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    Muçulmanos são um terço das vítimas do atentado com caminhão em Nice

    ALISSA J. RUBIN
    LILIA BLAISE
    DO "NEW YORK TIMES", EM NICE (FRANÇA)

    21/07/2016 11h00

    Valery Hache/AFP
    Police officers and rescued workers stand near a van that ploughed into a crowd leaving a fireworks display in the French Riviera town of Nice on July 14, 2016. The mayor of the French city of Nice said dozens of people were likely killed after a van rammed into a crowd marking Bastille Day in the French Riviera resort today and urged residents to stay indoors. / AFP PHOTO / VALERY HACHE ORG XMIT: VH20199
    Policiais próximos ao caminhão usado em atentado terrorista em Nice, na Riviera Francesa

    Quando um tunisiano atacou uma multidão numa rua de Nice com um caminhão, na semana passada, numa ação reivindicada pelo Estado Islâmico, mais de um terço das pessoas que ele matou foi formado por muçulmanos, disse na terça-feira o diretor de uma associação islâmica regional.

    Kawthar Ben Salem, porta-voz da União dos Muçulmanos do departamento dos Alpes Marítimos, disse que funerais muçulmanos estavam sendo celebrados para pelo menos 30 dos mortos no ataque do Dia da Bastilha, incluindo homens, mulheres e crianças.

    A promotoria de Paris, que é responsável pelas investigações de terrorismo, informou na terça-feira que todos os 84 mortos no ataque já foram formalmente identificados, o que significa que o número de mortos muçulmanos pode ser ainda maior. O número de feridos também subiu, para 308 pessoas.

    O ataque ocorreu depois de uma queima de fogos de artifício, quando o tunisiano identificado como Mohamed Lahouaiej Bouhlel, na direção de um caminhão de carga, ultrapassou uma barreira e acelerou o veículo no momento em que as pessoas começavam a sair da área da praia. O caminhão foi jogado contra a multidão, indo de um lado da rua para outro. A rua tinha sido fechada para o tráfego de veículos, devido ao espetáculo.

    Cerca de 120 mil pessoas no departamento dos Alpes Marítimos são do Magreb, região que abrange a Argélia, Tunísia e Marrocos, e, embora a maioria seja provavelmente formada por muçulmanos, alguns são judeus ou cristãos, segundo estimativas de várias associações locais.

    Nice também é um destino procurado por muçulmanos do Senegal e outros países francófonos da África ocidental, e há também uma comunidade grande de muçulmanos das Ilhas Comores.

    "A situação é complicada em termos de estar de luto pelo mundo inteiro, e é também um pouco complicada para a comunidade muçulmana, que teme que atos de violência" sejam dirigidos contra ela, disse Ben Salem. "Estamos transmitindo uma mensagem global de que a barbárie afeta o mundo inteiro e que as pessoas aqui, as vítimas, não são aquelas que cometem os crimes na Síria e no Iraque."

    Pelo menos dez crianças e adolescentes foram mortos no ataque, mas, disse Ben Salem, pelo fato de Lahouaiej Bouhlel ter sido identificado como muçulmano, "muitas pessoas não percebem que algumas crianças muçulmanas foram mortas juntamente às outras".

    Milhares de moradores locais e turistas foram assistir à queima de fogos de 14 de julho. É um evento gratuito promovido na bela avenida de beira-mar que acompanha o contorno da baía.

    Oucine Jamouli, 62, presidente de uma associação marroquina, atribuiu a grande presença de muçulmanos na festa pelo menos em parte ao fato de que se bebe menos álcool no Dia da Bastilha que em outros grandes eventos em Nice, porque é um dia de festa familiar.

    O Dia da Bastilha também é menos religioso que alguns dos outros principais eventos festivos em Nice: a feira natalina, a Terça-Feira de Carnaval e a queima de fogos de 15 de agosto para comemorar o dia da Assunção de Maria.

    "Muita gente de todas as raças, todas as cores e todas as religiões vão à queima de fogos", disse Jamouli, que tem um restaurante marroquino a uma quadra da Promenade des Anglais, onde ocorreu o ataque. "O alvo do terror é a sociedade inteira e sua liberdade."

    Cidadãos de pelo menos 13 países morreram no ataque, segundo informações de chancelarias de vários países. Entre os mortos havia cidadãos da Estônia, França, Alemanha, Rússia, Suíça, Tunísia e Estados Unidos.

    Para os muçulmanos que morreram no ataque, a associação islâmica fará um ritual muçulmano de purificação do corpo e recitará orações. Dependendo da vontade das famílias, os corpos poderão ser sepultados em Nice ou repatriados para seus países de origem.

    A embaixada dos Estados Unidos disse que há vários americanos cujos paradeiros são desconhecidos. Parentes desses desaparecidos teriam contatado diplomatas para dizer que não têm notícias de familiares que, acredita-se, estavam em Nice na época dos ataques.

    O primeiro-ministro da Estônia, Taavi Roivas, disse em comunicado na terça-feira: "Estamos tendo que enfrentar uma realidade cruel pela primeira vez e admitir que a agonia do terrorismo nos atingiu da maneira mais triste possível".

    Os dois estonianos mortos no ataque foram uma mulher cujo nome não foi divulgado e que estava caminhando na Promenade des Anglais com sua neta e um estudante de 21 anos da Universidade de Tecnologia de Tallinn, identificado como Rickhard Kruusberg.

    Michel Raineri, o embaixador francês na Estônia, enviou na terça-feira uma carta de condolências ao presidente Toomas Hendrik Ilves, escrevendo que o ataque "reafirma que apenas a união da Europa pode nos ajudar a derrotar o ódio e a hostilidade".

    Tradução de CLARA ALLAIN

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