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    PERFIL DONALD TRUMP, 70

    Candidato completa sua conversão à direita

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    ENVIADA ESPECIAL A CLEVELAND

    22/07/2016 02h52

    "Trate cada decisão como uma amante", recomenda Donald Trump, em "Pense Como um Bilionário", um de seus muitos livros de autoajuda com verniz executivo.

    Trump, 70, que há anos cortejava a ideia de concorrer à Casa Branca, anunciou 402 dias atrás sua entrada nas prévias republicanas, na Trump Tower de Manhattan.

    Para o evento, ofereceu US$ 50 a figurantes que vestissem a camisa da campanha, com o slogan "Faça a América Incrível de Novo", emulando o usado por Ronald Reagan em 1980.

    Os dias sem quórum ficaram para trás. Trump sai da convenção republicana, encerrada nesta quinta (21), como candidato do partido após derrotar 16 adversários e conquistar mais votos do que qualquer antecessor nesta etapa, quando a legenda elege seu presidenciável: 13,3 milhões, 1,3 milhão a mais do que George W. Bush em 2000.

    Parte da cúpula republicana (a começar pelos Bush) o renega, mas isso não deteve o "trem Trump", como ele chama sua campanha.

    Quem ousou ficar no caminho pagou dividendos eleitorais, como o senador Ted Cruz, vaiado por milhares na convenção por não dar apoio ao ex-rival de prévias. Trump arrebatou a base republicana com um discurso anti-Washington e posições radicais sobre imigração (murar a divisa com o México) e segurança (vetar muçulmanos).

    Vende-se como solução para uma classe média branca espremida pela crise de 2008, ainda sem chão após o colapso da economia do país.

    TV E NEGÓCIOS

    Ex-apresentador de reality show e dono de um império empresarial, Trump coleciona falências –de cassinos à marca de filé com seu nome.

    Ainda assim, explora a imagem de empresário de sucesso para convencer que pode administrar a economia melhor do que ninguém.

    Se vencer a eleição, será o presidente mais rico que o país já teve, com uma fortuna de US$ 10 bilhões, segundo ele, ou US$ 4,5 bilhões, na conta da "Forbes" (nove vezes mais do que tinha, em valores atualizados, o pioneiro no cargo, George Washington, dono de vastas terras).

    Suas credenciais conservadoras, contudo, não preocupam apenas o ex-rival Cruz.

    "Se Trump representa um dedo do meio a um establishment republicano que abandonou seus princípios, não é curioso o partido escolher um homem sem princípios?", diz o articulista do "Washington Post" Charles Krauthammer.

    Protestante, o candidato diz que a Bíblia é seu livro favorito, mas seu estilo de vida faz o eleitorado americano, 25% evangélico, hesitar.

    Casou três vezes e trocou as duas primeiras mulheres por outras mais novas (começou com a ex-modelo tcheca Ivana, 67, e vive hoje com a ex-modelo eslovena Melania, 46, passando pela atriz americana Marla Maples, 52).

    Define mulheres rivais como "canhões" e, sobre Ivanka, disse que a namoraria "se não fosse minha filha".

    Se hoje encampa ideias conservadoras, em 1999 disse ser a favor do direito ao aborto. Em abril, irritou conservadores ao afirmar que a transexual Caitlyn Jenner é bem-vinda no banheiro feminino da Trump Tower.

    Especialistas apostam que o rancor do eleitor contra a democrata Hillary Clinton e políticos tradicionais pesará mais. Conservadores se ressentem de uma oposição republicana, ainda que majoritária no Congresso, considerada tímida contra o "socialista" governo Barack Obama.

    "Não amo tudo o que Trump diz, mas gosto mais dele do que Hillary. Se você quer um candidato com quem concorda 100%, isso não acontece mais", afirmou à Folha Rick Grennel, ex-porta voz do ex-presidenciável Mitt Romney.

    Editor da revista conservadora "National Review", Ramesh Ponnuru disse à reportagem que o passado de playboy nova-iorquino o condena só até certo ponto: "Aceitamos convertidos".

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