• Mundo

    Saturday, 04-May-2024 03:28:17 -03

    Chefe da Unasul diz que Vaticano se unirá a negociações na Venezuela

    SAMY ADGHIRNI
    DE CARACAS

    22/07/2016 02h00

    O secretário-geral da Unasul (União de Nações Sul-Americanas), Ernesto Samper, disse nesta quinta que a Igreja Católica se juntará ao esforços internacionais em busca de um diálogo entre governo e oposição para apaziguar tensões na Venezuela.

    O anúncio ocorreu durante visita a Caracas na qual Samper e outros representantes da Unasul também trataram de um pacote de medidas econômicas sugerido ao presidente Nicolás Maduro para frear a grave crise econômica no país.

    Juan Barreto - 21.jul.2016/AFP
    Moradores picharam "Militares corruptos, o povo tem fome" em muro de Maracay, a 70 km de Caracas
    Moradores picharam "Militares corruptos, o povo tem fome" em muro de Maracay, a 70 km de Caracas

    "A aceitação da participação do Vaticano irá nos enriquecer espiritualmente e politicamente", disse Samper, acompanhado dos três ex-dirigentes que atuam na Venezuela em nome da Unasul: o ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, o ex-presidente dominicano Leonel Fernández e o ex-presidente panamenho Martín Torrijos.

    A medida atende uma das principais condições da aliança de partidos opositores MUD (Mesa da Unidade Democrática) para dialogar com Maduro.

    Em 2014, quando protestos antigoverno resultaram em 43 mortos, a Igreja Católica havia tentado mediar um diálogo, mas caiu em desgraça com o chavismo por apoiar a oposição.

    A MUD também condiciona o diálogo à libertação de opositores e ao respeito ao funcionamento do Legislativo, dominado pela oposição, mas neutralizado pelo Executivo. Já Maduro exige apoio ao seuprograma de "emergência econômica", que aumenta controles do Estado sobre o setor privado.

    A Unasul propõe uma espécie de meio termo entre o modelo socialista e o opositor para reverter a espiral de desabastecimento e inflação que assola os venezuelanos.

    Mas o pacote do bloco, apresentado a Maduro em junho e cujos detalhes não são públicos, encontra resistência dentro do governo chavista, segundo a Folha apurou.

    Uma das propostas é substituir o complexo modelo de câmbio, que possui duas taxas oficiais às quais se soma uma cotação paralela muito usada, por um sistema unificado e flutuante.

    Segundo economistas da Unasul, entre os quais o brasileiro Pedro Barros, emprestado pelo Ipea, e o venezuelano Francisco Rodríguez, ex-guru do tema Venezuela no Bank of America, a cotação dupla gera distorções que favorecem especuladores e pioram o desabastecimento.

    A proposta tem apoio da vice-presidência econômica, mas o ministério do Comércio Exterior é contra.

    Outro aspecto polêmico é a proposta de trocar subsídios indiretos (embutidos no preço de gasolina, luz e alimentos) por subsídios diretos em dinheiro.

    O sistema funcionaria com base num cartão de débito entregue a cada família venezuelana, semelhante ao Bolsa Família brasileiro.

    O cartão já foi entregue de forma experimental a 300 mil famílias. O sistema garante a cada uma 14 mil bolívares (US$ 14 na cotação paralela usada por particulares) mensais disponíveis no cartão.

    A Unasul busca estendê-lo a mais 2 milhões de famílias, mas isso exigiria a criação de um cadastro nacional integrado de beneficiários, ao qual se opõem setores chavistas envolvidos num recém-criado sistema de distribuição de alimentos.

    Batizado de CLAP (Comitês Locais de Abastecimento e Produção), o projeto busca reduzir a participação do comércio na distribuição de alimentos em favor de um modelo de entrega de comida a partir de grupos de vizinhança chavistas.

    Na prática, os CLAP garantem poder discricionário a essas organizações chavistas, que distribuem alimentos sem prestar contas e são acusadas de chantagem política.

    O governo venezuelano não retornou pedidos de entrevista.

    Algumas propostas da Unasul já são implementadas. Sem alarde, o Banco Central da Venezuela enviou dados econômicos atualizados ao FMI (Fundo Monetário Internacional), algo que não acontecia havia 12 anos.

    Outro tema é a renegociação das bilionárias dívidas de Caracas junto ao clube de Paris, grupo informal de credores em 21 países. As negociações estão a cargo do ex-presidente Fernández, com bom trânsito nos EUA.

    *

    PRINCIPAIS PROPOSTAS DA UNASUL
    — Unificação e flutuação cambiária
    — Aumento dos preços da gasolina e da eletricidade
    — Substituição progressiva dos subsídios por remessas em dinheiro
    — Renegociação?das dívidas
    — Reforma tributária
    — Maior transparência?na gestão dos dados econômicos

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024