"Trate cada decisão como uma amante", recomenda Donald Trump, em "Pense Como um Bilionário", um de seus muitos livros de autoajuda com verniz executivo.
Trump, 70, que há anos cortejava a ideia de concorrer à Casa Branca, anunciou 402 dias atrás sua entrada nas prévias republicanas, na Trump Tower de Manhattan.
Para o evento, ofereceu US$ 50 a figurantes que vestissem a camisa da campanha, com o slogan "Faça a América Incrível de Novo", emulando o usado por Ronald Reagan em 1980.
Os dias sem quórum ficaram para trás. Trump sai da convenção republicana, encerrada nesta quinta (21), como candidato do partido após derrotar 16 adversários e conquistar mais votos do que qualquer antecessor nesta etapa, quando a legenda elege seu presidenciável: 13,3 milhões, 1,3 milhão a mais do que George W. Bush em 2000.
Parte da cúpula republicana (a começar pelos Bush) o renega, mas isso não deteve o "trem Trump", como ele chama sua campanha.
Quem ousou ficar no caminho pagou dividendos eleitorais, como o senador Ted Cruz, vaiado por milhares na convenção por não dar apoio ao ex-rival de prévias. Trump arrebatou a base republicana com um discurso anti-Washington e posições radicais sobre imigração (murar a divisa com o México) e segurança (vetar muçulmanos).
Vende-se como solução para uma classe média branca espremida pela crise de 2008, ainda sem chão após o colapso da economia do país.
TV E NEGÓCIOS
Ex-apresentador de reality show e dono de um império empresarial, Trump coleciona falências –de cassinos à marca de filé com seu nome.
Ainda assim, explora a imagem de empresário de sucesso para convencer que pode administrar a economia melhor do que ninguém.
Se vencer a eleição, será o presidente mais rico que o país já teve, com uma fortuna de US$ 10 bilhões, segundo ele, ou US$ 4,5 bilhões, na conta da "Forbes" (nove vezes mais do que tinha, em valores atualizados, o pioneiro no cargo, George Washington, dono de vastas terras).
Suas credenciais conservadoras, contudo, não preocupam apenas o ex-rival Cruz.
"Se Trump representa um dedo do meio a um establishment republicano que abandonou seus princípios, não é curioso o partido escolher um homem sem princípios?", diz o articulista do "Washington Post" Charles Krauthammer.
Protestante, o candidato diz que a Bíblia é seu livro favorito, mas seu estilo de vida faz o eleitorado americano, 25% evangélico, hesitar.
Casou três vezes e trocou as duas primeiras mulheres por outras mais novas (começou com a ex-modelo tcheca Ivana, 67, e vive hoje com a ex-modelo eslovena Melania, 46, passando pela atriz americana Marla Maples, 52).
Define mulheres rivais como "canhões" e, sobre Ivanka, disse que a namoraria "se não fosse minha filha".
Se hoje encampa ideias conservadoras, em 1999 disse ser a favor do direito ao aborto. Em abril, irritou conservadores ao afirmar que a transexual Caitlyn Jenner é bem-vinda no banheiro feminino da Trump Tower.
Especialistas apostam que o rancor do eleitor contra a democrata Hillary Clinton e políticos tradicionais pesará mais. Conservadores se ressentem de uma oposição republicana, ainda que majoritária no Congresso, considerada tímida contra o "socialista" governo Barack Obama.
"Não amo tudo o que Trump diz, mas gosto mais dele do que Hillary. Se você quer um candidato com quem concorda 100%, isso não acontece mais", afirmou à Folha Rick Grennel, ex-porta voz do ex-presidenciável Mitt Romney.
Editor da revista conservadora "National Review", Ramesh Ponnuru disse à reportagem que o passado de playboy nova-iorquino o condena só até certo ponto: "Aceitamos convertidos".