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    Plebiscito britânico

    Ex-presidente da Irlanda teme fronteira após saída britânica da UE

    ISABEL FLECK
    DE SÃO PAULO

    23/07/2016 02h00

    Quando Mary Robinson se tornou a primeira mulher presidente da Irlanda, em 1990, a ilha vivia sob o conflito armado no vizinho do norte, que matou mais de 3.500 pessoas em três décadas.

    Hoje, Robinson, 72, vê na decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia uma ameaça ao processo de paz na Irlanda do Norte e a volta de uma "fronteira".

    "Há uma grande preocupação de que isso possa significar, de novo, uma fronteira na nossa ilha. Hoje somos todos parte da União Europeia", disse Robinson, por telefone, à Folha, de Dublin.

    Divulgação/Fundação Mary Robinson
    A ex-presidente da Irlanda Mary Robinson, que vem ao Brasil para o evento Fronteiras do Pensamento
    A ex-presidente da Irlanda Mary Robinson, que vem ao Brasil para o evento Fronteiras do Pensamento

    A ex-presidente -que hoje é enviada especial do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para mudanças climáticas- ressalta que uma nova divisão não é da vontade nem da Irlanda e nem da Irlanda do Norte, que votou para permanecer no bloco europeu.

    "Também estamos preocupados que isso seja prejudicial para o processo de paz na Irlanda do Norte. Sei de muitas pessoas na Irlanda do Norte que estão com medo."

    Para ela, os britânicos não debateram, antes do plebiscito, em junho, um tema fundamental: o real sentido da criação da UE, "que foi trazer paz entre nações em guerra". "O debate foi todo econômico e sobre o medo da imigração."

    Robinson, que vem ao Brasil para o evento Fronteiras do Pensamento, e fará sua palestra na segunda (25) em São Paulo, se mostra preocupada com o impacto do "brexit" também para os migrantes no Reino Unido e no continente.

    "Temos que estar muito mais atentos em administrar bem os fluxos migratórios e preservar os direitos dos refugiados sob a convenção [dos refugiados] e o protocolo [adicional] de 1967", diz.

    A política, que serviu como alta comissária da ONU para os Direitos Humanos entre 1997 e 2002, considera que a resposta europeia à crise dos refugiados está "muito aquém dos padrões de direitos humanos com os quais a Europa está comprometida". "É lamentável ver mortes todos os dias. Todos os países europeus deveriam assumir sua parcela nessa crise", afirma.

    MUDANÇAS CLIMÁTICAS

    Robinson participou ativamente das negociações com 175 países que levaram ao Acordo de Paris, na conferência do clima da ONU em 2015.

    Para ela, o acordo —que estabelece que a temperatura global só poderá subir até um teto de "bem menos" de 2°C, na direção de 1,5°C— não é "forte o suficiente em termos de implementação", o que representará um problema.

    "Mas ele é muito importante por ter estabelecido uma nova e clara meta de reduzir as fontes do aquecimento global e de trabalhar por aumento de temperatura de 1,5ºC."

    A ex-presidente da Irlanda defende que será preciso executar, conjuntamente, as duas grandes agendas acordadas em 2015: o Acordo de Paris e a Agenda 2030, de desenvolvimento sustentável da ONU. "Se falharmos em uma, vamos minar a outra", opina.

    Em termos de compromissos assumidos, ela diz que o Brasil poderia ter ido "além" em sua meta voluntária, "como outros países".

    "É preciso, por exemplo, que o Brasil vá o mais longe possível em energias renováveis", diz. "Mas uma coisa importante é que o país está comprometido em implementar a contribuição com respeito aos direitos humanos, sobretudo de populações indígenas."

    Robinson, que também se tornou voz importante na luta pela igualdade de gênero, celebra a maior presença de mulheres em postos de comando, como Angela Merkel na Alemanha e Theresa May no Reino Unido.

    "Seria muito bom para o mundo ter uma mulher também como secretaria-geral da ONU e uma mulher presidente dos EUA."

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