pacote de resgate. "Tenho de dizer que há pessoas no debate público que disseram que temos de agir agora. A última vez em que ouvi isso estava em um estacionamento de carros usados", disse à época. Ele votou contra o Programa de Alívio de Ativos Problemáticos, sugerindo que seria melhor para o país confrontar "esta crise com coragem e firmeza, e fé em Deus e nos princípios da liberdade e da livre iniciativa".

    Quando a indústria automobilística quase entrou em colapso em 2009, Pence novamente se opôs ao resgate fornecido por Washington. "Ao entregar simplesmente US$ 15 bilhões (cerca de R$ 49 bilhões) a Detroit hoje, por mais que isso possa ser popular entre alguns norte-americanos, acredito, sinceramente, que no final será um desserviço para o contribuinte norte-americano, para nossos filhos e nossos netos", declarou.

    Em 2008, Trump, que fez campanha para presidente, em grande parte, baseado na sua trajetória como homem de negócios, foi entrevistado na Fox News sobre a possibilidade de resgate dos bancos. "É triste, mas, provavelmente, isso é algo que tenha de ser feito, porque o sistema financeiro muito provavelmente se paralisará se isso não acontecer." Na CNN, disse: "Talvez funcione, talvez não. Mas com certeza vale tentar."

    E, se há alguma dúvida sobre os seus sentimentos, em outra entrevista em 2009, ele disse: "Eu concordo com o que estão fazendo com os bancos. Não importa que os financiem ou que os nacionalizem, você tem que manter os bancos funcionando".

    Henry M. Paulson Jr., ex-secretário do Tesouro que foi o principal arquiteto do Programa de Alívio de Ativos Problemáticos, recentemente rompeu com seu próprio partido. Declarou que Trump era um impostor e prometeu votar em Hillary Clinton.

    Quando o assunto foi o resgate à indústria automobilística, Trump também se opôs a Pence: "Acho que o governo deveria apoiá-la 100%", disse à Fox News. "Não dá para perder as montadoras. Elas são ótimas. Fazem produtos maravilhosos."

    As várias diferenças entre Trump e Pence vêm sendo bem documentadas ao longo dos últimos dias. Mas mesmo um exame superficial das posições de Pence sobre negócios e sua relação com a indústria mostram que os candidatos à Presidência e à vice-Presidência podem não estar em sintonia.

    Isso não quer dizer que Trump e Pence discordem sobre tudo quando se trata de negócios. Ambos querem anular a lei de reforma regulatória Dodd-Frank, por exemplo, e querem diminuir impostos individuais e corporativos. (Embora ambos tenham defendido impostos individuais e empresariais mais baixos, algumas vezes Trump sugeriu que poderia aumentar os impostos aos ricos.)

    No final, curiosamente, acrescentar Pence à chapa pode tornar mais difícil para Trump angariar dinheiro da comunidade empresarial –não por causa de posições políticas, mas por conta das regras de arrecadação de fundos. Como Pence é um governador vigente, doações de Wall Street entram em uma obscura lei da Comissão de Valores Mobiliários destinada a evitar tentativas de toma-lá-dá-cá de fundos de pensão estatais, de acordo com a OpenSecrets.org.

    "A norma impede 'consultores de investimento registrados na comissão' de contribuir com mais de US$ 250 - US$ 350 (aproximadamente, R$ 815 - R$ 1140) para autoridades locais ou estatais que poderiam escolher a empresa que administraria um fundo de pensão local ou estadual, ou alguma parte dele", informou o site da organização. "Isso significa que a maioria dos fundos hedge e das empresas de private equity –seus PACs, seus executivos, seus gestores de fundos e, provavelmente, sua equipe de relações com investidores– não podem doar à chapa."

    Mas talvez, como Trump já concluiu e disse no domingo (17) à noite, ele "não se importe".

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